Chamada aberta para os números 41 e 42: De uma língua à outra: o plurilinguismo literário na cultura contemporânea
Organizadores: Daniel Padilha Pacheco da Costa (USP) e Rita Jover-Faleiros
(UNIFESP)
De uma língua à outra: o plurilinguismo literário na cultura contemporânea
Plurilinguismo, multilinguismo, translinguismo, code-switching são noções que
emergem de maneira significativa nas últimas décadas, o que pode ser observado em
uma breve consulta às chamadas de revistas e publicações relativamente recentes. No
número 46, consagrado ao tema “Entre les langues”, da revista Genesis, os
organizadores Olga Anokhina e Emilio Sciarrino (2018) evidenciam a oscilação da
terminologia utilizada para designar fenômenos de linguagem situados no encontro
“entre línguas”. Num breve sobrevoo, os trabalhos de Ana Maria Lisboa de Mello e
Antonio Andrade (2019), na área do ensino de literaturas estrangeiras; Ottmar Ette
(2016) e Franca Bruera (2017), para os estudos literários; Barbara Cassin (2016) e
Pascale Casanova (2021), para os estudos da tradução ilustram a diversidade dos
próprios fenômenos, sejam eles tratados do ponto de vista do ensino de literaturas
estrangeiras, da crítica literária ou da tradução.
A oscilação da terminologia, assim, provavelmente não é arbitrária, mas sim
provocada pela diversidade de pressupostos teóricos mobilizados e pelas visadas
sobre fenômenos de linguagem dessa ordem, e que se dão a ver por meio dessa
coexistência terminológica. Por isso, aquelas noções podem ser consideradas em
alguma medida como hiperônimos que recobrem enorme variedade de fenômenos de
linguagem que, irredutíveis ao monolinguismo, deslocam constantemente os seus
referentes por meio de diferentes formas de relacioná-los entre si. A própria escrita
sobre esses fenômenos, necessariamente plurilíngue, não seria, assim, senão mais
uma forma de descentrá-los.
Seja implícita ou explicitamente, a tradução é indissociável desses fenômenos,
posto que situada no suposto ponto de contato entre as línguas. No entanto, a tradução
não deve ser entendida aqui apenas como interlinguística, pois não é mero instrumento
de substituição de um código monolíngue por outro. Reunidos em um único e mesmo
texto, “original” e sua “tradução” se desdobram em diferentes modalidades de tradução
intratextual que, por sua vez, impõem novas formas de tradução interlinguística. Da
mesma forma que, ao nível linguístico, o monolinguismo é esfacelado pelo
plurilinguismo, pelo multilinguismo, pelo translinguismo e pelo code-switching, ao nível
discursivo, o monologismo é desintegrado pelo dialogismo, pelo heterodiscurso, pela
escrita plurilíngue e pela tradução intratextual.
Embora o plurilinguismo não seja fenômeno recente, as últimas décadas têm
assistido à sua disseminação em diferentes formas de escrita produzidas em zonas
intermediárias entre a “língua materna” e as variadas espécies de diglossia, poliglossia
e aloglossia. Apesar de o processo de globalização ter reivindicado o seu caráter
emancipatório, o plurilinguismo não possui, necessariamente, uma dimensão ética de
abertura ao outro, mas também pode reforçar a segregação étnica, como evidencia o
“multilinguismo reacionário” promovido pelos Cantos, de Ezra Pound, segundo a
interpretação de Espen Grønlie (2023). Problematizando as fronteiras disciplinares
entre os Estudos Linguísticos, Literários e Tradutológicos, o objetivo proposto é abordar
o plurilinguismo literário com base em metodologias de caráter fundamentalmente
transdisciplinar. Este dossiê deseja promover novos encontros entre línguas,
construindo, assim, um arquivo plurilíngue sobre:
● O ensino de literaturas estrangeiras em uma dimensão pluri e translíngue
● Perspectivas teóricas, históricas e críticas sobre o plurilinguismo literário
● O plurilinguismo na cultura contemporânea
● As políticas de tradução em contextos pluri e multilíngues
Submissões até: 30/04/2025
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