Por uma indigenização permanente do pensamento político: Algumas variações contemporâneas do “contra-Um”
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.1517-0128.v44i2p24-48Palavras-chave:
Pensamento político, Contra-Estado, Cosmopolítica, AutonomiaResumo
Este artigo propõe um diálogo entre a ideia clastriana de “sociedade contra o Estado” (inspirada no “Contra-Um” de E. La Boétie) e o pensamento político de intelectuais e lideranças indígenas da atualidade. Ele analisa derivas contemporâneas dessa ideia de “contra-Estado” a partir de um exame de dois problemas que se cruzam: o problema da cosmopolítica (isto é, da insuficiência da figura da pólis para pensar agências extra-humanas e a pluralidade de mundos) e o problema da autonomia (isto é, da criação de territórios autônomos no interior de Estados, o que redunda num interessante paradoxo).
Downloads
Referências
ABENSOUR, M. “Le contre-Hobbes de Pierre Clastres”. In: Abensour, M. (ed.), L'Esprit des lois sauvages. Pierre Clastres ou une nouvelle anthropologie politique Paris: Seuil, 1987.
ALARCON, D. O retorno dos parentes: mobilização e recuperação territorial entre os Tupinambá da Serra do Padeiro, Sul da Bahia. Tese de doutorado. Rio de Janeiro: Museu Nacional/UFRJ, 2020.
ALKMIN, F. Geografia da autonomia: a experiência territorial zapatista em Chiapas. São Paulo: Ed. Elefante, 2025.
BABAU, C. “Retomada”. In: Terra: antologia afro-indígena. São Paulo: Ubu/PISEAGRAMA, 2023.
BAKUNIN, M. Díos y el Estado. Barcelona: El Viejo Topo, [1882]s/d.
BANDERA, M. d. “O contra-Rousseau de Graeber e Wengrow: a filosofia à luz da arqueologia”. Sapere Aude, 1(1), 284-301, 2023.
BANIWA, G. “‘Intelectuais indígenas abraçam a antropologia. Ela ainda será a mesma?’ Um debate necessário. Anuário Antropológico, 48(1), 45-52, 2023.
BARRETO, J. R. R. Úkusse: formas de conhecimento nas artes do diálogo tukano. Florianópolis: ed. da UFSC, 2022.
BASCHET, J. “Autonomia”. In: Vários autores. Não se dissolve um levante: 48 vozes a favor dos Levantes da Terra. São Paulo, n-1 Edições, 2023.
BENITES, E. “Entrevista com Elisa Corrado e Aline Crespe”. Ruris v. 14. n. 2, 2022.
BENITES, E. A Busca do Teko Araguyje (jeito sagrado de ser) nas retomadas territoriais Guarani e Kaiowá. Tese de doutorado. Dourados: UFGD, 2021.
BISPO, A. Colonização, quilombos: modos e significados. Brasília: Ed. da UnB, 2015.
CARDOSO, S. Crítica da antropologia política na obra de Pierre Clastres. Tese de doutorado. São Paulo: FFLCH/USP, 1990.
CARIAGA, D. Relações e diferenças: a ação política kaiowa e suas partes. Tese de doutorado. Florianópolis: UFSC, 2019.
CLASTRES, H. “De quoi parlent les indiens”. In: Abensour, M. & Kupiec, A. Pierre Clastres. Paris: Sens & Tonka, 2011.
CLASTRES, P. “Archéologie de la violence: la guerre dans les sociétés primitives”. In: CLASTRES, Pierre. Recherches d’anthropologie politique. Paris: Seuil, [1977]1980.
CLASTRES, P. “Copernic et les sauvages”. In: CLASTRES, Pierre. La société contre l’État: recherches d’anthropologie politique. Paris: Eds. de Minuit, [1969]1974.
CLASTRES, P. “De l’Ethnocide”. In: Recherches d’Anthropologie Politique. Paris: Seuil, 1980.
CLASTRES, P. “De l’un sans le multiple” [1972]. In: CLASTRES, Pierre. La société contre l’État: recherches d’anthropologie politique. Paris: Eds. de Minuit, 1974.
CLASTRES, P. “Échange et pouvoir : philosophie de la chefferie indienne”. In: CLASTRES, Pierre. La société contre l’État: recherches d’anthropologie politique. Paris: Eds. de Minuit, [1962]1974.
CLASTRES, P. “Entre silence et dialogue”. In: BELLOUR, R. & CLÉMENT, C. (eds.). Claude Lévi-Strauss. Paris: Gallimard, pp. 33-38.
CLASTRES, P. “Le malheur du guerrier sauvage”. In: CLASTRES, Pierre. Recherches d’anthropologie politique. Paris: Seuil, [1977]1980.
CLASTRES, P. “Liberté, malencontre, innommable”. In: É. La Boétie, Discours de la servitude volontaire (ou le Contr’Un), Paris, Payot, [1577]1976.
CLASTRES, P. “Prophètes dans la jungle” [1970]. In: CLASTRES, Pierre. La société contre l’État: recherches d’anthropologie politique. Paris: Eds. de Minuit, 1974.
COLMAN, R. & MARQUES P., L. “Os Kaiowá e Guarani no Mato Grosso do Sul e suas Incansáveis Lutas pelos Tekoha frente às Transformações Territoriais, Ambientais e Formas de Mobilidade”. Revista De Estudos E Pesquisas Sobre As Américas, 14(3), pp. 57-76, 2021.
CRESPE, A. Mobilidade e temporalidade kaiowa: do tekoha à reserva, do tekorã ao tekoha. Tese de doutorado. Dourados: UFGD, 2015.
CUSICANQUI, S R. “Indigenous Anarchist Critique of Bolivia’s ‘Indigenous State’: Interview with Silvia Rivera Cusicanqui”. Disponível em: https://upsidedownworld.org/archives/bolivia/indigenous-anarchist-critique-of-bolivias-indigenous-state-interview-with-silvia-rivera-cusicanqui/
DELEUZE, G. & GUATTARI, F.. Mille plateaux: Captalisme et schizophrénie II. Paris: Eds. de Minuit, 1980.
EISENBERG, J. As missões jesuíticas e o pensamento político moderno: encontros culturais, aventuras teóricas. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2000.
GAUCHET, M. “La dette de sens et les raisons de l’État: politique de la religion primitive”. Libre, n. 2, pp. 54-78, 1977.
GIL, Y. A. “Nosotros sin México: naciones indígenas y autonomia”. In: El futuro es hoy: ideas radicales para México. Madrid: Biblioteca Nueva, 2018.
GRAEBER, D. & WENGROW, D. The Dawn of Everything: a new history of humanity. Nova York: Farrar, Straus and Giroux, 2021.
GRAEBER, D. Fragmentos de uma antropologia anarquista. Porto Alegre: Deriva, [2004]2011.
GUARANI, J. & KEESE DOS SANTOS, L. “Tenonde Porã: autonomia e diversidade”. Disponível em: https://teiadospovos.org/tenonde-pora-autonomia-e-diversidade/
GUARANI, J. “Tornar-se selvagem”. PISEAGRAMA, Belo Horizonte, n. 14, 2020, p. 19.
JOÃO, I. “Autonomia kaiowá e guarani: a ação dos ñanderu e ñandesy na criação do tekoha”. Revista de Antropologia, 66, 2023.
KEESE DOS SANTOS, L. “A diversidade no território: incorporação da diferença e compartilhamento em retomadas Guarani Mbya”. Revista de Antropologia, 68, 2025.
Kopenawa, D. e ALBERT, B. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. Tradução de Beatriz Perrone-Moisés. São Paulo: Companhia das Letras, [2010]2015.
KRENAK, A. O futuro ancestral. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.
LÉVI-STRAUSS, C. La pensée sauvage. Paris: Plon, 1962.
LÉVI-STRAUSS, C. Le Cru et le cuit: Mythologiques I. Paris: Plon, 1964.
MORA, M. (2023). “Autonomia, a luta digna por uma vida-existência comum e a subversão da figura do ajvalil em Chiapas, México”. Revista de Antropologia, 66, 2023.
PEDROSO, D. R. “Imagens da hierarquia: algumas notas de geografia do pensamento no noroeste amazônico”. Hawo – Revista do Museu Antropológico da Universidade Federal de Goiás, v. 2, pp. 1-44, 2021.
PERRONE-MOISÉS, B. Relações preciosas: franceses e ameríndios no século XVII. Tese de doutorado. São Paulo: FFLCH/USP, 1996.
PIMENTEL, S. K., & LARA, A. E. M. Apresentação do dossiê “As muitas autonomias e seus mundos: olhares cruzados Brasil - México”. Revista De Antropologia, 66, 2023.
PIMENTEL, S. Elementos para uma teoria política kaiowa e guarani. Tese de doutorado. São Paulo: FFLCH/USP, 2012.
RIBEIRO, D. Os índios e a civilização. São Paulo: Companhia das Letras, [1970]1996.
RICHIR, M. “Quelques réflexions épistémologiques préliminaires sur le concept de sociétés contre l'État”. In: Abensour, M. (ed.), L'Esprit des lois sauvages. Pierre Clastres ou une nouvelle anthropologie politique. Paris: Seuil, 1987.
ROMANDINI, F. L. A comunidade dos espectros: I. Antropotecnia. Curitiba: Ed. Cultura e Barbárie, 2014.
SAFATLE, V. “Crítica da autonomia: liberdade como heteronomia sem servidão”. Discurso, v. 49, n. 2, 2019.
SANTOS, M. G. Conversas com florestas viventes: política, festa e gênero em Sarayaku (Amazônia equatoriana). Tese de doutorado. São Paulo: FFLCH/USP, 2023.
SCHAVELZON, S. “Plurinacionalidad y viver bien/buen viver: dos conceptos desde Bolívia y Ecuador constituyentes”. Quito: Abya Ayala/CLACSO, 2015.
SERAGUZA, L. As Donas do Fogo: política e parentesco nos mundos guarani. Tese de doutorado. São Paulo: FFLCH/USP, 2022.
STENGERS, I. Au Temps de Catastrophes: resister à la barbarie qui vient. Paris: La Découverte, 2009.
STENGERS, I. Cosmopolitiques (vols, I e II). Paris: La Découverte, 1997.
STENGERS, I. La Vierge et le Neutrino: les scientifiques à la tourmente. Paris: La Découverte, 2006.
SZTUTMAN, R. “Perspectivismo contra o Estado: uma política do conceito em busca de um novo conceito de política”. Revista de Antropologia, 63(1), 185-213, 2020.
SZTUTMAN, R. “Retomar a terra ou como resistir no Antropoceno”, 2017. Disponível em: https://www.buala.org/pt/a-ler/retomar-a-terra-ou-como-resistir-no-antropoceno-projeto-antropocenas.
SZTUTMAN, R. “Um acontecimento cosmopolítico: o manifesto de Kopenawa e a proposição de Stengers. Mundo Amazônico, vol. 10, n. 1, pp. 83-105, 2019.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Renato Sztutman

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-ShareAlike 4.0 International License.