A mídia e o monstro: apontamentos sobre criptozoologia, cultura midiática e sensacionalismo no Brasil a partir das narrativas do Monstro do Lago Ness (1933–1945)
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2318-8855.v14i1p176-215Palavras-chave:
Brasil, criptozoologia, cultura midiática, Monstro do Lago Ness, sensacionalismoResumo
Nas décadas de 1930 e 1940, enquanto o Brasil atravessava um período de instabilidades políticas e intensa modernização industrial, corriam mundo notícias sensacionalistas sobre o avistamento de um monstro nas águas do Lago Ness, na Escócia. Este artigo tem como objetivo oferecer apontamentos sobre a cultura midiática no Brasil a partir desse acontecimento, amplamente noticiado pela imprensa nacional. Para a investigação, foram coletadas notícias publicadas em 25 periódicos e revistas, com o intuito de realizar um estudo sobre a circulação desse tipo de informação entre o Brasil e a Europa, com base em dados inicialmente quantitativos. Em seguida, considerando-se a “mania de monstros” em voga naquelas décadas como um fenômeno de consonância epistêmica e estética, e de ressonância cultural em nível global, buscou-se analisá-lo a partir do escopo da reprodutibilidade técnica, aplicada às representações iconográficas do Monstro. Conclui-se que esse fenômeno foi capaz de expressar disputas e relações culturais mais profundas, estabelecidas em decorrência dos efeitos da difusão massiva da informação sobre o imaginário social brasileiro, reverberando na criação de mitos e projetos de memória nacionais.
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Referências
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