Comunidades de mulheres ceramistas e a longa trajetória de itinerância da cerâmica paulista
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2448-1750.revmae.2020.166053Palavras-chave:
arqueologia, cerâmica colonial, gênero, Tupi, pós-colonialismoResumo
A Cerâmica Paulista resultou da conexão de tecnologias, práticas, significados e memórias. Ela foi produzida inicialmente pelas tupiniquins, em uma aliança com os portugueses na área de São Vicente e continuada por diversas gerações de mulheres, incluindo as que vieram de fora. No contexto dessas relações, materialidades e alimentos foram usados, apropriados e transformados, através de escolhas que entrelaçaram tecnologias antigas com novidades e mudanças culturais e identitárias. O exame de vasilhas inteiras, de fragmentos e dados publicados, mostra que a Cerâmica Paulista foi produzida desde o século XVI com algumas variações. A persistência das comunidades de práticas levou adiante maneiras de fazer e usar vasilhas cerâmicas, moldando valores e relações sociais que definiram a identidade Paulista.
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