Thomas Hobbes e John Milton: as disputas em torno do direito de resistência e as prerrogativas do poder soberano na Revolução Inglesa
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2318-8855.v14i1p817-847Palavras-chave:
Estado de Natureza, Guerras de Religião, John Milton, Revolução Inglesa, Thomas HobbesResumo
O presente artigo tem por objetivo demonstrar que o recurso ao Estado de Natureza e a delineação das características e natureza do pacto que dá origem ao soberano na filosofia política hobbesiana não se tratam de uma mera abstração na construção de um sistema com pretensões científicas, mas encontram-se em diálogo com seu contexto histórico e político. As chamadas Guerras de Religião e a retórica teológica da Revolução Inglesa exerceram forte influência nas preocupações de Hobbes com o estabelecimento da paz, levando-o a classificar uma série de heranças do pensamento político calvinista e monarcômaco, que foram mobilizadas por autores como John Milton ao defender a execução de Carlos I, como “doenças do corpo político”. Entre elas: a doutrina do tiranicídio, a divisão entre poder temporal e espiritual e a desobediência motivada pela crença de que é pecado agir contra a consciência. O Estado de Natureza e o pacto decorrente permitiram a Hobbes fundamentar a sociedade civil a partir da razão natural pressupondo um Deus criador sem a necessidade de vincular a justiça civil aos preceitos bíblicos revelados. Dessa forma, a fundamentação do poder político não ficaria à mercê de exegeses bíblicas conflitantes, que foram profusas durante a Revolução Inglesa, com o poder soberano detendo o monopólio da interpretação bíblica. O presente trabalho fundamenta-se sobre pesquisa bibliográfica de comentadores autorizados e em uma leitura estrutural das obras de Thomas Hobbes e John Milton.
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