Morcegos: a intrigante formação de um imaginário popular que transformou o preconceito em uma questão ambiental

Autores

  • Nicholas Prado Universidade Santa Úrsula
  • Anderson Mendes Augusto Fundação Hermann Weege. Zoo Pomerode
  • Bruno Araujo Absolon Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Laboratório de sistemática e biogeografia

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2178-6224v19i2p%25p

Palavras-chave:

Exploração do novo mundo, Imaginário popular, Morcegos, Vampiros

Resumo

O imaginário popular é moldado por símbolos, conceitos e memórias que contribuem para a formação de ideias, reais ou fictícias em alguns grupos sociais. Muitas vezes, essas representações transcendem as circunstâncias do mundo real e se transformam em crenças infundadas, resultando em preconceitos. Entre os animais mais prejudicados no imaginário popular estão os morcegos que, apesar de sua importância para o ecossistema, têm seu papel obscurecido. Grande parte da população os considera repulsivos e aterrorizantes, pelo fato de serem noturnos, o que os associa ao sobrenatural, com conotação maligna. Uma das associações mais frequentes é a relação entre morcegos e vampiros, desenvolvida a partir do século XVI. Relatos sobre animais sugadores de sangue na América do Sul e Central produzidos entre 1500 e 1900  podem ter contribuído para isso. Por outro lado, algumas obras literárias que posteriormente foram transformadas em filmes reforçaram essa visão. Tudo isso ameaça  a existência  desses animais. Contudo há filmes contribuíram para uma percepção mais positiva desses mamíferos. Mais recentemente, embora haja publicações que apresentem os morcegos como transmissores de doenças, inclusive do vírus da COVID19, há vários estudos que não corroboram essa visão e chamam a atenção para a importância de preservar os  morcegos sob vários motivos, inclusive, ecológicos, e sugerem formas de manejo, que permitam sua preservação e convivência com outros animais, incluindo os seres humanos.

Referências

ALMEIDA, Francisco José de Lacerda. Diários de viagem. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1944.

ANDERSEN, Kristian G.; RAMBAUT, Andrew; LIPKIN, W. Ian; HOLMES, Edward C. The proximal origin of SARS-CoV-2. Nature Medicine, 26, (4): 450-452, 2020. DOI: 10.1038/s41591-020-0820-9.

BERTRAN, Paulo (Org.). Notícia geral da capitania de Goiás – 1783. Goiânia: Solo Editores, 1997.

BOYLES, Justin G.; CRYAN, Paul M.; McCRAKEN, Gary F.; KUNZ, Thomas H. Economic importance of bats in agriculture. Science, 332 (6025): 41-42, 2011. DOI: 10.1126/science.1201366.

CHENG, Vincent C C.; LAU, Susanna K.; WOO, Kwok Yung Yuen. Severe acute respiratory syndrome coronavirus as an agent of emerging and reemerging infection. Clinical Microbiology Reviews, 20, (4): 660-694, 2007. DOI: https://doi.org/10.1128/cmr.00023-07.

COLLIN DE PLANCY, Jacques Auguste Simon. Dictionnaire infernal. Paris: Éditions de la Culture, 1863.

DARWIN, Charles. [1839].Viagem de um naturalista ao redor do mundo. Trad. Pedro Gonzaga. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2008.

DUARTE, Gisele Silva Costa; Ortêncio Filho, Henrique; DUARTE, Romulo Mateus; MAGALHÃES Júnior, Carlos Alberto de Oliveira Educação ambiental e representações sociais sobre morcegos: investigação com alunos do ensino médio, no noroeste do Paraná. Revista Valore, 6: 761-768, 2021. DOI: https://doi.org/10.22408/reva602021847761-768.

DURIGAN, Giselda; SILVEIRA, Elton Rodrigo da. Recomposição da mata ciliar em domínio de cerrado, Assis. Scientia Forestalis, 56: 135-144, 1999.

FERNANDEZ, Ana Z; TABLANTE, Alfonso; BEGUIN, Suzette; HEMKER, H. Conrad; APITZ-CASTRO, Rafael. Draculin, the anticoagulant factor in vampire bat saliva, is a tight-binding, noncompetitive inhibitor of activated factor X. Biochimica et Biophysica Acta (BBA)-Protein Structure and Molecular Enzymology, 1434 (1): 135-142, 1999. Disponível em: https://cris.maastrichtuniversity.nl/en/publications/draculin-the-anticoagulant-factor-in-vampire-bat-saliva-is-a-tigh/fingerprints/ Acesso em: 10 dez. 2024.

FERREIRA, Alexandre Rodrigues. Viagem filosófica pelas capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá: Memórias. Zoologia e Botânica. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura, 1972.

FIGUEIREDO, Francisco; GALLO, Valéria; ABSOLON, Bruno. Zoo in Rio: uma história da fauna carioca, do Brasil colonial ao Estado Novo. Rio de Janeiro: Conexão 7, 2019.

GÂNDAVO, Pero de Magalhães. O monstro marinho Ipupiara, figura mítica pertencente ao livro Historia da provincia Sancta Cruz, de Pero de Magalhães Gândavo, de 1576. 1576. Disponível em:

KOOPMAN, Karl F. Systematics and distribution. Pp. 7-17, in: GREENHALL, Arthur. SCHMIDT, Uwe. (Eds.) Natural history of vampire bats. Boca Raton: CRC Press, 2018.

KUNZ, Thomas H; TORREZ, E. Bauer de; LOBOVA, T; FLEMING, T. H. Ecosystem services provided by bats. Annals of the New York Academy of Sciences, 1223 (1): 1-38, 2011. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1749-6632.2011.06004.x.

MASSAPUST, Shirlei. Saravá Exu Morcego. Academia, 2018. Disponível em:<https://www.academia.edu/36354869/Sarav%C3%A1_Exu_Morcego_docx>. Acesso em: 16 nov. 2024.

MEDEIROS, Alexandre; MEDEIROS, Cleide. Os raios no imaginário popular. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, 2 (3): 84-96, 2002. https://doi.org/10.22408/reva602021847761-76.

NOVAIS, Bruna A. F.; ZAPPA, Vanessa. Raiva em bovinos–revisão de literatura. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia de Garça. 10, 2008.

NOVAES, Roberto Leonan Morim. Morcegos são culpados pela pandemia de COVID-19? Sociedade Brasileira de Mastozoologia, 2020. Disponível em: <https://sbmz.org/morcegos-sao-culpados-pela-pandemia-de-covid-19/>. Acesso em: 2 Ag. 2024.

PAPAVERO, Nelson; TEIXEIRA, Dante Martins; CHIQUIERI, Abner. The “Adnotationes” of the jesuit Johann Breuer on the natural history of the missiono f Ibiapaba, Ceará (1789. Arquivos de Zoologia, 42 (3): 133-159, 2011. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2176-7793.v42i3p133-159.

PEREIRA, J. J. Memoria sobre a extrema fome e triste situação em que se achava o sertão da Ribeira do Apody da capitania do Rio Grande do Norte, da comarca da Parahiba de Pernambuco; onde se descrevem os meios de occorrer a estes males futuros; etc., etc. Pelo Paddre Joaquim José Pereira, que a dirige ao Illmo e Exmo Sr. D. Rodrigo de Sousa Coutinho, Conselheiro, Ministro e Secretario de Estado dos Negocios da Marinha, e Dominios ultramarinos, etc., etc. Anno de 1798. Revista do Instituto Historico e Geographico Brazileiro, 20:175-183, 1857.

PERACCHI, Adriano Lucio; LIMA, Isaac P. de.; REIS, Nelio R. NOGUEIRA, Marcelo R.; FILHO, Henrique O. Ordem Chiroptera. Pp. 153-162, in: REIS, Nelio Roberto; PERACCHI, Adriano Lúcio; PEDRO Wagner André.; LIMA, Isaac Passos (Eds). Mamíferos do Brasil. Londrina: EDIFURB, 2006.

SILVEIRA, J. Queirós da. Viagem e visita do Sertão em o Bispado do Gram-Pará em 1762 e 1763. Revista Trimensal de Historia e Geographia, 9:179-226, 1847.

SILVER, Alan; URSINI, James. The vampire film: From Nosferatu to true blood. Fourth edition. Milkwaukee: Hal Leonard Corporation, 2011.

SIMMONS, Nancy B. Order Chiroptera. Pp. 312-529, in: WILSON, Don. E.; REEDER, DeeAnn M. (Eds.). Mammal species of the world: a taxonomic and geographic reference. Vol. 1. 3rd ed., 2005.

STOKER, Bram. [1897]. Drácula. Trad. Cássio Yamamura. São Paulo: Excelsior, 2020. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2176-7793.v43i2p109-142.

TEIXEIRA, Dante Martins; PAPAVERO, Nelson. Uma breve história dos morcegos vampiros (Chiroptera, Phyllostomidae, Desmodontinae) no Brasil colônia. Arquivos de Zoologia, 43 (2): 109-142. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2176-7793.v43i2p109-142.

VAN ELFEREN, Isabella. Music, absinth, lace: goth club culture. Gothic Study Day; 06 Dec. London: UK, .2014 (Conference).

ZHOU, Peng; YANG, Xinglou; WANG, Xian-Guang. A pneumonia outbreak associated with a new coronavirus of probable bat origin. Nature, 579 (7798): 270-273, 2020. DOI:10.1038/s41586-020-2012-7.

Downloads

Publicado

2025-06-30

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

PRADO, Nicholas; AUGUSTO, Anderson Mendes; ABSOLON, Bruno Araujo. Morcegos: a intrigante formação de um imaginário popular que transformou o preconceito em uma questão ambiental. Filosofia e História da Biologia , São Paulo, Brasil, v. 20, n. 1, p. 95–116, 2025. DOI: 10.11606/issn.2178-6224v19i2p%p. Disponível em: https://revistas.usp.br/fhb/article/view/fhb-v20-n1-05.. Acesso em: 14 jul. 2025.