Tiradentes em Mont-Pèlerin: Neoliberalismo e memória da Inconfidência Mineira
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2318-8855.v10i1p273-298Palavras-chave:
Inconfidência Mineira, memória, neoliberalismo, tributaçãoResumo
A Inconfidência Mineira de 1788-1789 ocupa um espaço significativo na memória coletiva nacional, e, como tal, está sujeita a apropriações por parte de toda sorte de agentes políticos de cada época. O neoliberalismo do século XXI não constituem exceção à regra. Assim, examinamos a mitologia inconfidente presente nas versões da sedição apresentadas por neoliberais, contrastando-a com as ideias de justiça tributária e liberdade próprias aos conspiradores setecentistas. Para tal, analisamos duas publicações do Partido Novo no Twitter e uma coluna de opinião na Folha de São Paulo. A narrativa da conspiração que se pode extrair dessas fontes é comparada à historiografia de referência sobre as Minas, especialmente Furtado (2002). Observamos que a reinterpretação neoliberal, anacrônica, projeta o antifiscalismo do presente no passado: é como se os inconfidentes considerassem opressiva a exigência do quinto régio e cogitassem o levante com o solitário intuito de aboli-lo. Perspectiva que deixa de reconhecer a Inconfidência como um movimento de caráter heterogêneo e ambíguo, marcado por visões díspares e igualmente tributário das Luzes e do Antigo Regime. Os sediciosos jamais estabeleceram os contornos de uma política fiscal, afinal. Ao mesmo tempo, a historiografia de referência demonstra que a quintagem do ouro correspondia ao que os mineiros consideravam como justo exercício das prerrogativas fiscais por parte da metrópole, assim como também não desejavam extinguir a referida taxa. Sua relação com a tributação não corresponde à transposição do antifiscalismo neoliberal do século XXI para o passado, mas, ao contrário, deve ser entendida em sua própria historicidade.
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