O que nudes e divulgação não autorizada de imagens íntimas têm a lembrar à escola?
DOI:
https://doi.org/10.1590/S1678-4634202349259986porPalavras-chave:
Sexting, Exposição da intimidade, Educação em sexualidade, Infância, PolíticasResumo
A prática entre estudantes de compartilhar fotos que expõem a nudez de meninas tem sido vivenciada em grande parte das instituições escolares no Brasil e no mundo. Diversos casos reportados na mídia retratam situações de humilhação e perseguição que podem implicar, além de danos psicológicos, problemas nas relações sociais, queda no rendimento, evasão escolar e até suicídio. O trabalho objetivou discutir as relações que têm se estabelecido na escola diante da prática de compartilhamento do autorretrato nu e da divulgação não autorizada de imagens íntimas de meninas. Foram empreendidas 27 entrevistas em profundidade com meninas e mulheres de distintas regiões brasileiras que sofreram exposição de sua intimidade em diferentes momentos da vida, além de profissionais da saúde e da assistência social que atenderam adolescentes e mulheres adultas que passaram por essa situação. Os dados apontaram práticas de negligência em relação a situações de violência, culpabilização de meninas e despreparo para pautar questões concernentes à vivência da sexualidade de modo prazeroso e saudável. Observou-se que essas novas práticas da sexualidade e de violência contra meninas têm retomado, nas instituições, a oposição entre manifestação da sexualidade e bom desempenho escolar. Argumenta-se por uma educação em sexualidade pautada na questão do desejo.
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