Elites locais, dominação social e invisibilidades: a construção da memória oficial no Museu Histórico Municipal de Palmas (PR)
DOI:
https://doi.org/10.11606/1982-02672025v33e26Palavras-chave:
Memória, Elites, Museus, Dominação Social, Consagração Social, InvisibilidadesResumo
Os museus são instâncias autorizadas a produzir e a projetar representações “legítimas” acerca do passado, dos grupos sociais e dos personagens históricos. Este artigo analisa o processo de construção e representação da memória oficial no Museu Histórico Municipal Professor José Alexandre Vieira, criado em 1979 e localizado no município de Palmas (PR). De modo especial, o artigo analisa a representação oficial acerca da contribuição dos distintos grupos sociais – agrupamentos étnico-raciais, famílias, classe política dirigente, segmentos econômicos etc. – para a formação sócio-histórica do município, o lugar que ocupam no espaço museal e a relevância para a história local que adquirem na narrativa veiculada pelo museu. Em termos metodológicos, o artigo se baseia na análise da narrativa expográfica museal, reconstituída por meio de incursões etnográficas ao percurso expositivo e, de modo correlato, em uma pesquisa documental no arquivo histórico disponível na instituição. Foi possível constatar que o museu de Palmas se enquadra como uma estratégia de investimento simbólico, que opera como um mecanismo de reprodução da dominação das elites locais, que mobilizam a memória como recurso para a reprodução da sua dominação social no plano simbólico, por meio da consagração social de grandes famílias e da eleição dos grandes personagens que compõem o panteão histórico do município. A reprodução social das elites locais e das relações de dominação no universo da memória e do simbólico implicam, consequentemente, a invisibilidade e o apagamento de grupos sociais historicamente dominados no contexto local, mormente os grupos indígenas e as populações de origem africana.
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Referências
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