A prata como tom de cinza ch’ixi: uma vista do Cerro Rico de Potosí a partir das cosmohistórias e cosmopolíticas andinas
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2318-8855.v14i1p242-270Palavras-chave:
chi’xi, Cosmohistória, huaca, Potosí, TíoResumo
O Cerro Rico de Potosí é considerado, historicamente, uma das montanhas mais importantes enquanto fornecedora de minérios para o mercado global da modernidade, sendo, assim, estudado vastamente em seus aspectos econômicos, políticos, naturais – em um mundo estruturado por essas categorizações. O que se pretende neste artigo é um estudo de aspectos cosmohistóricos e cosmopolíticos de Potosí, posição que se baseia nas proposições de Federico Navarrete e Isabelle Stengers, que questionam a separação total entre história e mito, material e espiritual, natureza e cultura. Por meio de contribuições metodológicas da antropologia contemporânea que envolvem as ideias de equivocação controlada e conexões parciais, o trabalho busca abordar o Cerro Rico a partir de outros mundos que se relacionam com ele, constituindo-o como uma entidade que excede a história, ao mesmo tempo que a compõe. Nesse sentido, Potosí como huaca, e relacionado à Pachamama, à Virgem, ao Tío, Tataq’aqchu, e outros seres não abarcados nesse artigo, corresponde a uma existência possível disso que não é apenas uma montanha provedora de recursos naturais. O que resulta desse exercício é a revelação de um mundo chi’xi, segundo o que explica Silvia Rivera Cusicanqui, que existe ancestralmente e contemporaneamente, e produz verdades, parciais e negociadas, não menos verdadeiras do que as contadas pela historiografia tradicional sobre as relações entre o mundo humano e o mundo natural.
Downloads
Referências
ABSI, Pascale. Los ministros del diablo: El trabajo y sus representaciones en las minas de Potosí. [s.l.] Institut français d’études andines, 2005.
ARAÚJO, Lorena. Etnodemonologia andina: o feminino nos processos eclesiásticos no Vice-Reino do Peru, século XVII. Assis, São Paulo. Faces da História, v. 7, n. 1, 75-96, 2020.
ASTVALDSSON, Astvaldur. El flujo de la vida humana: el significado del término-concepto de huaca en los andes. [sl.:s.n], 2004.
AUSTÍN, Alfredo López; MILLONES, Luís. Cuernos y colas: Reflexiones en torno al Demonio en los Andes y Mesoamérica. Lima: Fontoura Editorial de la Asamblea Nacional de Rectores, 2013.
BAKEWELL, Peter. Mineros de la montaña roja. Alianza Editorial, 1984.
BARRAGÁN, Rosana. From Silver to Tin to Lithium: Five Centuries of Mining in Potosí. In: Soliz, Carmen; Barragán, Rosana. The struggle for natural resources: Bolivian History. Estados Unidos: University of New Mexico Press, 2024.
BIANCHI, Guilherme. Historicidades em deslocamento: temporalidade e política em mundos amerindios. Rio de Janeiro: Editora Autografia, 2023.
BOUYSSE-CASSAGNE, Therèse. El sol de adentro: Wakas y santos en las minas de Charcas y en el Lago Titicaca (siglos XV a XVII). In: Boletín de Arqueología PUCP, n.8, pp. 59-97, 2004.
BUGALLO, Lucila. Pachamama y Coquena: Seres poderosos en los Andes del sur. In: Óscar Muñoz Morãn (coord.), Andes. Ensayos de Etnografía Teórica. Madrid: NOLA Editores, 2020.
CABALLERO, Luz Helena. La Virgen del Cerro: Paisaje e Imagen Sagrada. 2020. Disponível em: https://historiadelarte.uniandes.edu.co/clio/septima-edicion/la-virgen-del-cerro-paisaje-e-imagen-sagrada/. Acesso em: 31 mar. 2025.
CADENA, Marisol de la. Seres-terra: cosmopolíticas em mundos andinos. Rio de Janeiro: Bazar do tempo, 2024.
CERECEDA, Verónica. En Torno Al Supay Andino El Aporte De Lo Visual a Su Interpretacion. In: Wak'as, Diablos y Muertos.Alteridades Significantes En El Mundo Andino. L.Bugallo, M.Vilca, Compiladores. Jujuy, Universidade Nacional de Jujuy, 2016.
CRUZ, Pablo. Huacas olvidadas y cerros santos: apuntes metodológicos sobre la cartografía sagrada en los Andes del sur de Bolivia. Estudios atacamenõs, n. 38, 2009, 55-74.
CUSIQANQUI, Silvia R. Un mundo chi'xi es posible: ensayos desde un presente en crisis. Buenos Aires: Tinta Limón, 2018.
FUENTE SANCT ANGEL, R. De La. Relación del cerro de Potosí y su descubrimiento. En Relaciones geográficas de Indias vol. 185, M. Jiménez de la Espada (Comp.). Biblioteca de Autores Españoles, Madrid: 1965 [1572].
GARCILASO DE LA VEGA, Inca. Comentarios Reales de los Incas. Buenos Aires: Emecé, 1943 [1609].
ITIER, César. “Huaca”, un concepto andino mal entendido. Chungara Revista de Antropología Chilena, v. 53, n. 3, 2021, 480-490.
INSTRUCTIONS and possibilities to scare a mountain. Direção/produção: River Claure. Potosí, Bolivia: Nowness, 2024.
LATOUR, Bruno. Reassembling the Social: An Introduction to Actor-Network-Theory. Oxford: Oxford University Press, 2005.
LEMA, Verónica S. Cuando el diablo mete la cola: khoro, chamanismos y mundos liminales en los Andes centro sur. Revue d’ethnoécologie, no 23, 2023.
LÉVI-STRAUSS, Claude. O pensamento selvagem. (Trad.: Tânia Pellegrini) Campinas: Papirus, 2008 [1962].
LIMA, Ana Gabriela Morim de. “Uma roça impej”. In: Revista Piseagrama, v.1, 2023.
MUELAS, Liliana. Encuentro sobre archivos de DDHH, oralidad, territorio y comunidades indígenas. Centro Nacional de Memoria Histórica, Bogotá, 15 de julho de 2014.
MURRA, John. As sociedades andinas anteriores a 1532. In: In: Bethel, Leslie (Org.). História da América Latina: América Latina Colonial. Vol. 1., 2. ed., São Paulo: Edusp; Brasília. DF: Fundação Alexandre de Gusmão, 2012 [1984], 63-99.
NASH, June. Devils, witches and sudden death. Natural History 81, 3: 52-59, 82-83, 1972.
NAVARRETE LINARES, Federico. Las fuentes indígenas más allá de la dicotomía entre historia y mito. Estudios de cultura Náhuatl, v. 30, 1999, 231-256.
NAVARRETE LINARES, Federico. Entre a cosmopolítica e a cosmohistória: tempos fabricados e deuses xamãs entre os astecas. Revista Antropologia. São Paulo, Online, 59 (2): 86-108, agosto/2016.
PADILHA, Amanda Carvalho. Trabalho e imaginário em Potosí-Bolívia. Dissertação (Mestrado em Educação, Conhecimento e Inclusão Social) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2020.
QUISPE-AGNOLI, R. El silencio de Guamán Poma de Ayala ante Supay: de duende, espíritu y fantasma a diablo. Letras (Lima), 85(121), 47-62, 2014.
SANCHO AGUILAR, Narciso. Vida, muerte y dioses em las minas de Potosí: El Tío, Pachamama... Universidad de Valladolid, 2020.
SEIXLACK, Alessandra Gonzalez de Carvalho. Os parlamentos hispano-mapuche no período colonial: um exercício de interpretação histórica à luz da cosmohistória e da cosmopolítica. Revista Maracanan, v. 1, p. 245, 2024.
SILVA GUIMARÃES, Danilo Silva. Dialogical multiplication: Principles for an indigenous psychology. 1. ed. Cham, Switzerland: Springer Nature, 2021.
STENGERS, Isabelle. A proposição cosmopolítica. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, Brasil, n. 69, p. 442-464, abr. 2018.
STRATHERN, Marilyn. Parcial connections. Rowman & Littlefield Publishing Group, 2004.
TAUSSIG, Michael T. O diabo e o fetichismo da mercadoria na América do Sul, tradução Priscila Santos da Costa. São Paulo: Editora UNESP, 2010.
TUPINAMBÁ, Glicéria. O território sonha. In: Terra: Antologia Afro-Indígena. São Paulo/Belo Horizonte: Ubu Editora/Piseagrama, 2023, p.179-191.
VIEZZER, Moema. Si Me Permiten Hablar. Testimonio de Domitila, Una Mujer de Las Minas de Bolivia. México: Siglo XXI Ediciones, 2005.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Os pronomes cosmológicos e o perspectivismo ameríndio. Mana, v.2, n.2, p.115-144, 1996.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. A antropologia Perspectivista e o método da equivocação controlada. Aceno – Revista de Antropologia do Centro-Oeste, 5 (10): 247-264, agosto a dezembro de 2018.
Referências das imagens
Imagem 1: RIVER CLAURE. Instructions and possibilities to scare a mountain. 2024.
Imagem 2: CASA NACIONAL DE MONEDA DE BOLIVIA. La Virgen del Cerro. Séc. XVIII (s.d.).
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Paula Zeitoun Miranda

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
A revista Epígrafe não exerce cobrança pelas contribuições recebidas, garantindo o compartilhamento universal de suas publicações. Os autores mantêm os direitos autorais sobre os textos originais e inéditos que disponibilizarem e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.