Estudo sobre as características da dor em pacientes com lesão medular
DOI:
https://doi.org/10.5935/0104-7795.20120027Palavras-chave:
Atividades Cotidianas, Dor/complicações, Traumatismos da Medula EspinalResumo
Além da perda da funcionalidade após a lesão medular (LM), a dor é tida como uma das principais complicações mais incapacitantes e vivenciadas no processo de reabilitação, mesmo com o avanço significativo na compreensão da fisiopatologia e tratamento da dor, a abordagem desse sintoma ainda é precária na lesão medular. Objetivo: Descrever as características do quadro álgico nessa população e associar a dor com o tipo de lesão, interferência nas atividades de vida diária (AVD’s) e o seu aparecimento. Método: Trata-se de estudo transversal com um roteiro de entrevista semiestruturado aplicado a 77 pacientes. Foram calculadas a média e desvio padrão, frequências absolutas e relativas, para a associação entre as variáveis qualitativas foi utilizado teste Qui-quadrado (χ²). Resultados: A idade foi de 38,26 ± 12,43 anos, sendo 84,4% homens e 80,5% de paraplégicos. Trinta e um foram por acidente automobilístico e 29 por ferimento de arma de fogo, sendo 61,0% com lesão medular completa. Quanto à dor, 44,2% relataram dor severa e 29,8% a moderada, em 50,6% não sentiam dor acima da lesão e 58,4% sentiam-na abaixo. Trinta e nove relataram sentir dor em queimação, 40,0% relataram que a dor surgiu no primeiro ano após a LM. A intensidade da dor foi de 5,44 ± 3,18 pontos, sendo 5,20 ± 3,07 nos homens, 6,75 ± 3,54 nas mulheres, 4,13 ± 3,18 nos tetraplégicos e 5,76 ± 3,12 nos paraplégicos. Para 27 pacientes a dor piorou permanecendo na mesma posição, para 22 melhorou realizando fisioterapia e para 21 com a mudança de posição. Para 68,8% a dor não interferiu nas AVD’s. Vinte e oito utilizaram medicação analgésica. Houve associação significativa de que a presença de dor abaixo da lesão interfere nas AVD’s (p = 0,04) e surge no primeiro ano após a lesão acima e abaixo da lesão (p = 0,05 e p = 0,01), respectivamente. Conclusão: A dor foi prevalente nos lesados medulares, mais evidenciada nas mulheres e na maioria surgiu no primeiro ano após a lesão e interfere AVD’s. A fisioterapia e a mudança de posição diminuíram a dor. Portanto, as orientações e intervenções por parte da equipe multiprofissional devem ser imediatas após a lesão, pois a prevenção ou diminuição desta complicação refletirá na melhoria da qualidade de vida e na readaptação do paciente à sua vida familiar e social.
Downloads
Referências
Magalhães MO, Souza ANB, Costa LOP, Pinto DS. Avaliação em pacientes com traumatismo raquimedular: um estudo descritivo e transversal. Con Scient Saúde. 2011;10(1):69-76.
Janahú LTA, Neves LMT, Silve MC, Oliveira IS. Trauma raquimedular: perfil epidemiológico dos pacientes atendidos no Pronto Socorro Municipal Mário Pinotti nos anos de 2003 à 2005. Fisioterapia Ser. 2009;4(4):246-49.
Vall J, Braga VAB, Almeida PC. Estudo da qualidade de vida em pessoas com lesão medular traumática. Arq Neuropsiquiatr. 2006;64(2-B):451-55.
Heutink M, Post MW, Bongers-Janssen HM, Dijkstra CA, Snoek GJ, Spijkerman DC, et al. The CONECSI trial: results of a randomized controlled trial of a multidisciplinary cognitive behavioral program for coping with chronic neuropathic pain after spinal cord injury. Pain. 2012;153(1):120-8.
Furlan JC, Noonan V, Singh A, Fehlings MG. Assessment of impairment in patients with acute traumatic spinal cord injury: a systematic review of the literature. J Neurotrauma. 2011;28(8):1445-77.
França ISX, Coura AS, França EG, Basílio NNV, Souto RQ. Qualidade de vida de adultos com lesão medular: um estudo com WHOQOL. Rev Esc Enfer USP. 2011;45(6):1364-71.
Finnerup N B, Baastrup C. Spinal cord injury pain: mechanisms and management. Curr Pain Headache Rep. 2012;16(3):207-16.
Kohout RK, Saunders LL, Krause JS. The relationship between prescription medication use and ability to ambulate distances after spinal cord injury. Arch Phys Med Rehabil. 2011;92(8):1246-9.
Bampi LNS, Guilhem D, Lima DD. Qualidade de vida em pessoas com lesão medular traumática: um estudo com o WHOQOL-bref. Rev Bras Epidemiol. 2011;11(1):67-77.
Brunozi AE, Silva AC, Gonçalves LF, Veronezi RJB. Qualidade de vida na lesão medular traumática. Rev Neurocienc. 2011;19(1):139-44.
Jensen MP, Widerström-Noga E, Richards JS, Finnerup NB, Biering-Sørensen F, Cardenas DD. Reliability and validity of the International Spinal Cord Injury Basic Pain Data Set items as self-report measures. Spinal Cord. 2010;48(3):230-8.
Miguel M, Kraychete DV. Dor no paciente com lesão medular: uma revisão. Rev Bras Anestesiol. 2009;59(3):350-7.
Machesini PR, Rendic XG, Velenzuela P, Salas FL, Mujica AB. Dolor em lesionados medulares. Ciência & Trabajo. 2004;6(12):73-8.
Siddall PJ. Management of neuropathic pain following spinal cord injury: now and in the future. Spinal Cord. 2009;47(5):352-9.
Wardell DW, Rintala DH, Duan Z, Tan G. A pilot study of healing touch and progressive relaxation for chronic neuropathic pain in persons with spinal cord injury. J Holist Nurs. 2006;24(4):231-40.
Felix ER, Cruz-Almeida Y, Widerström-Noga EG. Chronic pain after spinal cord injury: what characteristics make some pains more disturbing than others? J Rehabil Res Dev. 2007;44(5):703-15.
Calmels P, Mick G, Perrouin-Verbe B, Ventura M. Neuropathic pain in spinal cord injury: identification, classification, evaluation. Ann Phys Rehabil Med. 2009;52(2):83-102.
Modirian E, Pirouzi P, Soroush M, Karbalaei-Esmaeili S, Shojaei H, Zamani H. Chronic pain after spinal cord injury: results of a long-term study. Pain Med. 2010;11(7):1037-43.
Dijkers M, Bryce T, Zanca J. Prevalence of chronic pain after traumatic spinal cord injury: a systematic review. J Rehabil Res Dev. 2009;46(1):13-29.
Budh CN, Osteråker AL. Life satisfaction in individuals with a spinal cord injury and pain. Clin Rehabil. 2007;21(1):89-96.
Palmeira CCA, Ashmawi HA, Posso IP. Sexo e percepção da dor e analgesia. Rev Bras Anestesiol. 2011;61(6):814-28.
D'Mello R, Dickenson AH. Spinal cord mechanisms of pain. Br J Anaesth. 2008;101(1):8-16.
Fornasari D. Pain mechanisms in patients with chronic pain. Clin Drug Investig. 2012;32 Suppl 1:45-52.
Vall J, Costa CMC, Santos TJT, Costa SBC. Neuropathic pain characteristics in patients from Curitiba (Brazil) with spinal cord injury. Arq Neuropsiq. 2011;69(1):64-8.
Widerström-Noga EG, Cruz-Almeida Y, Feliz ER, Adcock AD. Relationship between pain characteristics and pain adaptation type in persons with SCI. J Rehab Res Develop. 2009;46(1):43-56.
Freitas CC, Vieira PR, Torres GVB, Pereira CRA. Avaliação da dor com o uso das escalas unidimensionais. Rev Dor. 2009;10(1):56-62.
Marotti J, Galhardo APM, Furuyama RJ, Pigozzo MN, Campos TN, Laganá DC. Amostragem em pesquisa clínica: tamanho da amostra. Rev Odontol Univers Cidade São Paulo. 2008;20(2):186-94.
Instituto de Geografia e Estatística. Censo demográfico e contagem [texto na Internet]. Rio de Janeiro: IBGE; [citado 2011 Dez 1]. Disponível em: http://www.ibge.gov.com.br/home/estatística/populacao/censo2000/populacao/censo2000/populacao.pdf
Franzoi AC, Baptista AL, Carvalho AM. Perfil funcional de locomoção em um grupo de pacientes com lesão medular atendidos em um centro de reabilitação. Coluna/Columna. 2009;8(4):401-7.
Custódio NRO, Carneiro MS, Feres CC. Lesão medular no Centro de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (CRER-GO). Coluna/Columna. 2009;8(3):265-68.
Garanhani MR, Ferreira AMDM, Silva CK. Perfil sociodemográfico dos indivíduos com lesão medular atendidos no ambulatório de fisioterapia de um hospital universitário. Rev Esp Saúde. 2009;11(1):48-52.
Yezierski RP. Spinal cord injury pain: spinal and supraspinal mechanisms. J Rehabil Res Dev. 2009;46(1):95-107.
Ravenscroft A, Ahmed YS, Burnside IG. Chronic pain after SCI. A patient survey. Spinal Cord. 2000;38(10):611-4.
Werhagen L, Budh CN, Hultling C, Molander C. Neuropathic pain after traumatic spinal cord injury-relations to gender, spinal level, completeness, and age at the time of injury. Spinal Cord. 2004;42(12):665-73.
Ullrich PM, Jensen MP, Loeser JD, Cardenas DD. Pain intensity, pain interference and characteristics of spinal cord injury. Spinal Cord. 2008;46(6):451-5.
Sawatzky B, Bishop CM, Miller WC; SCIRE Research Team.Classification and measurement of pain in the spinal cord-injured population. Spinal Cord. 2008;46(1):2-10.
Norrbrink Budh C, Lund I, Ertzgaard P, Holtz A, Hultling C, Levi R, et al. Pain in a Swedish spinal cord injury population. Clin Rehabil. 2003;17(6):685-90.
Cruz-Almeida Y, Martinez-Arizala A, Widerström-Noga EG. Chronicity of pain associated with spinal cord injury: a longitudinal analysis. J Rehabil Res Dev. 2005;42(5):585-94.
Larsson M, Broman J. Synaptic plasticity and pain: role of ionotropic glutamate receptors. Neuroscientist. 2011;17(3):256-73.
Goossens D, Dousse M, Ventura M, Fattal C. Chronic neuropathic pain in spinal cord injury patients: what is the impact of social and environmental factors on care management? Ann Phys Rehabil Med. 2009;52(2):173-9.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2012 Acta Fisiátrica
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.