Em busca do gesto espontâneo: a subjetivação da mulher negra em A cor púrpura, de Alice Walker
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.1984-1124.i27p118-138Palavras-chave:
Processos de subjetivação, Literatura e psicanálise, Escrita feminina, D. W. Winnicott, Alice WalkerResumo
Partindo do diálogo entre literatura e psicanálise, este artigo visa apresentar uma possível leitura do romance A cor púrpura, de Alice Walker, segundo a teoria winnicottiana do amadurecimento. Neste romance, Walker apresenta a triste história de Celie, uma jovem negra arrancada violentamente do convívio de seus filhos e de sua irmã. Casada com um homem violento, Celie vive como se não tivesse existência. O ambiente opressor e violento descrito por Walker ilustra bem as falhas ambientais que Winnicott considera presentes na constituição do falso self. Em contrapartida, a construção do verdadeiro self, caracterizado pela criatividade e pelo “gesto espontâneo”, pressupõe um processo de subjetivação marcado por uma experiência afetiva e “suficientemente boa” da alteridade. Neste sentido, é possível compreender as transformações vividas por Celie em seu encontro com Shug Avery, de modo a vivenciar a sua própria feminilidade. A experiência do encontro humano possibilita processos de ressignificação e de elaboração das falhas ambientais, por conseguinte, processos de desenvolvimento emocional. Neste romance, o tempo da narrativa revela o tempo do amadurecimento humano, destacando-se, ao lado da crítica social, a relação dos componentes masculinos e femininos que integram o ser e o fazer como dimensões fundamentais e constitutivas do self.
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