A Perturbadora presença animal: a "Representação" do outro da nossa cultura , em "Volamos" de Antonio Di Benedetto
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2447-9748.v2i1p09-18Palavras-chave:
Di Benedetto, Fantástico, Animalidade, Humanidade, FoucaultResumo
Em As palavras e as coisas, Michel Foucault tece reflexões sobre a “mesmidade”, uniformidade, do pensamento ocidental, ordenado pela linguagem, ou melhor, por suas ruínas. Entretanto é interessante notar que é a partir da perturbação causada pelo conto fantástico “O idioma analítico de John Wilkins”, de Jorge Luis Borges, que Foucault inicia sua trajetória de perscrutar as ruínas da linguagem que outrora deram sustentação ao conhecimento e suas taxonomias, desdobrando-se numa discussão inerente à modernidade sobre a capacidade da linguagem de nomear as coisas e os seres viventes do mundo ao confiná-los em categorias. Para o filósofo francês, "uma certa enciclopédia chinesa", citada no relato de Borges, causa riso e perturbação, já que a tentativa de classificação dos animais por meio da ordem alfabética delata as limitações do pensamento racional de abarcar o ‘outro’ e remete ao impensável, à desordem e ao caos. Por sua vez, o intento de classificação no conto borgiano, na verdade, interpela exatamente sobre a impossibilidade dessa ordenação por meio da linguagem, do discurso racional, que somente pode fazê-la forjando categorias. Daí seja possível pensar o discurso literário - neste caso, o conto fantástico- como espaço privilegiado para sondar o “outro” de nossa cultura, ao “escavar” a linguagem, descentralizando os sentidos e desestabilizando o sistema de categorias, como faz o texto de Borges. Este também será o percurso deste trabalho que apresenta um estudo do conto "Volamos", presente no livro Mundo Animal (1953), do argentino Antonio Di Benedetto, publicado no pós-guerra, período em que as concepções dominantes sobre o humano entram em crise e nota-se um inegável interesse em problematizar os conceitos sobre humanidade e animalidade, por meio da ficção. A análise desse conto, considerado pertencente ao modo fantástico da literatura, indaga sobre como o sentimento perturbador que caracteriza esse estilo pode surgir da (estranha e ao mesmo tempo familiar) presença animal, uma presença não totalmente ‘pensável’ pela racionalidade humana confinada no Mesmo, porém repleta de sentido.
Downloads
Referências
COETZEE, J.M. Elizabeth Costello: oito palestras. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.
DERRIDA, Jacques. O animal que logo sou. São Paulo: UNESP, 2002.
DI BENEDETTO, Antonio. Cuentos Completos. Buenos Aires: Adriana Hidalga editora, 2006.
FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
GIORGI, Gabriel. Formas comunes: animalidade, cultura, biopolítca. Buenos Aires: Eterna Cadencia Editora, 2014.
HOUAISS, Antonio e Villar, Mauro de Salles. Minidicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
MACIEL, Maria Esther. O Animal Escrito- Um olhar sobre a zooliteratura contemporânea. São Paulo: Lumme Editor, 2008.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Ao enviar qualquer trabalho para publicação nesta revista, o(s) autor(es) se compromete(m) com a originalidade, se responsabilizando por qualquer litígio que surja desta publicação, assim como pela utilização de imagens, citações, transcrições e referências em seu texto, eximindo a Revista Entrecaminos e sua Comissão Editorial de qualquer responsabilidade sobre seu conteúdo.
De mesmo modo, com o envio de material para publicação, o(s) autor(es) cede(m) seus direitos à revista; entretanto, a Revista Entrecaminos autoriza publicações do texto em outros meios, seja de forma parcial ou total, desde que se faça referência à publicação original.
Ao enviar seu trabalho, portanto, o(s) autor(es) manifesta(m) sua conformidade con la política editorial da revista e as presentes condições.