A demanda por empreender: uma proposta para o estudo do empreendedorismo de acordo com a psicologia social do trabalho
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.1981-0490.v23i2p115-128Palavras-chave:
Empreendedorismo, Polimorfia do trabalho, Governamentabilidade, Psicologia social do trabalhoResumo
Este artigo busca estabelecer uma proposta para o estudo do empreendedorismo a partir da perspectiva da psicologia social do trabalho. Tal proposta surge da necessidade de repensar o anúncio constante de que “somos todos empreendedores”, assim como da necessidade de pensar as várias formas de trabalho para além do emprego e do trabalho regulamentado – nomeadamente, a polimorfia do trabalho –, e como estas foram governamentalizadas a partir do final do século XX. Para este exercício, utilizamos a noção desenvolvida em pesquisa anterior, sobre o empreendedorismo pensado como uma demanda. Argumentamos que tal demanda funciona como um dispositivo de governo neoliberal e que estabelece uma continuidade colonial, impondo uma determinada modernidade a ser alcançada. Concluímos indicando que a demanda empreendedora torna a “viração” uma forma de governar o trabalho e os trabalhadores.
Downloads
Referências
Amaral, T. (2019, 13 de outubro). A Irmã Dulce começou… Recuperado de https://www.facebook.com/tabataamaralSP/photos/pb.201596403728972.-2207520000.1571085721./509754949579781/?type=3&theater
Ambrózio, A. (2012). Governamentalidade neoliberal: disciplina, biopolítica e empresariamento da vida. Kínesis, 4(8), 40-60.
Avelino, N. (2016). Foucault e a racionalidade (neo)liberal. Revista Brasileira de Ciência Política, 21, 227-284.
Bastos, J. A. (2019). Servidores, funcionários, terceirizados e empregados: a babel dos vínculos, cotidiano de trabalho e vivências dos trabalhadores em um serviço público. (Tese de Doutorado). Universidade de São Paulo, São Paulo, SP.
Bröckling, U. (2015). The entrepreneurial self: fabricating a new type of subject. London: Sage.
Bröckling, U., Krasmann, S. & Lemke, T. (Eds.). (2010). Governmentality: current issues and future challenges. Londres: Routledge.
Castro-Gómez, S. (2005). La poscolonialidad explicada a los niños. Bogotá: Universidad del Cauca y Universidad Javeriana.
Castro-Gómez, S. (2007). Michel Foucault and the coloniality of power. Tabula rasa, (6), 153-172.
Connell, R. & Dados, N. (2014). Where in the world does neoliberalism come from? Theory and Society, 43(2), 117-138.
Dados, N. & Connell, R. (2018). Neoliberalism in world perspective: Southern origins and southern dynamics. In D. Cahill, M. Cooper, M. Konings & D. Primrose (Eds.), The SAGE handbook of neoliberalism (pp. 28-39). London: Sage Publications.
Davies, W. (2014). Neoliberalism: a bibliographic review. Theory, Culture & Society, 31(7/8), 309-317.
Dean, M. (2010). Governmentality: power and rule in modern society. London: Sage Publications.
Deleuze, G. (1992). Conversações. São Paulo: Editora 34.
DuGay, P. (1996). Consumption and identity at work. London: Sage Publications.
Fernandes, R. J. R. (2019). Análise crítica do discurso de apoio às MPMES e de fomento ao empreendedorismo no Brasil pós-redemocratização. (Tese de Doutorado). Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, SP.
Foucault, M. (2008a). Segurança, território, população: curso no Collège de France (1977-1978). São Paulo: Martins Fontes.
Foucault, M. (2008b). Nascimento da biopolítica: curso no Collège de France (1978-1979). São Paulo: Martins Fontes.
Foucault, M. (2010a). Em defesa da sociedade: curso no Collège de France (1975-1976). São Paulo: Martins Fontes.
Foucault, M. (2010b). O sujeito e o poder (Apêndice da Primeira Edição 1982). In H. L. Dreyfus & P. Rabinow, Michael Foucault: uma trajetória filosófica: para além do estruturalismo e da hermenêutica (pp. 273-295). Rio de Janeiro: Forense Universitária.
Foucault, M. (2013). Politics, philosophy, culture: interviews and other writings, 1977-1984. Londres: Routledge.
Foucault, M. (2014). Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal.
Global Entrepreneurship Monitor. (2004). Empreendedorismo no Brasil: 2003. Curitiba: Instituto Brasileiro de Qualificação Profissional.
Global Entrepreneurship Monitor. (2017). Empreendedorismo no Brasil: 2016. Curitiba, Instituto Brasileiro de Qualificação Profissional.
Global Entrepreneurship Monitor. (2018). The influence of GEM on Policy 2017/18. London: GEM Consortium.
Higgott, R. (2000). Contested globalization: the changing context and normative
challenges. Review of International Studies, 26, 131-153.
Lemke, T. (2018). Rearticulando o conceito de dispositivo: combinando STS e Analítica do Governo. Mediações, 23(1), 32-62.
Lopes, E. B. (2001). O Sebrae e as relações público-privado no Brasil. (Dissertação de mestrado). Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Araraquara, SP.
Maior, J. L. S. & Severo, V. S. (2017). Manual da reforma trabalhista: pontos e contrapontos. São Paulo: AATSP.
Massimo, L. (2013). Como se explica o neoliberalismo no Brasil? Uma análise crítica dos artigos publicados na revista Dados. Revista de Sociologia e Política, 21(47), 133-153. Recuperado de https://doi.org/10.1590/s0104-44782013000300010
Marttila, T. (2013a). Culture of enterprise in neoliberalism: specters of entrepreneurship. London: Routledge.
Marttila, T. (2013b). Whither governmentality research? A case study of the governmentalization of the entrepreneur in the French epistemological tradition. Forum: Qualitative Social Research, 14(3), 293-331.
Marttila, T. (2018). Neoliberalism, the knowledge-based economy and the entrepreneur as metaphor. In D. Cahill, M. Cooper, M. Konings & D. Primrose (Eds.), The SAGE handbook of neoliberalism (pp. 565-579). London: Sage Publications.
Matias, L. (2019, 7 de setembro). Investimento na formação de líderes chega ao berçário. Folha de S.Paulo. Recuperado de https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2019/09/investimento-na-formacao-de-lideres-chega-ao-bercario.shtml
Melo, N. M. (2008). Sebrae e empreendedorismo: origem e desenvolvimento. (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, SP.
Michaelis Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. (2020). Demanda. Recuperado de https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/demanda/
Moisander, J., Groß, C. & Eräranta, K. (2018). Mechanisms of biopower and neoliberal governmentality in precarious work: mobilizing the dependent self-employed as independent business owners. Human Relations, 71(3), 375-398.
Mourão, H. (2019, 27 de setembro). Donatários, bandeirantes, senhores… Recuperado de https://twitter.com/generalmourao/status/1178436937683738624
Oliveira, A. (2014). Caixa-preta do sistema S: mais de R$15 bilhões/ano em dinheiro público. Brasília, DF: Senado Federal.
Quijano, A. (2005). Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In E. Lander (Org.), Por uma sociologia reflexiva: pesquisa qualitativa e cultura (pp.43-66). Petrópolis, RJ: Vozes.
Plehwe, D. & Walpen, B. J. (2007). Between network and complex organization. In D. Plehwe, B. J. Walpen & G. Neunhöffer (Eds.), Neoliberal hegemony: a global critique (pp. 45-68). London: Routledge.
Rose, N. (1990). Governing the soul: the shaping of the private self. London: Routledge.
Rose, N. (1999). Powers of freedom: reframing political thought. Cambridge: Cambridge University Press.
Rostow, W. W. (1971). Etapas do desenvolvimento econômico. Rio de Janeiro: Zahar.
Sato, L. (1993). A representação social do trabalho penoso. In M. J. P. Spink (Org.), O conhecimento no cotidiano: as representações sociais na perspectiva da psicologia social (pp. 188-211). São Paulo: Brasiliense.
Sato, L. (2002). Prevenção de agravos à saúde do trabalhador: replanejando o trabalho através das negociações cotidianas. Cadernos de Saúde Pública, São Paulo, 18(5), 1147-1157.
Sato, L. (2003). Psicologia, saúde e trabalho: distintas construções dos objetos “trabalho” e “organizações”. In Z. A. Trindade & A. N. Andrade (Orgs.), Psicologia e saúde: um campo em construção (pp. 167-178). São Paulo: Casa do Psicólogo.
Sato, L. (2009). Juntando os pedaços. In M. H. S. Patto (Org.), A cidadania negada: políticas públicas e formas de viver (pp. 23-28). São Paulo: Caso do Psicólogo.
Sato, L. (2011). Psicologia e trabalho: focalizando as “profissões ignoradas”. In B. Medrado & W. Galindo (Org.), Psicologia social e seus movimentos: 30 anos de ABRAPSO (pp. 233-252). Recife: Ed. Universitária da UFPE.
Sato, L. (2012). Feira livre: organização, trabalho e sociabilidade. São Paulo: Edusp.
Sato, L. (2017). Diferentes faces do trabalho no contexto urbano. In M. C. Coutinho, M. H. Bernardo & L. Sato (Orgs.), Psicologia social do trabalho (pp. 151-174). Petrópolis, RJ: Vozes.
Sato, L., Coutinho, M. C. & Bernardo, M. H. (2017). A perspectiva da psicologia social do trabalho. In M. C. Coutinho, M. H. Bernardo & L. Sato (Orgs.), Psicologia social do trabalho (pp. 11-24). Petrópolis, RJ: Vozes.
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. (2008). Quem somos. Recuperado de https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/canais_adicionais/conheca_quemsomos
Spink, P. K. (2012). Prefácio. In L. Sato, Feira livre: organização, trabalho e sociabilidade (pp. 13-20). São Paulo: Edusp, 2012.
Uchôa de Oliveira, F. M. (2020). Somos todos empreendedores? A demanda empreendedora como dispositivo de governo neoliberal. (Tese de doutorado). Universidade de São Paulo, São Paulo, SP.
Veiga-Neto, A. (2000). Educação e governamentalidade neoliberal: novos dispositivos, novas subjetividades. In V. Portocarreto & G. Castelo Branco (Orgs.), Retratos de Foucault (pp. 179-217). Rio de Janeiro: Nau.
Wallerstein, E. (2004). Capitalismo histórico y movimientos antisistémicos: un análisis de sistemas-mundo. Barcelona: Akal.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2020 Flávia Manuella Uchôa de Oliveira
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos: autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution, permitindo o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria do trabalho e da publicação inicial nesta revista. Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicado nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e da publicação inicial nesta revista. Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado.