Triagem de processamento auditivo central em crianças de 6 a 11 anos

Autores

  • Fernando C. Capovilla

DOI:

https://doi.org/10.7322/jhgd.39692

Palavras-chave:

processamento auditivo central, distúrbio de aprendizagem, dislexia.

Resumo

O artigo define processamento auditivo central e explica a sua importância para a aquisição de leitura e escrita. Explica, também, a natureza do distúrbio de processamento auditivo central e sua etiologia no histórico de otites repetidas durante o desenvolvimento da linguagem, bem como o seu envolvimento nos distúrbios processamento fonológico que subjazem aos
problemas de linguagem oral e escrita, como ocorre na dislexia do desenvolvimento. Ressalta a necessidade de instrumentos para triagem de crianças com distúrbio de processamento auditivo central, com vistas a permitir experimentas dedicados ao teste de tratamentos para prevenção e remediação de distúrbios de linguagem oral e escrita. Examina a bateria~de ZAIDAN (2001) para triagem de distúrbio de processamento auditivo central, desenvolvida no mestrado em Neurociências da USP. Trata-se de uma bateria de aplicação rápida em 15 minutos, e-composta de três testes de repetição de fala ouvida em condições de difícil audibilidade: fala distorcida com corte de frequências elevadas, fala contra ruído de fundo, e falas competitivas em escuta dicótica. Reanalisando os dados brutos daquela dissertação, este artigo sugere que a aparente inconclusividade dos achados sobre a sua validade deveu-se simplesmente à escolha de estatísticas inferenciais inadequadas ao delineamento. Reconduzindo as análises com estatísticas inferenciais apropriadas (i.e., Ancovas para controlar o efeito da ampla variação etária sobre os escores), o artigo demonstra que a bateria é, de fato, válida e sensível o suficiente para discriminar entre crianças de 6 a I I anos com desenvolvimento normal e aquelas com diagnóstico clínico de distúrbio de processamento auditivo central. Adicionalmente, descobriu que, além da bateria como um todo, cada um dos três testes que a compõem é capaz de, por si só, discriminar entre os grupos, identificando crianças com distúrbios de processamento auditivo central. Isto corrobora a adequação das listas de palavras e de sua gravação, revelando todo o esmero com que a bateria foi elaborada. Assim, o Brasil passa a dispor de um poderoso instrumento para a detecção de crianças com distúrbio de processamento auditivo central que estão em risco de fracassar na aquisição competente de leitura e escrita e que podem receber intervenção precoce.

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Biografia do Autor

  • Fernando C. Capovilla
    Psicólogo, Mestre em Psicologia pela Universidade de Brasília. Ph. D. em Psicologia Experimental pela Temple University of Philadelphia. Livre Docente em Neuropsicologia Clínica pela Universidade de São Paulo. Professor Associado, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo.

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Publicado

2002-12-19

Edição

Seção

Pesquisa Original