“Se a história é nossa, a memória nos pertence”: desafios e contribuições do Memorial Brumadinho para as Museologias Comunitárias
DOI:
https://doi.org/10.11606/1982-02672025v33e23Palavras-chave:
Museologia, Museologias Comunitárias, Brumadinho, Tragédia-crime, Memorial BrumadinhoResumo
Este artigo analisa a trajetória do Memorial Brumadinho, criado em decorrência do rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, da mineradora Vale, em Brumadinho, Minas Gerais, que ocasionou um dos maiores crimes-tragédias socioambientais do país. O objetivo é compreender a concepção e a luta pela gestão do memorial, a partir das articulações da Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão – Brumadinho (Avabrum). Apresenta alguns desafios e contribuições dos memoriais de vítimas e atingidos por crimes-tragédias para as Museologias comunitárias e para as disputas sobre memória, reparação e pertencimento. A partir de uma metodologia qualitativa, privilegia o estudo de caso por meio de pesquisa bibliográfica e análise documental. Para tanto, mobiliza fontes diversas, a exemplo de bibliografia especializada, matérias jornalísticas, laudos técnicos, publicações em sites e redes sociais da Avabrum, além de visitas ao memorial e participação em audiências públicas. O intuito foi demonstrar a importância de relativizar e problematizar os conceitos e, ao mesmo tempo, de perceber os processos museológicos como ficções e fricções em constantes adaptações, reinvenções e atravessamentos.
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