O renascimento do Dogolachan na Deep Web: apologia e incentivo ao estupro e ao terrorismo em comentários pelo viés da Análise Dialógica do Discurso e da Criminologia Cultural
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2236-4242.v38i2p424-444Palabras clave:
Análise Dialógica do Discurso, Criminologia Cultural, Dogolachan, ChansResumen
A expansão de (sub)fóruns anônimos, pautados em uma subcultura que glorifica a violência, parte de um contexto mais amplo de radicalização. No Brasil, esses espaços discursivos consolidaram a supremacia da organização Dogolachan, cuja axiologia que lhe é própria normaliza, incita e exalta atos criminosos. Nesse contexto, objetiva-se analisar, sob uma abordagem dialógico-discursiva e cultural-criminológica, comentários divulgados no fórum Dogolachan, a fim de compreender por eles a linguagem sociotípica da subcultura neonazista. O aporte teórico, caracterizado pela transdisciplinaridade, fundamenta-se na Teoria e Análise Dialógica do Discurso e na Criminologia Cultural. A metodologia desenha-se na seleção de dois comentários produzidos em 2025 por membros da organização mencionada. Os critérios para a seleção dos enunciados-comentários são: i) nocividade social; ii) atualidade histórica; iii) potencial analítico-interpretativo. Para os procedimentos metodológicos, recorre-se à pesquisa de Rodrigues (2023a, 2023b, 2024). Os resultados permitem compreender que, na inter(ação) social, o locutor usa palavras-signos como “atentados terroristas”, “feministas” e “viados”, bem como “estuprar”, “menininha de 11 aninhos” e “encher ela de porra”, o que marca uma linguagem cuja tipicidade se constitui de uma subcultura que trivializa a violência de gênero, o terror social e o extermínio de grupos historicamente vulnerabilizados.
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Referencias
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