A peregrinação medieval sob a perspectiva de Salimbene de Parma: uma análise das práticas peregrinas e das percepções do cronista em sua obra Cronica

Resumo

Este artigo analisa a peregrinação medieval na obra Cronica de Salimbene de Parma, destacando sua natureza urbana e política. O objetivo central é demonstrar como a peregrinação, além de um movimento religioso, era uma prática essencialmente vinculada às cidades, refletindo as dinâmicas sociais, políticas e econômicas da Idade Média. A metodologia consistiu no mapeamento de termos latinos relacionados à peregrinação (como peregrini e peregrinatio) no primeiro volume da Cronica (1966) editado por Giuseppe Scalia, seguido da comparação com a tradução italiana de Berardo Rossi (1987) para leitura dos trechos. Foram selecionadas passagens que ilustram aspectos cotidianos e sociais, excluindo referências estritamente bíblicas. Os resultados revelam que Salimbene retrata a peregrinação como um fenômeno coletivo e urbano, associado tanto à devoção quanto a conflitos armados. O termo peregrino apresenta polissemia em sua obra (devotos, estrangeiros, combatentes) e está frequentemente ligado à política. A visão joaquimita de Salimbene, que interpretava os eventos à luz de uma escatologia milenarista, influenciou sua percepção da peregrinação como um sinal de transformação espiritual. Além disso, as cidades emergem como núcleos dinâmicos, beneficiando-se economicamente e simbolicamente do fluxo de peregrinos. Concluiu-se que a peregrinação na Cronica é um movimento multifacetado, integrando religião, política e urbanidade. Salimbene enfatiza seu caráter coletivo e sua conexão com as cidades, reforçando a ideia de que a peregrinação medieval era um elemento central na teia social da época. Ao fim, o estudo sugere a necessidade de investigações comparativas com outras crônicas mendicantes para ampliar a compreensão desse fenômeno.