Dar lugar à palavra: reverberações da clínica com imigrantes bolivianos num CAPS infantojuvenil

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v27i3p346-363

Palavras-chave:

Saúde mental infantojuvenil, imigração boliviana, atraso do desenvolvimento infantil, CAPS infantojuvenil, autismo

Resumo

A chegada de crianças filhas de imigrantes bolivianos no CAPS infantojuvenil Mooca vem ocorrendo com maior frequência. Essas crianças chegam ao serviço com queixas de problemas do desenvolvimento, destacando-se atraso na fala e dificuldade na interação, muitos com a hipótese diagnóstica de autismo interrogada. Neste artigo, apresentaremos um grupo terapêutico com imigrantes, que possibilitou um espaço de acolhimento para crianças e famílias e a abertura para narrar e elaborar sobre vivências de sofrimento, desenraizamento e solidão. Buscaremos ampliar as leituras possíveis para os problemas do desenvolvimento apresentados pelas crianças, interrogando como podem estar relacionados à experiência de imigração e seus efeitos sociopolíticos na subjetividade. Por fim, discutiremos como a demanda social por diagnósticos responde à razão psiquiátrica contemporânea e não à demanda de cuidado e escuta das crianças.

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Biografia do Autor

  • Julia Hatakeyama Joia, Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil Mooca Giravida

    Psicóloga e psicanalista. Mestre em Psicologia Social. Integrante do Coletivo Sustentar – psicanálise, infâncias e saúde pública, do Departamento de Psicanálise com Crianças do Instituto Sedes Sapientae.  Trabalhadora do CAPS Infantojuvenil Mooca. São Paulo, SP, Brasil.

  • Janaína Lopes Diogo, Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil Mooca Giravida

    Psicóloga e psicanalista.  Discente no Mestrado Profissional Interunidades: Formação Interdisciplinar em Saúde – USP. Integrante do Coletivo Sustentar – psicanálise, infâncias e saúde pública, do Departamento de Psicanálise com Crianças do Instituto Sedes Sapientae. Trabalhadora do CAPS Infantojuvenil Mooca, São Paulo, SP, Brasil.

  • Sthefânia Kurkdjian Restiffe de Carvalho, Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil Mooca Giravida

    Psicóloga, psicanalista e acompanhante terapêutica. Especialização em Psicanálise com Crianças pelo Instituto Sedes Sapientiae. Integrante do Coletivo Sustentar – psicanálise, infâncias e saúde pública, do Departamento de Psicanálise com Crianças do Instituto Sedes Sapientae. Trabalhadora do CAPS Infantojuvenil Mooca. São Paulo, SP, Brasil.

  • Cláudia Nabarro Munhoz, Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil Mooca Giravida

    Psicóloga e psicanalista. Mestre em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo, com especialização em Estimulação Precoce pelo Instituto Travessias da Infância - Centro Lydia Coriat São Paulo.Trabalhadora do CAPS Infantojuvenil Mooca. São Paulo, SP, Brasil.

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Publicado

2022-12-18

Como Citar

Joia, J. H., Diogo, J. L., Carvalho, S. K. R. de, & Munhoz, C. N. (2022). Dar lugar à palavra: reverberações da clínica com imigrantes bolivianos num CAPS infantojuvenil. Estilos Da Clinica, 27(3), 346-363. https://doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v27i3p346-363