A construção dos conhecimentos sobre circulação sanguínea:

O diálogo de William Harvey e seus antecessores.

Autores

  • Luana Beatriz Xavier Nunes Universidade de São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2178-6224v19i1p45-63

Palavras-chave:

Circulação sanguínea, Século XVII, História da Biologia, William Harvey

Resumo

William Harvey (1578-1656) apresentou a doutrina da circulação do sangue em 1628, em sua obra De motu cordis, considerada seu trabalho mais importante. O tratado foi resultado de nove anos de observações e demonstrações anatômicas de animais e humanos e causou grande impacto entre médicos, filósofos e anatomistas do período, gerando diversos comentários e refutações, principalmente porque as ideias de Harvey sobre a circulação implicavam a quebra de autoridade e do conhecimento tradicional que era aceito na época. Entretanto, a doutrina da circulação do sangue foi resultado de um conhecimento construído desde a Antiguidade até o início do século XVII e apesar de a obra de Harvey ser considerada um marco na mudança do pensamento fisiológico e anatômico e devido a seu estilo de pensamento lógico e sua firmeza em refutar ideias de seus antecessores, é inegável a contribuição de seus antecessores na construção do conhecimento sobre a circulação sanguínea. Este trabalho tem por objetivo apresentar alguns dos pressupostos que constituíram a tradição médica do período e como essas contribuições influenciaram Harvey, seu método e suas conclusões a respeito da anatomia cardiovascular, movimentos do coração e movimento do sangue em sistema fechado.

Referências

AIRD, William C. Discovery of the cardiovascular system: from Galen to William Harvey. Journal of Thrombosis and Haemostasis, 9 (1): 118–129, 2011. DOI: http://dx.doi.org/10.1111/j.1538-7836.2011.04312.x.

ALFONSO-GOLDFARB, Ana Maria. O que é História da Ciência. São Paulo, Brasiliense, 1994. (Col. Primeiros Passos).

ARISTÓTELES. História dos animais. Livros I-IV Tradução: Paula Lobo Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2006. Disponível em <http://www.obrasdearistoteles.net/files/volumes/0000000026.pdf>. Acesso em: 21 nov. 2022.

ARISTÓTELES. Partes dos animais. Tradução de Maria de Fátima Sousa e Silva. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2010. Disponível em: <http://www.obrasdearistoteles.net/files/volumes/0000000029.pdf>. Acesso em: 21/11/ 2022.

AZIZI, Mohammad- Hossein; NAYERNOURI, Touraj; AZIZI, Farzaneh. A Brief History of the Discovery of the Circulation of Blood in the Human Body. Arch Iranian Med, 11, (3): 345-350, 2008. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18426332>. Acesso em: 16 out. 2022

BUTTERFIELD, Herbert. The origins of modern science. London: G. Bell and Sons LTD, 1973.

BYNUM, William. História da medicina. Tradução: Flávia Souto Maior. Porto Alegre: L&PM, 2011.

COULTER, H. L. Divided legacy : a history of schism in medical thought. Vol. 1. Washington, DC: Wehawken Book, 1975.

CUNNINGHAM, Andrew. The anatomical renaissance. The ressurrection of the anatomical projects of the ancients. Aldershot, England: Scholar Press, 1997.

GALEN, Claudius. The construction of the embryo. 652-702. Pp. 177-201, in: P. N. Singer (trad.) Galen Selected works. Oxford: Ox-ford University Press, 1997.

FARA, Patricia. William Harvey, an Aristotelian anatomist. Endeavour, 31(2): 43-44, 2007.

DOI: https://doi.org/10.1016/j.endeavour.2007.05.006

FRENCH, Roger. William Harvey's natural philosophy. Cambridge: Cambridge University Press, 1994.

FRIEDMAN, Meyer; FRIEDLAND, Gerald, W. As dez maiores des-cobertas da medicina. Trad. José Rubens Siqueira. São Paulo: Com-panhia das Letras, 2001.

FURLONG, Gillian. A revolutionary discovery on the circulation of the blood. Pp. 29-31, in: Treasures from UCL. London: UCL Press, 2015. https://doi.org/10.2307/j.ctt1g69xrh.35.

GOLDBERG, Benjamin. William Harvey on anatomy and experience. Perspectives on Science, 24 (3): 305-323, 2016. DOI: https://doi.org/10.1162/POSC_a_00208.

GRMEK, Mirko; BERNABEO, Raffaele. La machine du corps, in: GRMEK, Mirko (org.) Histoire de la pensée médicale en Occident. Vol. 2. Paris: Seuil, 1997.

HARVEY, William. Anatomical studies on the motion of the heart and blood. [1628]. Trad. Chauncey D. Leake. Spingfield, Illinois; Baltimore, Maryland: Charles C. Thomas, 1928.

HARVEY, William. Estudo anatômico sobre o movimento do coração e do sangue nos animais. Trad. Regina Andrés Rebollo. São Paulo: Edito-ra da Unesp, 2012.

HIPÓCRATES, Oeuvres complètes d’ Hippocrate. Trad. E. Littré. Tome neuvième. Paris: J. B. Baillière et Fils, 1861.

HIPÓCRATES. Conhecer, cuidar, amar: O juramento e outros textos. Trad. Dunia Marino Silva. São Paulo: Landy, 2002.

KEY, Jack. D.; KEYS, Thomas. E.; CALLAHAN, John. A. Histor-ical development of concept of blood circulation. The American Journal of Cardiology. 43: 026-1032, 1979. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/373409>. Acesso em: 16/10/2022.

MARTINS, Lilian Al-Chueyr Pereira; SILVA, Paulo José Carvalho da; MUTARELLI, Sandra Kuka. A teoria dos temperamentos: do Corpus hippocraticum ao século XIX. Memorandum 14: 9-24, 2008. Disponível em: <https://periodicos.ufmg.br/index.php/memorandum/article/view/6689>. Acesso em: 22/06/2024.

MARTINS, Roberto de Andrade. A teoria aristotélica da respiração. Cadernos de História e Filosofia da Ciência, 2 (2): 165-212, 1990. Dis-ponível em: <http://ghtc.ifi.unicamp.br/pdf/ram-39.pdf>. Acesso em: 30/10/2023.

MARTINS, Roberto de Andrade. Aristóteles e o estudo dos seres vivos. São Paulo: Livraria da Física, 2015.

MUTARELLI, Sandra Kuka. Os quatro temperamentos na antroposofia de Rudolf Steiner. São Paulo, 2006. Dissertação (Mestrado em Histó-ria da Ciência) Programa de Estudos Pós-Graduados em Histó-ria da Ciência, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

NOGUEIRA, Luciano J.; MONTANARI, Carlos A.; DONNICI, Claudio L. Histórico da evolução da química medicinal e a im-portância da lipofilia: de Hipócrates e Galeno a Paracelsus e as contribuições de Overton e de Hansch. Revista Virtual de Química, 1 (3): 227‐240, 2009. Disponível em: <http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/quimica/hist_evol_quim_medicinal.pdf >. Aces-so em 21 out. 2023.

PAGEL, Walter. William Harvey and the purpose of circulation. Isis, 42 (1): 22-38, 1951.

PEARCE, J. M. S. Malpighi and the discovery of capillaries. Europe-an Neurology, 58 (4): 253-255, 2007.

PLOCHMANN, George. William Harvey and his methods. Univer-sity of Chicago Press. 10: 192-210, 1963. Disponível em: <http://www.jstor.org/stable/2857056> Acesso em: 16/10/ 2023.

REBOLLO, Regina A. A difusão da doutrina da circulação do san-gue: a correspondência entre William Harvey e Caspar Hofmann em maio de 1636. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, 9: 479-513, 2002. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-59702002000300002.

REBOLLO, Regina. A. O legado hipocrático e sua fortuna no perí-odo greco-romano: de Cós a Galeno. Scientiæ Studia, 4(1):45-82, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.brscielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-31662006000100003>. Acesso em 19/08/2023.

REBOLLO, Regina. A. William Harvey e a descoberta da circulação do sangue. São Paulo: Editora Unesp, 2013.

RISKIN, Jessica. The restless clock: A history of the centuries-long argument over what makes living things tick. Chicago: The University of Chica-go Press, 2016.

SINGER, Charles. Uma breve história da anatomia e fisiologia desde os gregos até Harvey. Trad. Maria Rachel Araujo. Campinas: Editora da UNICAMP, 1996.

WEST, John B. Marcello Malpighi and the discovery of the pulmo-nary capillaries and alveoli. American Journal of Physiology-Lung Cellu-lar and Molecular Physiology, 304 (6): 383-390, 2013.

WHITTERIDGE, Gwenet. William Harvey on the circulation of the blood and on generation. The American Journal of Medicine, 65: 888-890, 1978.

capa

Downloads

Publicado

2024-06-29

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

XAVIER NUNES, Luana Beatriz. A construção dos conhecimentos sobre circulação sanguínea:: O diálogo de William Harvey e seus antecessores. Filosofia e História da Biologia , São Paulo, Brasil, v. 19, n. 1, p. 45–63, 2024. DOI: 10.11606/issn.2178-6224v19i1p45-63. Disponível em: https://revistas.usp.br/fhb/article/view/fhb-v19-n1-03.. Acesso em: 2 jul. 2024.