Arte, tragédia e interdição da criticidade: O confronto entre ética e estética em "Estão apenas ensaiando", de Bernardo Carvalho
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.1984-1124.v0i21p91-105Palavras-chave:
ética, estética, mímesis, representação, arteResumo
Em certas circunstâncias, tomar a escrita de ficção como uma dimensão outra do real parece equivaler à suposição de que a maravilha de um truque de mágica está não na engenhosidade técnica através da qual nossos sentidos são ludibriados, mas na ideia de que, por um instante, as leis da física foram de fato suspensas e uma pessoa levitou ou dois corpos ocuparam o mesmo lugar a um só tempo. À luz das considerações de Ortega y Gasset sobre a autonomia do objeto artístico em relação à realidade da qual, ao tratar da arte, o público em geral não consegue prescindir, o conto “Estão apenas ensaiando”, de Bernardo Carvalho, revela-se – tanto por seu conteúdo quanto por sua expressão – pródigo em possibilidades e leitura que ressaltam o embate entre ética e estética. Assim, o raciocínio alegórico de Gasset e os questionamentos ético-narrativos presentes em textos de Adorno e de Brecht são aplicados, nesta análise do conto de Carvalho, a fim de evidenciar como a ordem cronológica entre o evento catastrófico e o objeto artístico que com ele guarde alguma semelhança tem pouca importância no modo como a interdição do discurso estético se opera.
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