Expertise em projeto: como conhecimentos, experiências e habilidades diferenciam arquitetos expertos dos novatos

Autores

  • Wilson Florio Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Engenharia Civil Arquitetura e Urbanismo.
  • Rafael Peres Mateus

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2317-2762.v20i34p60-81

Palavras-chave:

Cognição em projeto. Expertise. Croqui de concepção. Conhecimento. Habilidade. Arquitetos (prática).

Resumo

A análise do processo de projeto, sob a teoria cognitiva, propõe o entendimento das atividades mentais internas, a partir do processamento de informações oriundos dos conhecimentos, das experiências e das habilidades do arquiteto. Embora seja difícil rastrear as fontes dos pensamentos dos arquitetos, os desenhos produzidos por eles permitem identificar as sucessivas aproximações realizadas, durante a elaboração de um projeto. Como a cognição, ou o ato de pensar, em si, não pode ser observado, só nos compete analisar os resultados do pensamento que norteou as ações cognitivas. As etapas da pesquisa realizada pelos autores deste artigo foram as seguintes: 1) três arquitetos experientes e três novatos foram filmados, individualmente, durante 60 minutos, realizando um projeto; 2) estes profissionais foram entrevistados por trinta minutos após o término do projeto; 3) as ações cognitivas físicas, perceptivas, funcionais e conceituais foram identificadas a partir da segmentação e da codificação das ações realizadas durante as filmagens; 4) estes dados foram transpostos em gráficos 5) foram identificadas diferenças entre novatos e expertos, a partir do tempo de reposta em cada um dos quatro níveis de ações cognitivas; 6) a análise qualitativa das ações e a eficácia foram avaliadas. É notável como arquitetos experientes recuperam mais rapidamente da memória conhecimentos específicos e, a partir de poucos indícios, identificados nos croquis de concepção, selecionam, combinam e geram diferentes ideias, durante o ato projetual. Isso ocorre porque os conhecimentos codificados, de situações típicas, lhes permitem tomar decisões melhor alicerçadas e com maior rapidez. Expertise é a faculdade humana que permite realizar operações diárias de pensamento e ação, com qualidade, agilidade e vigor. É considerado experto aquele que desempenha uma tarefa de um modo significativamente melhor do que a maioria das pessoas. Concluiu-se que arquitetos expertos realizam projetos com maior desenvoltura do que os novatos não apenas porque têm maiores conhecimentos e experiências, mas porque utilizam ações cognitivas de um modo mais eficaz. O artigo contribui para o debate sobre a prática de projeto e os fatores que contribuem para o desenvolvimento da expertise em Arquitetura.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Wilson Florio, Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Engenharia Civil Arquitetura e Urbanismo.
    Arquiteto e urbanista (FAU Mackenzie), doutor em Arquitetura e Urbanismo (FAUUSP). É professor adjunto na FAU Mackenzie e na Unicamp. Leciona as disciplinas de Projeto e Informática Aplicada na graduação, e Criatividade e Cognição na pós-graduação. Possui pesquisas financiadas pelo CNPq, Finep e Fapesp.
  • Rafael Peres Mateus
    Arquiteto e urbanista (FAU Mackenzie), mestre em Artes (Unicamp). Bolsista da Fapesp (2009-2012). Atualmente atua como arquiteto na cidade de Santos.

Referências

AKIN, Ömer. Psychology of architectural design. London: Pion Limited, 1986. 196 p.

ANDERSON, John R. Cognitive Psychology and its implications. 6thed. New York: Worth Publishers, 2005. 519 p.

CASAKIN, Hernan; GOLDSMITH, Gabriela. Expertise and the use of visual analogy: implications for design education. Design Studies, v. 20, n. 2, p. 153–175, 1999.

CHI, Michelene T. H.; GLASER, Robert; FARR, Marshall J. (Ed.). The nature of expertise. Hillsdale: Lawrence Erlbaum Associates, 1988. 472 p.

ERICSSON, Karl A.; SMITH, Jacqui. (Ed.). Toward a general theory of expertise: prospects and limits. Cambridge: Cambridge University Press, 1991. 344 p.

ERICSSON, Karl. A.; SIMON, Herbert. A. Protocol analysis: verbal reports as data. Cambridge: MIT Press, 1993. 443 p.

HITCHCOCK, Henry-Russell. The evolution of wright. Mies & Le Corbusier. Perspecta, v. 1, p. 8-15, 1952.

KAVAKLI, Manolya et.al. Sketching interpretation in novice and expert designers. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON VISUAL & SPATIAL REASONING IN DESIGN, 1999. Proceedings... Cambridge: MIT, 1999, p. 209-2119.

KAVAKLI, Manolya; GERO John. Sketching as mental imagery processing. Design Studies, v. 22, n. 4, p. 347–364, 2001a.

KAVAKLI, Manolya; GERO John. Strategic knowledge differences between an expert and a novice. In: STRATEGIC KNOWLEDGE AND CONCEPT FORMATION, 3., 2001. Proceedings … GERO, John S. and HORI, K. (Ed.). Sidney: University of Sydney, 2001b, p. 55-68.

LAWSON, Bryan. How designers think. London: The Architectural Press, 1983. 318 p.

LAWSON, Bryan; DORST, Kees. Design expertise. Oxford: Architectural Press; Elsevier, 2009. 321 p.

MAHFUZ, Edson da C. Ensaio sobre a razão CoObrigadampositiva. Viçosa, Belo Horizonte: AP Cultural, 1995. 176 p.

NEWELL, Allen; SIMON, Herbert A. Human problem solving. Englewood Cliffs, NJ: Prentice Hall, 1972. 920 p.

OXMAN, Rivka. Prior Knowledge in design: a dynamic knowledge-based model of design and creativity. Design Studies, v. 11, n. 1, p. 17-27, 1990.

OXMAN, Rivka.. Precedents in design: a computational model for the organization of precedent knowledge. Design Studies, v. 15, n. 2, p. 141-157, 1994.

OXMAN, Rivka; OXMAN, Robert M. Refinement and adaptation in design cognition. Design Studies, v. 13, n. 2, p. 117-134, 1992.

PATON, Bec; DORST, Kees. Briefing and reframing: a situated practice. Design Studies, v. 32, n. 6, p. 573-589, 2011.

SCHÖN, Donald. Educando o profissional reflexivo: um novo design para o ensino e a aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. 256 p.

SIMON, Herbert A. The sciences of the artificial. 3rd ed. Massachusetts: MIT Press, 1996. 231 p.

SIMON, Herbert A. Structure of ill-structured problems. Artificial Intelligence, v. 4, p. 181-201, 1972.

SIMON, Herbert A. Invariants of Human Behavior. Annual Review Psychology, v. 41, p. 1-20, 1990. SUWA, Masaki; PURCELL, Terry; GERO, John. Macroscopic analysis of design processes based on a Scheme for Coding Designers’ Cognitive Actions. Design Studies, v. 19, n. 4, p. 455-483, 1998.

SUWA, Masaki; TVERSKY, Barbara. What do architects and students perceive in their design sketches? A protocol analysis. Design Studies, v. 18, n. 4, p. 385-403, 1997.

WEISBERG, Robert W. Creativity: understanding innovation in problem solving, science, invention, and the arts. New Jersey: John Wiley & Sons, 2006. 640 p.

Downloads

Publicado

2013-12-30

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Expertise em projeto: como conhecimentos, experiências e habilidades diferenciam arquitetos expertos dos novatos. (2013). PosFAUUSP, 20(34), 60-81. https://doi.org/10.11606/issn.2317-2762.v20i34p60-81