Dos tupinambá aos wendat: uma filosofia política indígena na modernidade

Autores

  • Mauro Dela Bandera Universidade Federal do Paraná

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.1517-0128.v44i2p%25p

Palavras-chave:

Filosofia política indígena, Filosofia moderna , Tupinambá, Montaigne, Kondiaronk, Wendat

Resumo

O texto defende a relevância do pensamento ameríndio para a formação dos ideais modernos de liberdade e igualdade, destacando o papel dos tupinambá e do chefe wendat Kondiaronk nos debates filosóficos do período. Desde a época de Montaigne, os tupinambá já denunciavam aos europeus a desigualdade social e a servidão política vivenciadas no Velho Mundo. Esses diálogos foram retomados por Lahontan, que registrou conversas com Kondiaronk, evidenciando uma crítica indígena sofisticada ao modo de vida europeu. Mais do que simples porta-vozes de filósofos europeus, os ameríndios são agentes políticos e intelectuais, cujas observações influenciaram diretamente o pensamento iluminista. O texto propõe, assim, uma inversão de perspectiva: menos uma narrativa de linhagem francesa, mais um debate de filiação ameríndia, que vai dos tupinambá do Brasil ao chefe wendat do Canadá. Ainda que não se possa falar em uma filosofia política indígena homogênea, há uma continuidade crítica entre os discursos dos tupinambá e de Kondiaronk: os primeiros escancaravam as desigualdades sociais e políticas na Europa, enquanto o segundo – antes de Rousseau – mostrava como a desigualdade social se metamorfoseava em desigualdade política.

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Publicado

2025-12-05

Como Citar

Bandera, M. D. (2025). Dos tupinambá aos wendat: uma filosofia política indígena na modernidade. Cadernos De Ética E Filosofia Política, 44(2), 49-67. https://doi.org/10.11606/issn.1517-0128.v44i2p%p