Nietzsche e o Controverso Ideal de Emancipação Feminina
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.1517-0128.v39i2p227-238Palavras-chave:
Emancipação, Mulher, Igualdade, Educação, SingularidadeResumo
Se as considerações de Nietzsche sobre a mulher são variadas, difíceis e até problemáticas, posto que não se pode atribuir um único sentido ao termo, o mesmo, em parte, não ocorre com o termo emancipação. Nietzsche apresenta aforismos nos quais demonstra algumas noções atribuídas ao termo. Não obstante, o filósofo trata da emancipação feminina não do ponto de vista exclusivamente político, mas da mulher como uma ideia “em si”. Neste artigo, partirei de alguns aforismos da obra Além do bem e do mal, de 1886, na qual é possível verificar o sentido que ele dá ao termo, assim como esquadrinhar os indícios do modo como ele lê a crença da igualdade buscada pela mulher, a fim de demonstrar a incoerência da proposta de emancipação, uma vez que, a partir da quebra da distinção e do abandono da diferença entre homem e mulher, é que se exigia o sacrifício da internalização dos valores masculinos em um consequente esvaziamento, embotamento e regressão do que é singular na mulher. Para desenvolver o objetivo proposto, relacionarei o tema a outros aforismos a fim de ressaltar que a problemática da emancipação feminina como condição sine qua non de pertencimento do espaço público, locus no qual as ações políticas são efetivas e consideradas, fora também problematizadas por Wollstonecraft, no que Carole Pateman denominou o “dilema Wollstonecraft”, a saber, exigir igualdade é aceitar a concepção patriarcal de cidadania, na qual as mulheres devem parecer-se aos homens a fim de serem vistas no cenário público, âmbito da ação política. Assim, buscarei examinar a análise de Nietzsche no que tange a emancipação feminina e seus desdobramentos conceituais, sem, no entanto, deixar de realizar outras tecituras com autoras que pensaram essa concepção.
Downloads
Referências
FREZZATTI. Jr. “A superação da dualidade cultura/biologia na filosofia de Nietzsche”. In: Tempo da ciência, v. 11, n. 22, pp. 115 –135, 2004.
GIACÓIA, O. “Nietzsche e o feminismo”. In: Natureza Humana, v. 4, n. 1, pp. 9 – 31, 2002.
LOPES, Rogério. “Entre ensaio e aforismo: notas sobre o modo de apresentação dos argumentos na filosofia de Nietzsche”. In: FEITOSA, C.; BARRENECHEA, M.A. de; PINHEIRO, P. (Orgs.). A fidelidade à terra: arte, natureza e política. Assim falou Nietzsche IV. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. pp. 277-286.
MARESCA, J. “A emancipação da mulher”. Tradução Vânia Dutra de Azevedo. Cadernos Nietzsche, 11, 2001. pp. 107-112.
MARTON, S. “Nietzsche e a crítica da democracia”. Dissertatio, v. 33, pp. 17-33, 2011.
MOUFFE, Chantal. El Retorno de lo Político: Comunidade, ciudadania, pluralismo, democracia radical. Barcelona: Paidós, 1999.
NIETZSCHE, F. Para além de bem e mal. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
NIETZSCHE, F. Ecce Homo. Como alguém se torna o que é. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
NIETZSCHE, F. Humano, Demasiado Humano. Um livro para espíritos livres. Trad. de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
NIETZSCHE, F. A Gaia Ciência. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
NIETZSCHE, F. Humano demasiado humano II. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
NIETZSCHE, F. Genealogia da moral. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
PATEMAN, Carole. El desorden de las mujeres: democracia, feminismo y teoria política. Trad. Luisa Fernanda Lassaque. Buenos Aires: Prometeo Libros, 2018.
WOLLSTONECRAFT, Mary. Reivindicação dos Direitos das Mulheres. São Paulo: Boitempo, 2016.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2021 Patrícia Sheyla Bagot de Almeida
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-ShareAlike 4.0 International License.