“Sou eu quem cuida”: a pandemia narrada por mulheres atravessadas por um megaempreendimento

Autores

  • Ana Letícia Cordeiro de Melo Universidade Federal de Alagoas
  • Suely Emília de Barros Santos Universidade de Pernambuco https://orcid.org/0000-0001-6249-7487
  • Clarissa de Oliveira Gomes Marques da Cunha Universidade de Pernambuco

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2316-9133.v33i2pe227185

Palavras-chave:

Mulheres camponesas, Megaempreendimento, Pandemia , Corpo-território

Resumo

O presente artigo discute os sentidos que mulheres camponesas, em um território vulnerabilizado pelo megaempreendimento da transposição do rio São Francisco, atribuem à experiência com a pandemia da COVID-19. A pesquisa tem enfoque qualitativo e parte de uma compreensão fenomenológica hermenêutica em diálogo com o ecofeminismo e o feminismo decolonial. Foram utilizadas a cartografia clínica e entrevistas narrativas individuais como modo de inserção no território e escuta das narrativas. Para análise, lançamos mão da Analítica do Sentido, de Dulce Critelli. Pôde-se compreender que a pandemia potencializou diversos processos de vulnerabilização já existentes anteriormente na experiência das mulheres do território, em virtude das obras da transposição, bem como criou novas complexidades.

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Biografia do Autor

  • Suely Emília de Barros Santos, Universidade de Pernambuco

    Doutora e Mestra em Psicologia Clínica Universidade de Pernambuco (UNICAP). Membra do Grupo de Trabalho: Práticas Psicológicas em Instituições: atenção, desconstrução, invenção, da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP). Coordena o Laboratório em Ações Coletivas e Saúde - LACS, onde o Grupo de Pesquisa em Saúde, Território, Cotidiano e Questões Sociais Contemporâneas (CNPq) está inserido. Professora Adjunta da Universidade de Pernambuco (UPE), com atuação nos Programas de Pós-Graduação Psicologia Práticas e Inovação em Saúde Mental (PRISMAL), e Saúde e Desenvolvimento Socioambiental (PPSDS), na Graduação em Psicologia, na Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva e Agroecologia, e na Residência Multiprofissional em Saúde Mental. Integra a Rede Latino-americana de Psicologia Rural. Realiza pesquisas e projetos de extensão na área da saúde mental e ação clínica social no viver cotidiano com ênfase na garantia de direitos de povos da terra e povos e comunidades tradicionais no Agreste e Sertão pernambucano, num diálogo com o pensamento decolonial, a fenomenologia, questões étnico-raciais, a educação popular, a saúde a psicologia social, além de pensar acerca da formação em saúde.

  • Clarissa de Oliveira Gomes Marques da Cunha, Universidade de Pernambuco

    Pós-Doutorado na The New School for Social Research - NY (Bolsista CAPES), Doutora em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (2012), Estágio de Doutorado realizado na Universidade de Paris (Bolsista PDEE/CAPES), Professora da Universidade de Pernambuco (UPE), Professora do Programa de Pós-Graduação em Saúde e Desenvolvimento Socioambiental (PPGSDS/UPE) e do Programa de Pós-Graduação em Direito da Faculdade Damas (PPGD-ARIC-FADIC). Líder do Grupo de Estudos e Pesquisa Transdisciplinares sobre Meio Ambiente, Diversidade e Sociedade - GEPT/UPE/CNPq, Pesquisadora em colaboração na Universidad Autónoma del Estado de Morelos (México), Coordenadora do Programa de Extensão Direitos em Movimento - DIMO (UPE), Coordenadora do Programa de Extensão TransVERgente (UPE). Coordenadora do Projeto de Inovação Pedagógica Ser Quilombola (UPE/DPU). Coordenadora Regional (Nordeste) no Observatório de Protocolos Autônomos (PUC-PR e UFGD). Pesquisadora-colaboradora da RESAMA (Rede Sulamericana para as Migrações Ambientais). Advogada. Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direitos Humanos e Meio Ambiente, atuando principalmente nos seguintes temas: meio ambiente e desenvolvimento, meio ambiente e saúde, identidade cultural, povos e comunidades tradicionais.Instagram do GEPT: @somosgept

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Publicado

2024-11-13

Edição

Seção

Dossiê: Territorializando corpos, gêneros e sexualidades

Como Citar

Melo, A. L. C. de ., Santos, S. E. de B. ., & Cunha, C. de O. G. M. da. (2024). “Sou eu quem cuida”: a pandemia narrada por mulheres atravessadas por um megaempreendimento. Cadernos De Campo (São Paulo - 1991), 33(2), e227185. https://doi.org/10.11606/issn.2316-9133.v33i2pe227185