PROBLEMÁTICAS EXISTENCIAIS E MODERNIDADE DE HÚMUS DE RAUL BRANDÃO
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2175-3180.v8i15p47-65Palavras-chave:
Raul Brandão, modernidade, filosofias da existência, Deus, percurso identitárioResumo
O presente ensaio apresenta uma releitura de Húmus de Raul Brandão centrada nas problemáticas existenciais que atravessam o mencionado texto, sublinhando o trajeto de modernidade que o mesmo prefigura, articulando-o com temáticas e questionamentos de ordem filosófico-antropológica que o século XX desenvolveria. Assim, o pendor metafísico da obra desdobra um conjunto de intuições próprias das filosofias ditas da existência, radicando na ambígua relação com o divino, gerando o pressentimento de uma angústia existencial que implica uma autoexigência de configuração de um sentido que oblitere ou supere a consciência agónica do tempo, sentido que a relação erótica (não) concretizaria. A fragmentação textual, a propensão repetitiva e circular da narrativa, a presentificação, a polifonia, as dilações e omissões discursivas constituem estratégias textuais de desafio à lógica destrutiva do tempo linear tendente ao nada que esta ordem metafísica instaura. O dito desafio, sendo invariavelmente fracassado, acaba ainda assim por derivar numa proposta ética da resiliência face à morte, da elevação da vida como valor, que justifica o cunho pré-existencialista de Raul Brandão e dá o tom da sua modernidade.Downloads
Referências
AGAMBEN, Giorgio. Infancia e Historia. Trad. Silvio Mattoni. Buenos Aires: Adriana Hidalgo Editora, 2011.
BACHELARD, Gaston. La poétique de l’ espace. Paris: PUF, 1984.
BERTRAND, Denis. L’espace et le sens. Paris/Amsterdam: Hadès/Benjamins, 1985.
BLANCHOT, Maurice. L’espace littéraire. Paris: Gallimard, 1988.
BRANDÃO, Raul. Húmus. Lisboa: Dom Quixote, 2003.
CAMUS, Albert. Le Mythe de Sisyphe. Paris: Gallimard, 1942.
COELHO, Jacinto do Prado. “O Húmus, de Raul Brandão: uma obra de hoje”. A Letra e o Leitor. Lisboa: Portugália, 1969.
COLEBROOK, Claire. Irony. London and New York: Routledge, 2004.
DELEUZE, Gilles. Diferença e Repetição. Trad. Luiz Orlandi e Roberto Machado. Lisboa: Relógio d’Água, 2000.
DUBOIS, Jacques. Rhétorique de la poésie: lecture linéaire, lecture tabulaire. Bruxelles: Éditións Complexe, 1977.
DURAND, Gilbert. As Estruturas Antropológicas do Imaginário. Trad. Hélder Godinho. Lisboa: Presença, 1989.
ELIADE, Mircea. O Sagrado e o Profano. A Essência das Religiões. Trad. Rogério Fernandes. Lisboa: Livros do Brasil, 1999.
ELIADE, Mircea. O mito do eterno retorno. Trad. Manuela Torres. Lisboa: Círculo de Leitores, 1990.
FERREIRA, Vergílio. Espaço do Invisível 4. Venda Nova: Bertrand Editora, 1995.
FERREIRA, Vergílio. Espaço do Invisível 2. Venda Nova: Bertrand Editora, 1991.
FOKKEMA, Douwe W.. História Literária – Modernismo e Pós-Modernismo. Trad. Abel Barros Baptista. Lisboa: Vega, 1988.
FOUCAULT, Michel. A Foucault Reader. Ed. Paul Rabinow. Nova Iorque: Pantheon, 1984.
FOWLER, Alastair. Kinds of Literature: An Introduction to the Theory of the Genres and Modes. Cambridge: Harvard University Press, 1982.
GROSOS, Philippe. L’ironie du réel à la lumière du romantisme allemande. Lausanne: L’Age d’Homme, 2009.
GULLÓN, Ricardo. La novela lírica. Madrid: Cátedra, 1984.
HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Lecciones sobre la historia de la filosofía. Trad. Wenceslao Roces. México: Fondo de Cultura Económica, 1955.
HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Trad. Márcia de Sá Cavalcante. Petrópolis: Vozes, 1993.
HEIDEGGER, Martin. ¿Qué es Metafísica? Trad. Oberdan Caletti. Buenos Aires: Siglo Veinte, 1967.
KIERKEGAARD, Soren. Diario de un seductor. Temor y temblor. Trad. D. Gutiérrez Rivero. Madrid: Guadarrama, 1976.
KLOSSOVSKY, Pierre. Nietzsche et le cercle vicieux. Paris: Seuil, 1969.
LAFORGUE, Jules. Essential Poems and Prose of Jules Laforgue. Boston: Black Widow Press, 2011.
LAGANDRÉ, Cédric. L’inspiration des Grecs. Paris: L’Harmmatan, 2000.
LOPES, Óscar. “Certa filosofia da dor na sua moldura histórica”. Ler e Depois. Porto: Inova, 1970.
LUKÁCS, Georges. La théorie du roman. Berlim: Éditions Gonthier, 1963.
MELLOR, Anne K.. English Romantic Irony. Cambridge/London: Harvard University Press, 1980.
MERLEAU-PONTY, Maurice. Phénoménologie de la Perception. Paris: Gallimard, 1945.
MOURÃO-FERREIRA, David. “Releitura do Húmus”. Tópicos de Crítica e de História Literária. Lisboa: União Gráfica, 1969.
MUECKE, Douglas Colin. The Compass of Irony. London and New York: Routledge, 1970.
PARRET, Herman. “Réflexions saussuriennes sur le temps et le moi. Les manuscrits de la Houghton Library à Harvard“. Saussure aujourd’hui (Colloque de Cerisy). Numero Especial de LINX, Université de Paris-Nanterre: Centre de Recherches Linguistiques, 1995.
PEREIRA, José Carlos Seabra. “Introdução. Raul Brandão e o Legado do Expressionismo”. História Crítica da Literatura Portuguesa. Do fim-do-século ao Modernismo. Tomo VII. Lisboa/São Paulo: Editorial Verbo, 2004.
REYNAUD, Maria João. Metamorfoses da Escrita. Húmus de Raul Brandão. Porto: Campo das Letras, 2000.
RICOEUR, Paul. Philosophie de la volonté II. Finitude et culpabilité. Paris: Aubier, 1988.
SCHELER, Max. El puesto del hombre en el cosmos. Trad. José Gaos. Buenos Aires: Losada, 1968.
SCHOENTJES, Pierre. Poétique de l’ironie. Paris: Éditios du Seuil, 2001.
SCHLEGEL, Friedrich. Philosophical Fragments. Trad. Peter Firchow. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1991.
SIMMEL, Georg. El individuo y la libertad. Ensayos de crítica de la cultura. Trad. Salvador Más. Barcelona: Península, 1986.
SZONDI, Peter. Poésie et Poétique de l’idéalisme allemand. Paris: Gallimard, 1975.
TADIÉ, Jean-Yves. Le récit poétique. Paris: Presses Universitaires de France. 1978.
VIÇOSO, Vítor. A Máscara e o Sonho. Vozes, Imagens e Símbolos na Ficção de Raul Brandão. Lisboa: Cosmos, 1999.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2016 Miguel Filipe Mochila
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
O(s) autor(es) declara(m) automaticamente ao enviar um texto para publicação na revista Desassossego que o trabalho é de sua(s) autoria(s), assumindo total responsabilidade perante a lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, no caso de plágio ou difamação, obrigando-se a responder pela originalidade do trabalho, inclusive por citações, transcrições, uso de nomes de pessoas e lugares, referências histórias e bibliográficas e tudo o mais que tiver sido incorporado ao seu texto, eximindo, desde já a equipe da Revista, bem como os organismos editoriais a ela vinculados de quaisquer prejuízos ou danos.
O(s) autor(s) permanece(m) sendo o(s) detentor(es) dos direitos autorais de seu(s) texto(s), mas autoriza(m) a equipe da Revista Desassossego a revisar, editar e publicar o texto, podendo esta sugerir alterações sempre que necessário.
O autor(s) declara(m) que sobre o seu texto não recai ônus de qualquer espécie, assim como a inexistência de contratos editoriais vigentes que impeçam sua publicação na Revista Desassossego, responsabilizando-se por reivindicações futuras e eventuais perdas e danos. Os originais enviados devem ser inéditos e não devem ser submetidos à outra(s) revista(s) durante o processo de avaliação.
Em casos de coautoria com respectivos orientadores e outros, faz-se necessária uma declaração do coautor autorizando a publicação do texto.
Entende-se, portanto, com o ato de submissão de qualquer material à Revista Desassossego, a plena concordância com estes termos e com as Normas para elaboração e submissão de trabalhos. O não cumprimento desses itens ou o não enquadramento às normas editoriais resultará na recusa do material.