Duas leituras sobre o colonialismo como “pré-capitalismo agrário” na teoria da propriedade de Locke
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.1517-0128.v44i2p%25pPalavras-chave:
Propriedade, Colonialismo, Pré-Capitalismo Agrário, América Indígena, Direito NaturalResumo
Este artigo examina a teoria da propriedade de John Locke a partir de duas perspectivas interligadas: (1) a “leitura contextual” de Barbara Arneil, que vincula Locke aos debates coloniais ingleses do século XVII; e (2) a “análise estrutural” do capítulo sobre a “Propriedade” do Segundo Tratado, destacando como sua noção de “trabalho melhorado” fundamentou a expropriação de terras indígenas pelos colonizadores ingleses na América. De um lado, Arneil demonstra que Locke não apenas internalizou argumentos pró-colonização circulantes em seu tempo, mas os fundamentou filosoficamente segundo o jusnaturalismo. Por outro lado, a leitura detida e direta de Locke demonstra uma complexificação da teoria da igualdade natural, uma vez que o direito natural à propriedade, baseado na essência humana, é diferenciado segundo fases do estado de natureza, havendo direitos mais justificados de apropriação vinculados a um estágio “mais avançado” do “evolucionismo” natural dos homens, quando há o desenvolvimento da economia pré-capitalista agrária. Conclui-se que a teoria lockeana, ao hierarquizar formas de trabalho e cultivo, reforçou uma lógica assimilacionista – perene em práticas contemporâneas – que subordina povos outros a pensamentos e práticas “mais elevadas”.
Downloads
Referências
AMADEO, J. “Colonialismo e império na história do pensamento político moderno”. Exilium, 7, pp. 98-124. 2024.
ARMITAGE, D. “John Locke, Carolina and the Two Treatises of Government.” Political Theory, n. 32, pp. 602-627. 2004.
ARNEIL, B. “A carne do cervo do índio selvagem: a teoria da propriedade de Locke e o colonialismo inglês na América”. Tradução Virginia H. Ferreira da Costa. Cadernos de Ética e Filosofia Política, v. 44, n. 2, pp. 214-231, 2025.
ARNEIL, B. John Locke and America. New York: Clarendon Press Oxford, 1996.
BRANDÃO, R. “O racismo no Iluminismo: notas sobre crítica filosófica e história da filosofia.” Dois Pontos, v. 20, n. 2. 2023.
DORLIN, E. “O Estado ou o não monopólio da legítima defesa.” In: Autodefesa – uma filosofia da violência. São Paulo: Ubu, 2020, pp. 54-68.
FARR, J. “Locke, Law, and New World Slavery.” Political Theory, vol. 36, no. 4, pp. 495–522. 2008.
FEDERICI, S. Calibã e a bruxa. São Paulo: Editora Elefante, 2019.
FILMER, R. Patriarcha and other writings. Great Britain: Cambridge University Press, 1996.
FOUCAULT, M. O governo de si e dos outros. Curso no Collège de France (1982-1983). São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010.
FRANCO, M. S. C. “’All the world was America.’ John Locke, liberalismo e propriedade como conceito antropológico”. Revista USP, São Paulo, Brasil, n. 17, pp. 30–53. 1993.
GOLDSCHMIDT, V. Notas sobre o Método Estrutural em Filosofia. Manuscrito – Revista de Filosofia, v. V, n. 2, pp. 117- 143, abr. 1982.
GOLDSCHMIDT, V. Os Diálogos de Platão: Estrutura e Método Dialético. 2ª. ed. São Paulo: Loyola, 2002.
GUEROULT, M. Lógica, arquitetônica e estruturas constitutivas dos sistemas filosóficos. TRANS/FORM/AÇÃO: Revista de Filosofia, [S. l.], v. 30, n. 1, pp. 235–246. 2007.
HEGEL. Princípios da Filosofia do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
LEBOVICS. “Os usos da América em O Segundo Tratado sobre o Governo de Locke”. Tradução Lucas M. Lessa. Cadernos de Ética e Filosofia Política, v. 44, n. 2, pp. 232-247, 2025.
LASLETT, P. “Introdução.” In: LOCKE, John. Dois Tratados sobre o Governo. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
LOCKE, J. Dois Tratados sobre o Governo. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
MACPHERSON, C. B. “Locke: a teoria política da apropriação”. In: Teoria política do individualismo possessivo de Hobbes até Locke. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979, pp. 275-288.
MARX, K. O Capital, livro I. São Paulo: Boitempo, 2014.
MENIGHIN, R. O paradoxo de John Locke: liberdade e escravidão. Sapere Aude, 2(2), 20– 34, 2005.
METHA, U. Liberalism and Empire: A Study in Nineteenth-Century British Liberal Thought. Chicago: University of Chicago, 1999.
PADGEN, A. “Dispossessing the Barbarian: The Language of Spanish Thomism and the Debate over the Property Rights of the American Indians”, in PADGEN, A. (ed.), Languages of Political Theory in Early-Modern Europe. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.
PATEMAN, C. O contrato sexual. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 2008.
PITTS, J. A Turn to Empire. The Rise of Imperial Liberalism in Britain and France. Princeton-Oxford: Princeton University Press, 2005.
PITTS, J. “Political Theory of Empire and Imperialism: An Appendix.” In: MUTHU, Sankar. Empire and Modern Political Thought. Cambridge: Cambridge University Press, 2014.
SANTOS, A. C. “John Locke: entre a animalidade e a humanidade”. Discurso, v. 54, n. 2. 2024.
SMITH, A. A riqueza das nações. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2017.
TULLY, J. An Approach to Political Philosophy: Locke in Contexts. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.
WOOD, E. “A origem agrária do capitalismo”. In: A origem do capitalismo. Rio de Janeiro: Zahar, 2001, pp. 75-100.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Virgínia H. Ferreira da Costa

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-ShareAlike 4.0 International License.