Ecos dantescos na literatura colonial brasileira? O caso de José de Anchieta e o auto sacramental Na Vila de Vitória

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2238-8281.v0i53p47-71

Palavras-chave:

Anchieta, Anacronia, Commedia, Dante, Leitura

Resumo

O presente artigo investigará os possíveis ecos da Divina Commedia no auto sacramental Na Vila de Vitória, de José de Anchieta, uma vez que parte da crítica brasileira identifica, nesse teatro quinhentista, traços dantescos, especialmente na alegoria da ingratidão, associada por alguns à figura da loba do Canto I do Inferno. No entanto, a hipótese aqui proposta questiona tais leituras, de propósito afiliativo, considerando-as, em certa medida, anacrônicas. Pelas nossas leituras, demonstraremos que é mais plausível que Anchieta tenha se inspirado em fontes amplamente difundidas no universo jesuítico e medieval do seu período, como a Bíblia, os escritos de Isidoro de Sevilha e os bestiários, do que em uma leitura direta do poeta florentino, autor que não estava tão em voga nos cânones portugueses do século XV e XVI.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Referências

ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Cartas Jesuíticas: Cartas Avulsas (1550-1560). Rio de Janeiro: Officina Industrial Graphica, 1931.

ANCHIETA, J. Na vila de Vitória. In: PINTO, E. P. O auto da ingratidão: Na vila de Vitória. São Paulo: Secretaria da Cultura, Ciência e Tecnologia, Conselho Estadual de Artes e Ciências Humanas, 1978.

ARAÚJO, J. S. O perfil do leitor colonial. Rio de Janeiro: UFRJ, 1988.

AZEVEDO FILHO, L. A. de. Anchieta, a Idade Média e o Barroco. Rio de Janeiro: Edições Gernasaroco. Rio de Janeiro: Edições Gernasa, 1966.

BARTHES. R. A preparação do romance II: a obra como vontade. Tradução de Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

BENJAMIN, W. O anjo da história. Organização e tradução de João Barrento. Rio de Janeiro: Autêntica, 2012.

BERARDINELLI, C. Anchieta, o Brasil e a função catequista do seu teatro. In: Actas do Congresso Internacional Anchieta em Coimbra Colégio das Artes da Universidade (1548-1998), 2000, Porto. Tomo I. Porto: Fundação Eng. António de Almeida, 2000. P. 351-364.

BÍBLIA. Bíblia de Jerusalém. Paulus: São Paulo, 2016.

BLOCH, M. Apologia da história, ou, O ofício de historiador. Prefácio de Jacques Le Goff; apresentação à edição brasileira de Lilia Moritz Schwarcz; tradução de André Telles. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.

BORGES, J. L. Obras completas: 1923 – 1972. Buenos Aires: Emecé, 1974.

BOSI, A. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

CAPACI, B. Il Seicento di Dante. In: CAPACI, B. (a cura di). Dante oscuro e barbaro. Commenti e dispute (secoli XVII e XVIII). Saggio introduttivo di Andrea Battistini. Roma: Carocci, 2010.

CHAMBEL, P. A. S. Os animais na literatura clerical portuguesa dos séculos XIII e XIV: presença e funções. 2003. Dissertação (Doutorado em História Medieval) – Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Lisboa, 2003.

CONTINI, G. Un’idea di Dante: saggi Danteschi. Torino: Einaudi, 2001.

DAROS, R. P. Dom Pedro II e Bartolomé Mitre: a tradução da Divina comédia por governantes sul-americanos no século XIX. In: GUERINI, A.; GASPARI, S. (orgs.). Dante Alighieri: língua, imagem e tradução. São Paulo: Rafael Copetti Editor, 2015.

DI SIVIGLIA, I. Etimologie. Origini. A cura di Angelo Valastro Canale. Volume II: Libri XII-XX. Torino: UTET, 2014.

DIDI-HUBERMAN, G. Diante do tempo: história da arte e anacronismo das imagens. Tradução de Vera Casa Nova e Márcia Arbex. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2015.

DIONISOTTI, C. Geografia e storia della letteratura italiana. Torino: Einaudi, 1999.

ECO, U. Os limites da interpretação. Tradução de Pérola de Carvalho. 2. Ed. São Paulo: Perspectiva, 2004.

FONSECA, P. C. L. Identidades bestiárias na colônia: monstruosidade, gender e ordem política na cronística portuguesa sobre o Brasil dos séculos XVI e XVII. Signótica, Goiânia, v. 15, n. 1, pp. 77-90, jan./jun. 2003, p. 79.

HOLANDA. S. B. Raízes do Brasil. 26ª ed. São Paulo: Companhia das Letras. 1995.

JAUSS, H. R. Literaturgeschichte als Provokation. Suhrkamp: Frankfurt am Main, 1970.

LEDDA, G. Il bestiario dell’aldilà: gli animali nella Commedia di Dante. Ravenna: Longo Editore, 2019.

LEONARD, I. Los libros del conquistador. Traduzione di Mario Monteforte Toledo. Ciudad de México: Fondo de Cultura Económica, 1996.

MIRANDA, M. M. Teatro jesuítico e teatro de Anchieta: nas origens. In: Actas do Congresso Internacional Anchieta em Coimbra Colégio das Artes da Universidade (1548-1998). Porto. Tomo III. Porto: Fundação Eng. António de Almeida, 2000, pp. 951-962.

MOISÉS, M. História da Literatura Portuguesa. 34 ed. São Paulo: Cultrix, 2006.

NEVES, B. M. A. O bestiário na igreja do Colégio da Companhia de Jesus em Salvador. 2018. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2018.

NÓBREGA, M. Carta do P. Manuel da Nóbrega ao P. Simão Rodrigues. Bahia, 9 de agosto de 1549. In: Leite, Serafim. Monumenta Brasiliae, I (1538-1553). Roma: Monumenta Historica Societatis Iesu, 1956.

PAZ, O. El arco y la lira: el poema, la revelación poética. Poesía y Historia. Ciudad de México: Fondo de Cultura Económica, 1972.

PINTO, E. P. O auto da ingratidão: Na vila de Vitória. São Paulo: Secretaria da Cultura, Ciência e Tecnologia, Conselho Estadual de Artes e Ciências Humanas, 1978.

SALOMÃO, S. N. Dante in Brasile: poetica, traduzione e critica. Italianistica: Rivista di Letteratura Italiana, v. 49, n. 2, pp. 25-37, 2020.

SARAIVA, A. J.; LOPES, O. História da literatura portuguesa. Lisboa: Porto Editora, 2017.

SCHWARCZ, L. M.; COSTA, A. M; AZEVEDO, P. S. A longa viagem da biblioteca dos reis: do terremoto de Lisboa à independência do Brasil. Editora Companhia das Letras, 2017.

SOARES, N. N. C. Pedagogia humanista no Colégio das Artes ao tempo de Anchieta. In: Actas do Congresso Internacional Anchieta em Coimbra Colégio das Artes da Universidade (1548-1998), 2000, Porto. Tomo III. Porto: Fundação Eng. António de Almeida, 2000.

TEYSSIER, P. Gil Vicente: o autor e a obra. 2. Ed. Lisboa: ICALP, 1985, p. 116.

VICENTE, G. Copilacam de todalas obras de Gil Vicente, a qual se reparte em cinco liuros. O primeyro he de todas suas cousas de deuaçam. O segundo as comedias. O terceyro as tragicomedias. No quarto as farsas. No quinto as obras meudas. Lisboa: em casa de Ioam Aluarez, 1562. Fl. 86r.

VILLANI, N. Il poema della metamorfose. Premessa di Bruno Capaci. In: CAPACI, B. (a cura di). Dante oscuro e barbaro. Commenti e dispute (secoli XVII e XVIII). Saggio introduttivo di Andrea Battistini. Roma: Carocci, 2010.

Downloads

Publicado

29-12-2025

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Silva Vieira, M. (2025). Ecos dantescos na literatura colonial brasileira? O caso de José de Anchieta e o auto sacramental Na Vila de Vitória. Revista De Italianística, 53, 47-71. https://doi.org/10.11606/issn.2238-8281.v0i53p47-71