Comunidades de mulheres ceramistas e a longa trajetória de itinerância da cerâmica paulista

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2448-1750.revmae.2020.166053

Palavras-chave:

arqueologia, cerâmica colonial, gênero, Tupi, pós-colonialismo

Resumo

A Cerâmica Paulista resultou da conexão de tecnologias, práticas, significados e memórias. Ela foi produzida inicialmente pelas tupiniquins, em uma aliança com os portugueses na área de São Vicente e continuada por diversas gerações de mulheres, incluindo as que vieram de fora. No contexto dessas relações, materialidades e alimentos foram usados, apropriados e transformados, através de escolhas que entrelaçaram tecnologias antigas com novidades e mudanças culturais e identitárias. O exame de vasilhas inteiras, de fragmentos e dados publicados, mostra que a Cerâmica Paulista foi produzida desde o século XVI com algumas variações. A persistência das comunidades de práticas levou adiante maneiras de fazer e usar vasilhas cerâmicas, moldando valores e relações sociais que definiram a identidade Paulista.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Francisco Silva Noelli, Universidade de Lisboa. Centro de Arqueologia

    Doutorando em Arqueologia e Pesquisador no Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa (Uniarq), Portugal

  • Marianne Sallum, Universidade de São Paulo. Museu de Arqueologia e Etnologia da USP (MAE/USP). Laboratório Interdisciplinar de Pesquisas em Evolução, Cultura e Meio Ambiente

    Pós-doutoranda do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisas em Evolução, Cultura e Meio Ambiente (Levoc) do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE-USP), Brasil. Pesquisadora no Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa (Uniarq), Portugal

Referências

Agostini, C. 2010. Panelas e paneleiras de São Sebastião: um núcleo produtor e a dinâmica social e simbólica de sua produção nos séculos XIX e XX. Vestígios: Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica 4(2): 127-144.

Almeida Prado, J.F. 1961. São Vicente e as capitanias do Sul do Brasil: as origens (1501-1531). Companhia Editora Nacional, São Paulo.

Almeida, F.O. 2015. A arqueologia dos fermentados: a etílica história dos Tupi-Guarani. Estudos Avançados 29(83): 87-118.

Anchieta, J. 1595. Arte de gramática da lingoa mais vsada na costa do Brasil. António de Mariz, Coimbra.

Anchieta, J. 1933. Padre Diogo Jácome. In: Anchieta, J. Cartas, informações, fragmentos históricos e sermões. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 482-484.

Anchieta, J. 1958. Carta ao padre Diego Laynes. Roma, São Vicente, 1 de junho de 1560. Monumenta Brasiliae 3: 246-269.

Anônimo. 1956. Extrato do alvará da mercê à igreja de São Vicente, Capitania de São Vicente. Lisboa, 20 de fevereiro de 1553. In: Cortesão, J. (Ed). Pauliceae Lusitana Monumenta Histórica, Real Gabinete Português de Leitura no Rio de Janeiro, Lisboa, 1 (1494-1600), partes V-VIII, 337.

Anônimo. 1968. Carta. Santos, 13 de maio de 1548. In: Stol. E. Um dos primeiros documentos sobre o engenho dos Schetz em São Vicente. Revista de História 37(76): 407-420.

Appadurai, A. 1986. Introduction: Commodities and the Politics of Value. In: Appadurai, A. The Social Life of Things: Commodities in Cultural Perspective. Cambridge: Cambridge University Press. 3–63.

Brancante, E. 1981. O Brasil e a cerâmica antiga. Lythographica Ypiranga, São Paulo.

Brochado, J.P. 1991. What did the Tupinambá cook in their vessels? A humble contribution to ethnographic analogy. Revista de Arqueologia 6: 40-88.

Bruno, E.S. 2001. Equipamentos, Usos e Costumes da Casa Brasileira, 5 vols. Editora da Universidade de São Paulo, São Paulo.

Bugalhão, J.; Coelho, I. 2017. Cerâmica moderna de Lisboa: proposta tipológica. In: Caessa, A. et al. (Eds). I Encontro de Arqueologia de Lisboa: uma cidade em escavação. CAL/DPC/DMC/CML, Lisboa, 106-145.

Calaresi, A.C.M.A. 2014. Argila: matéria-prima para cerâmica popular – Três casos: Rio Real (BA), Apiaí (SP) e Taubaté (SP). Tese de doutorado. Universidade de São Paulo, São Paulo.

Câmara Municipal de São Paulo. 1915. Conserto que fizeram os oficiais da câmara com Fernão Dalves para fazer o pelourinho. São Paulo, 23 de maio de 1610. Atas da Câmara Municipal de São Paulo 2: 268-269.

Câmara Municipal de São Paulo. 1967. Obrigação de Cristóvão Gonçalvez para fazer telhas para esta vila. São Paulo do Campo, 6 de março de 1575. Atas da Câmara Municipal de São Paulo 1(2): 66-66.

Cardim, F. 1937. Tratado da terra e gente do Brasil. Companhia Editora Nacional, São Paulo.

Carneiro da Cunha. M.; Viveiros de Castro, E. 1985. Vingança e temporalidade: os Tupinambá. Journal de la Société des Américanistes 71: 191-208.

Cerávolo, M.V.N. 1988. Cerâmica de Apiaí: momentos de uma pesquisa em arte popular. Cerâmica 34(217): 15.

Cipolla, C. 2017. Indigenous people and foreign objects: rethinking consumption in American archaeology. In: Cipolla, C. (Ed). Foreign objects: rethinking indigenous consumption in American Archaeology. University of Arizona Press, Tucson, 3-25.

Corrêa, A. 2014. Pindorama de Mboia e Iakaré: continuidade e mudança na trajetória das populações Tupi. Tese de doutorado. Universidade de São Paulo, São Paulo.

Costa, B. 2014. A Cerâmica Preta do Mosteiro de São João de Tarouca. Dissertação de mestrado. Universidade Nova de Lisboa, Lisboa.

Costa, D. 1556. Carta ao Rei. Salvador, 03 de abril de 1555. In: Cortesão, J. (Ed). Pauliceae Lusitana Monumenta Histórica, Real Gabinete Português de Leitura no Rio de Janeiro, Lisboa, 1 (1494-1600), partes V-VIII, 338-343.

Dória, C.A., Bastos, M.C. 2018. A culinária caipira da Paulistânia. Três estrelas, São Paulo.

Fernandes, F. 1975. Estudos de etnologia e outros ensaios. Vozes, Petrópolis.

Fernandes, I. 2012. A loiça preta em Portugal: estudo histórico, modos de fazer e de usar. Tese de doutorado. Universidade do Minho, Braga.

Ferreira, M.M.N. 1998. As cerâmicas medievais/modernas do Abrigo da Pena d’Água (Torres Novas). Revista Portuguesa de Arqueologia 1(2): 97-106.

Goldman, M. 2017. Contradiscursos Afroindígenas sobre Mistura, Sincretismo e Mestiçagem Estudos Etnográficos. Revista de Antropologia da UFScar, 9(2): 11–20.

Gosselain, E.M. 1876. Documents authentiques et inédits pour servir à l’histoire de la marine Normande et du commerce rouennais pedant les XVIe et XVIIe siégles. Imprimerie de Henry Boissel, Rouen, 37-40.

Hayes, K. 2011. Occulting the past. Conceptualizing forgetting in the history and archaeology of Sylvester Manor. Archaeological Dialogues, 18(2): 197–221.

Jácome, D. 1956. Carta de São Vicente, junho de 1551. In: Leite, S. (Ed). Monumenta Brasilie. ARSI, Roma, 1, 238-247.

Jones, S. 1997. The archaeology of ethnicity : constructing identities in the past and present. Routledge, London.

Joyce, R.D.; Gillespie, S.D. 2015. Making things out of objects that move. In: Joyce, R.D.; Gillespie, S.D. (Eds). Things in motion: objects itineraries in anthropological practice. School for Advanced Research Press, New Mexico, 3-21.

Lagrou, E. 2013. No caminho da miçanga: arte e alteridade entre os ameríndios. Enfoques – Revista dos Alunos do PPGSA-UFRJ 12(1): 18-49.

Lagrou, E. 2016. No caminho da miçanga: um mundo que se faz de contas. Museu do Índio, Rio Janeiro, 10-15. Catálogo de exposição.

Leite, F. 2013. A língua geral paulista e o “vocabulário elementar da língua geral brasílica”. Dissertação de mestrado. Universidade Estadual de Campinas, Campinas.

Lima, M.R.M. 2007. A fotografia como instrumento da documentação e preservação da memória: arte e sobrevivência no Alto Vale do Ribeira. Dissertação de mestrado. Pontifícia Universidade Católica, São Paulo.

Machado, A. 2013. Vida e morte do bandeirante. Senado Federal, Brasília.

Magrini, A. 2019. Lá no Alto, o barro é encantado: a cerâmica do Alto Vale do Ribeira. Dissertação de mestrado. Universidade Estadual Paulista, São Paulo.

Monteiro, J.M., 2001. Tupis, Tapuias e Historiadores: Estudos de História Indígena e do Indigenismo. Tese de livre-docência. Universidade Estadual de Campinas, Campinas.

Morales, W. 2001. A cerâmica “neo-brasileira” nas terras paulistas: um estudo sobre as possibilidades de identificação cultural através dos vestígios materiais na vila de Jundiaí do século XVIII. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia 11: 165-187.

Munsberg, S.E.R. 2018. Dos seiscentos aos oitocentos: estudo da variabilidade estilística da cerâmica durante os processos de construção e reconfiguração das identidades paulistanas. Dissertação de mestrado. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

Nascimento, H. 1986. Cerâmica folclórica em Apiaí. Revista do Arquivo Municipal 186: 45-121.

Nazaré, M. 2013. Cerâmicas medievais de Santa Olaia (Figueira da Foz) depositadas no Museu Municipal Dr. Santos Rocha. Dissertação de mestrado. Universidade de Coimbra, Coimbra.

Noelli, F.S.; Brochado, J.P. 1998. O cauim e as beberagens dos Guarani e Tupinambá: equipamentos, técnicas de preparação e consumo. Revista do Museu de Arqueologia e Enologia 8: 117-128.

Noelli, F.S.; Sallum, M. 2019. A Cerâmica Paulista: cinco séculos de persistência de práticas Tupiniquim em São Paulo e Paraná, Brasil. Mana: Estudos de Antropologia Social 25(3): 701-742. Disponível em: <https://bit.ly/33cZ2sj>. Acesso em: 30/07/2020.

Panich, L.; Allen, R.; Galvan, A. 2018. The archaeology of Native American persistence at mission San José. Journal of California and Great Basin Anthropology 38(1): 11-29.

Panich, L.M. 2020. Narratives of persistence indigenous negotiations of colonialism in Alta and Baja California. The University of Arizona Press, Tucson.

Pazzarelli, F.; Salma, J.F.; Hirose, M.B. 2017. (Contra) Mestiçagens Ameríndias e Afro-ameríndias. Revista de Antropologia da UFSCAR, 9(2):9-10.

Perrone-Moisés, B. 2014. Performed alliances and performative identities Tupinambá in the Kingdom of France. In: Graham, L. (Ed). Performing Indigeneity. Global histories and Contemporary Experiences. University of Nebraska Press, Lincoln, 110-135.

Rabello, E.D.N. 1977. Os Ofícios Mecânicos e artesanatos em São Paulo na segunda metade do século XVIII. Revista de História 112: 575-588. Disponível em: https://bit.ly/3f9pt4I>. Acesso em: 30/07/2020.

Ribeiro, L.; Jácome, C. 2014. Tupi ou não Tupi? Predação material, ação coletiva e colonialismo no Espírito Santo, Brasil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, Ciências Humanas 9(2): 465-486.

Roddick, A.P.; Stahl, A.B. 2016. Introduction: knowledge in motion. In: Roddick, A.P.; Stahl, A.B. (Eds). Knowledge in motion: constellations of learning across time and place. University of Arizona Press, Tucson, 3-35.

Sagan, C. 1995. The Demon-Haunted World: Science as a Candle in the Dark. Random House, Nova York.

Sallum, M. 2018. Colonialismo e ocupação tupiniquim no litoral sul de São Paulo: uma história de persistência e prática cerâmica. Tese de doutorado. Universidade de São Paulo, São Paulo. Disponível em: <https://bit.ly/3fnoBK1>. Acesso em: 30/07/2020.

Sallum, M.; Noelli, F.S. 2020. An archaeology of colonialism and the persistence of women potters’ practices in Brazil: from Tupiniquim to Paulistaware. International Journal of Historical Archaeology. Disponível em: <https://bit.ly/3hNBj64>. Acesso em: 30/07/2020.

Sallum, M. et al. 2018. Estudos de pigmento, pasta e vestígios químicos de cerâmica associados aos povos Tupi do sítio Gramado (Brotas, São Paulo – Brasil). Cadernos do Lepaarq 15(30): 191-218. Disponível em: <https://bit.ly/3fgnxao>. Acesso em: 30/07/2020.

Santa Cruz, A. 1918. Islario general de todas las islas del mundo. Imprenta del Patronato de Huérfanos de Intendencia e Intervención Militares, Madrid.

Scheuer, H.L. 1967. Estudo de um núcleo de cerâmica popular. Arquivos do Museu Paranaense, Curitiba.

Scheuer, H.L. 1976. Estudo da cerâmica popular do Estado de São Paulo. Conselho Estadual de Cultura, São Paulo.

Scheuer, H.L. 1982. A Tradição da cerâmica popular. Escola de Folclore Livramento, São Paulo.

Sheridan, K. 2018. A century of ceramics: a study of household practices on the eastern pequot reservation. Dissertação de mestrado. University of Massachusetts, Boston.

Silliman, S. 2009. Change and continuity, practice and memory: Native American persistence in colonial New England. American Antiquity 74(2): 211-230.

Silliman, S. 2015. A requiem for hybridity? The problem with Frankenstein, purées, and mules. Journal of Social Archaeology 15(3): 1-22.

Silliman, S. 2020. Colonialism in Historical Archaeology. In: ORSER, C. E. et al. (Eds.). Handbook of Global Historical Archaeology. The Routledge, London.

Sousa, P.L. 1994. Diário da navegação de Pero Lopes de Sousa (1530-1532). In: Guirado, M.C. Relatos do descobrimento do Brasil: as primeiras reportagens. Instituto Piaget, São Paulo.

Sousa, T. 1956. Carta a D. João III. Salvador, 1 de junho de 1553. Monumenta Brasiliae 1: 483-487.

Souza, J. F. 2015. Artesanato e design: identidade e mercado – A produção cerâmica no Vale do Ribeira/SP. Trabalho de conclusão de curso. Universidade de São Paulo, São Paulo.

Staden, H. 1974. Duas viagens ao Brasil. Itatiaia, Belo Horizonte; Edusp, São Paulo.

Tiburtius, G. 1968. Ältere Hauskeramik aus der umgebung von Curitiba, Paraná. Südbrasilien. Anthropos 63/64(1/2): 49-74.

Viveiros de Castro, E. 1992. O mármore e a murta: sobre a inconstância da alma selvagem. Revista de Antropologia 35: 21-74.

Viveiros de Castro, E. 2004. Exchanging perspectives: the transformation of objects into subjects in Amerindian ontologies. Common Knowledge 10(3): 463-484.

Waldeck, G. 2014. De “luta do barro”, “isso do barro”, “nesse serviço” à cerâmica de Apiaí. Textos Escolhidos de Cultura e Arte Populares 11(1): 107-128.

Wendrich, W. 2012. Archaeology and apprenticeship: body knowledge, identity, and communities of practice. In: Wendrich, W. (Ed). Archaeology and apprenticeship, body knowledge, identity, and communities of practice. The University of Arizona Press, Tucson, 1-19.

Wenger, E. 1998. Communities of practice: learning, meaning, and identity. Cambridge University Press, Cambridge.

Zanettini, P. 2005. Maloqueiros e seus palácios de barro: o cotidiano doméstico na casa bandeirista. Tese de doutorado. Universidade de São Paulo, São Paulo.

Zanettini, P.; Wichers, C.M. 2009. A cerâmica de produção local/regional em São Paulo colonial. In: Morales, W.F.; Moi, F.P. (Orgs.). Cenários regionais em arqueologia brasileira. Annablume, São Paulo, 311-334.

Downloads

Publicado

2020-06-30

Dados de financiamento

Como Citar

NOELLI, Francisco Silva; SALLUM, Marianne. Comunidades de mulheres ceramistas e a longa trajetória de itinerância da cerâmica paulista. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, Brasil, v. 34, n. 34, p. 132–153, 2020. DOI: 10.11606/issn.2448-1750.revmae.2020.166053. Disponível em: https://revistas.usp.br/revmae/article/view/166053.. Acesso em: 26 dez. 2024.