O movimento disciplinar na educação física norte-americana: contribuições e limites para a estruturação do campo científico
DOI:
https://doi.org/10.1590/S1678-4634202248234816porPalavras-chave:
Cinesiologia, Educação, Ensino superior, EpistemologiaResumo
Este artigo sintetiza aspectos do processo de disciplinarização da educação física (EF) nos Estados Unidos, de modo a fornecer elementos para pensar as relações entre ciência e educação em parâmetros marcadamente reflexivos. Nesse percurso, procura-se restituir alguns dos elementos fundantes do movimento disciplinar da EF norte-americana, bem como identificar suas contribuições e limites para a estruturação da área como um campo científico. Em termos metodológicos, o estudo configurou-se como teórico-bibliográfico e de vertente exploratória. A partir desse delineamento, foram inicialmente mobilizados artigos e capítulos de livros da literatura nacional e internacional atinentes ao debate epistemológico da EF e, posteriormente, analisadas as informações com base no referencial teórico de Pierre Bourdieu. Como conclusão, destaca-se que o movimento disciplinar na EF norte-americana trouxe avanços e contribuições significativas para situar a EF na hierarquia da ciência e, ao mesmo tempo, justificar sua existência no ensino superior. Em que pesem, no entanto, esses aspectos producentes, o movimento disciplinar da EF não pôde conter os efeitos colaterais da dinâmica organizacional proposta, sobretudo no que tange à fragmentação da EF em diferentes subáreas que não apenas pouco se comunicam, mas também concorrem pela definição do todo no campo. De qualquer modo, o movimento disciplinar ao reconhecer no movimento humano o conector comum das diferentes frentes de investigação da área não só induziu como também tornou crível o processo de organização da EF como uma ciência autônoma.
Downloads
Referências
AZZARITO, Laura; MUNRO, Petra; SOLMON, Melinda A. Unsettling the body: the institutionalization of physical activity at the turn of the 20th Century. Quest, Abingdon, v. 56, n. 4, p. 377-396, 2004.
BAUM, Sandy; KUROSE, Charles; MCPHERSON, Michael. An overview of American higher education. The Future of Children, Princeton, v. 23, n. 1, p. 17-39, 2013.
BOURDIEU, Pierre. O campo científico. In: ORTIZ, Renato (org.). A sociologia de Pierre Bourdieu. São Paulo: Olho d’Água, 2003. p. 112-143.
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 11. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.
BOURDIEU, Pierre. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo científico. São Paulo: Unesp, 2004.
BRACHT, Valter. Educação física e ciência: cenas de um casamento (in)feliz. 2. ed. Ijuí: Unijuí, 2003a.
BRACHT, Valter. Identidade e crise da educação física: um enfoque epistemológico. In: BRACHT, Valter; CRISÓRIO, Ricardo (org.). A educação física no Brasil e na Argentina: identidade, desafios e perspectivas. Campinas: Autores Associados, 2003b. p. 13-30.
BRESSAN, Elizabeth S. 2001: the profession is dead: was it murder or suicide? Quest, Abingdon, v. 31, n. 1, p. 77-82, 1979.
BULGER, Sean M.; HOUSNER, Lynn D.; LEE, Amelia M. Curriculum alignment: a view from physical education teacher education. Journal of Physical Education, Recreation & Dance, Abingdon, v. 79, n. 7, p. 44-49, 2008.
CALCIOLARI JÚNIOR, Anísio; SORIANO, Jeane Barcelos. A organização político-científica nos EUA nos anos de 1960 e seu impacto para a dimensão acadêmica da educação física. Movimento, Porto Alegre, v. 21, n. 2, p. 545-558, 2015.
CONANT, James Bryant. Dois modos de pensar: meus encontros com a ciência e a educação. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1968.
CONANT, James Bryant. The education of American teachers. New York: McGraw-Hill, 1963.
CORBIN, Charles B. The field of physical education: common goals, not common roles. Journal of Physical Education, Recreation & Dance, Abingdon, v. 64, n. 1, p. 79-87, 1993.
DOUGLASS, John Aubrey. Uma visão da estrutura do ensino superior dos Estados Unidos, passada e futura. Revista Ensino Superior Unicamp, Campinas, p. 33-42, 2010.
ESCADA, Paulo Augusto Sobral; PEREIRA, Guilherme Reis. Construção, usos sociais e busca de legitimidade das tecnologias da geoinformação do INPE. Liinc em Revista, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, p. 34-51, 2012.
GREENDORFER, Susan L. Specialization, fragmentation, integration, discipline, profession: what is the real issue? Quest, Abingdon, v. 39, n. 1, p. 56-64, 1987.
GUEDES, Claudia. Physical education and physical activity. Journal of Physical Education, Recreation & Dance, Abingdon, v. 78, n. 8, p. 31-48, 2007.
HARRIS, Dorothy V. Physical education: a house divided. The Academy Papers, [S. l.], n. 15, p. 32-35, 1981.
HENRY, Franklin M. Physical education: an academic discipline. Journal of Health, Physical Education, and Recreation, Abingdon, v. 35, n. 7, p. 32-69, 1964.
HENRY, Franklin M. The academic discipline of physical education. Quest, Abingdon, v. 29, n. 1, p. 13-29, 1978.
HOFFMAN, Shirl J. Specialization + fragmentation = extermination: a formula for the demise of graduate education. Journal of Physical Education, Recreation & Dance, Abingdon, v. 56, n. 6, p. 19-22, 1985.
LAUDAN, Larry et al. Mudança científica: modelos filosóficos e pesquisa histórica. Estudos Avançados, São Paulo, v. 7, n. 19, p. 7-89, 1993.
LAWSON, Hal A.; MORFORD, Robert W. The crossdisciplinary structure of kinesiology and sports studies: distinctions, implications, and advantages. Quest, Abingdon, v. 31, n. 2, p. 222-230, 1979.
LAWSON, Hal A. Three perspectives on induction and a normative order for physical education. Quest, Abingdon , v. 43, n. 1, p. 20-36, 1991.
MANOEL, Edison de Jesus; CARVALHO, Yara Maria de. Pós-graduação na educação física brasileira: a atração (fatal) para a biodinâmica. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 37, n. 2, p. 389-406, 2011.
MASSA, Marcelo. Caracterização acadêmica e profissional da educação física. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 29-38, 2002.
MCCULLICK, Bryan A.; LOMAX, Michael. The Boston normal school of gymnastics: an unheralded legacy. Quest, Abingdon, v. 52, n. 1, p. 49-59, 2000.
MENDONÇA, André Luis de Oliveira. O legado de Thomas Kuhn após cinquenta anos. Scientiae Studia, São Paulo, v. 10, n. 3, p. 535-560, 2012.
MORAES, Reginaldo Carmello Correa de. Educação superior nos Estados Unidos: história e estrutura. São Paulo: Unesp, 2015.
NAKAMURA, Felipe. O contexto político científico norte americano na década de 1960 no artigo de Franklin M. Henry “Physical education: an academic discipline”. 2011. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Educação Física) – Centro de Educação Física e Esporte, Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2011.
NEWELL, Karl M. Kinesiology. Journal of Physical Education, Recreation and Dance, Abingdon, v. 60, n. 8, p. 69-70, 1989.
NEWELL, Karl M. Kinesiology: challenges of multiple agendas. Quest, Abingdon, v. 59, n. 1, p. 5-24, 2007.
NEWELL, Karl M. Physical education in higher education: chaos out of order. Quest, Abingdon, v. 42, n. 3, p. 227-242, 1990.
NIXON, John E. The criteria of a discipline. Quest, Abingdon, v. 9, n. 1, p. 42-48, 1967.
OJEME, Emmanuel O. Has the name physical education outlived its usefulness? The Physical Educator, Champaign, v. 41, n. 4, p. 190-194, 1984.
PARK, Roberta J. Science, service, and the professionalization of physical education: 1885-1905. The International Journal of the History of Sport, Abingdon, v. 24, n. 12, p. 1674-1700, 2007.
PARK, Roberta J. The second 100 years: or, can physical education become the renaissance field of the 21st century? Quest, Abingdon, v. 41, n. 1, p. 1-27, 1989.
PAUL, Joan. Centuries of change: movement’s many faces. Quest, Abingdon, v. 48, n. 4, p. 531-545, 1996.
PAULA, Maria de Fátima. A formação universitária no Brasil: concepções e influências. Revista de Avaliação da Educação Superior, Campinas, v. 14, n. 1, p. 71-84, 2009.
PFISTER, Gertrud. The role of German Turnersin American physical education. The International Journal of the History of Sport, Abingdon, v. 26, n. 13, p. 1893-1925, 2009.
RARICK, G. Lawrence. The domain of physical education as a discipline. Quest, Abingdon, v. 9, n. 1, p. 49-52, 1967.
RENSON, Roland. From physical education to kinanthropology: a quest for academic and professional identity. Quest, Abingdon, v. 41, n. 3, p. 235-256, 1989.
RENSON, Roland. Selectionand rationale for the eurofit motor ability tests. In: EUROPEAN RESEARCH SEMINAR ON TESTING PHYSICAL FITNESS, 5., 1987, Strasbourg. Proceedings […]. Strasbourg: Committee for the Development of Sport, 1987. p. 86-114.
RIBEIRO, Maria das Graças. A educação superior norte-americana: gênese de um modelo. História da Educação, Porto Alegre, v. 20, n. 48, p. 75-93, 2016.
RODRÍGUEZ-LÓPEZ, Juan; VICENTE-PEDRAZ, Miguel; MAÑAS-BASTIDA, Alfonso. Struggles and pacification in the history of American kinesiology. Revista Internacional de Medicina y Ciencias de La Actividad Física y del Deporte, Madrid, v. 16, n. 62, p. 257-275, 2016.
ROSE, David A. Is there a discipline of physical education? Quest, Abingdon, v. 38, n. 1, p. 1-21, 1986.
SAGE, George H. Is the term physical education obsolete? Gymnasium, Warsaw, v. 6, n. 1, p. 10-12, 1969.
SCHULTZ, Jaime. A history of kinesiology. In: OGLESBY, Carole A. et al. (org.). Foundations of kinesiology. Burlington: Jones & Bartlett Learning, 2016. p. 41-52.
SEFTON, Alice Allene. The women’s division, national amateur athletic federation. Palo Alto: Stanford University Press, 1941.
SHAN, Yafeng. Kuhn’s “wrong turning” and legacy today. Synthese, New York, v. 197, n. 1, p. 381-406, 2018.
SIEDENTOP, Daryl. Commentary: the world according to Newell. Quest, Abingdon, v. 42, n. 3, p. 315-322, 1990.
SIEDENTOP, Daryl. Content knowledge for physical education. Journal of Teaching in Physical Education, Champaign, v. 21, n. 4, p. 368-377, 2002.
SOUZA, Juliano de. Do homo movens ao homo academicus: rumo a uma teoria reflexiva da educação física. São Paulo: LiberArs, 2021.
SOUZA, Juliano de. Educação física reflexiva: problemas, hipóteses e programa de pesquisa. Movimento, Porto Alegre, v. 25, p. 1-15, 2019.
SPARKES, Andrew C. Research in the physical education and sport: exploring alternative vision. London: Routledge, 1992.
STOKES, Donald E. O quadrante de Pasteur: ciência básica e inovação tecnológica. Campinas: Unicamp, 2005.
TANI, Go. Cinesiologia, educação física e esporte: ordem emanante do caos na estrutura acadêmica. Motus Corporis, Rio de Janeiro, v. 3, n. 2, p. 9-50, 1996.
THOMAS, Ewan et al. The effects of a calisthenics training intervention on posture, strength and body composition. Isokinetics and Exercise Science, Amsterdam, v. 25, n. 3, p. 215-222, 2017.
THOMAS, Jerry R. Are we already in pieces, or just falling apart? Quest, Abingdon, v. 39, n. 2, p. 114-121, 1987.
THOMAS, Jerry R. Physical education and paranoia: synonyms. Journal of Physical Education, Recreation & Dance, Abingdon, v. 56, n. 9, p. 20-22, 1985.
THOMAS, Jerry R.; REEVE, Gilmour T. A review and evaluation of doctoral programs 2000-2004 by the American Academy of Kinesiology and Physical Education. Quest, Abingdon, v. 58, n. 1, p. 176-196, 2006.
TWIETMEYER, Gregg. What is kinesiology? Historical and philosophical insights. Quest, Abingdon, v. 64, n. 1, p. 4-23, 2012.
VLČEK, Petr. A comparison of physical education (PE) development in the Czech Republic, Germany, and the USA: a historical perspective. Acta Universitatis Palackianae Olomucensis Gymnica, Olomouc, v. 41, n. 1, p. 51-59, 2011.
WRENN, Jerry P.; LOVE, Alice M. Whither thou goest, physical education? Physical Educator, Champaign, v. 30, n. 3, p. 139-141, 1973.
ZEIGLER, Earle F.; MCCRISTAL, King J. A history of the big ten body-of-knowledge project in physical education. Quest, Abingdon, v. 9, n. 1, p. 79-84, 1967.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2022 Educação e Pesquisa

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
A publicação do artigo em Educação e Pesquisa implica, automaticamente, por parte do(s) autor(es) a cessão integral e exclusiva dos direitos autorais da primeira edição para a revista, sem quaisquer honorários.
Após a primeira publicação, os autores têm autorização para assumir contratos adicionais, independentes da revista, para a divulgação do trabalho por outros meios (ex.: repositório institucional ou capítulo de livro), desde que citada a fonte completa, com as referências da mesma autoria e dos dados da publicação original.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões da revista.