Tração de concepções e deslegitimação da imprensa: estratégias linguístico-enunciativas nas lives de Jair Bolsonaro

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2236-4242.v38i2p262-282

Palavras-chave:

Tração conceptual, Polifonia, Discurso Político, Extrema direita

Resumo

O presente artigo tem por objetivo descrever quatro estratégias linguístico-enunciativas utilizadas por Jair Bolsonaro em suas transmissões ao vivo em redes sociais para tracionar a concepção segundo a qual a imprensa é uma fonte de informação confiável, bem como propor dois critérios para aferir a intensidade dessa tração. Sob a perspectiva da Pragmática Enunciativa, e inspirado sobretudo nos trabalhos de Ducrot, Anscombre e Nølke e colaboradores, o estudo define concepção como um tipo especial de PDV, prévio à enunciação, atribuído a uma voz coletiva, que relaciona um termo T de uma determinada língua a um atributo A, de modo que T seja um argumento em favor de A. Já tração conceptual, ou simplesmente tração, é entendida como uma ação exercida por enunciados sobre uma concepção na tentativa de reduzir a força de T como argumento em favor de A. Adotando uma abordagem de caráter exploratório, as estratégias de tração foram classificadas como sintagmática, frasal, textual e pressuposicional. Quanto à intensidade, foram propostos dois critérios: duração (ilimitada e limitada) e escopo (total e parcial). De modo geral, o trabalho espera colaborar para a ampliação de princípios teórico-metodológicos que contribuam para a compreensão da relação entre linguagem, política e democracia.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Alvaro Magalhães Pereira da Silva, Instituto Federal de Sergipe

    Doutor em Letras pela Universidade de São Paulo, Brasil (2023). Professor no Instituto Federal de Sergipe, Brasil. Pós-doutorando na Universidade Federal da Paraíba, Brasil.

  • Maria Lúcia da Cunha Victório de Oliveira Andrade, Universidade de São Paulo

    Doutora em Linguística pela Universidade de São Paulo, Brasil (1995). Professora Adjunto na Universidade de São Paulo, Brasil.

Referências

ANSCOMBRE, J.-C. Le rôle du lexique dans la théorie des stéréotypes. Langages, 142, 2001. p. 57-76.

ANSCOMBRE, J.-C. Le on-locuteur: une entité aux multiples visages. In: BRES, J., et al. Dialogisme et polyphonie. França: De Boeck, 2005. p. 75-94.

ANSCOMBRE, J.-C.; DUCROT, O. L’argumentation dans la langue. Langages, 42, 1976. 5-27.

ANSCOMBRE, J.-C.; DUCROT, O. L'argumentation dans la langue. França: Pierre Mardaga Editeur, 1983.

AUSTIN, J. L. Quando dizer é fazer. Tradução de Danilo Marcondes de Souza Filho. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990 [1962].

CABRAL, A. L. T. A força das palavras: dizer e argumentar. São Paulo: Contexto, 2010.

CAMUS, Z. et al. La transformación de lo (im)posible: A propósito de la dimensión semántica de la conflictividad política. Refracción: Revista sobre Lingüística Materialista, n. 6, 2022. 2-33.

CAMUS, Z.; LESCANO, A. Semântica Argumentativa e conflitualidade política: o conceito de programa. In: BEHE, L., et al. Curso de Semântica Argumentativa. São Carlos: Pedro & João Editores, 2021. p. 403-416.

CAREL, M. Vers une formalisation de la Théorie de l'Argumentation dans la Langue. Tese (Doutorado em Mathématiques et Applications aux Sciences de l’Homme - Logique Linguistique). França: École des Hautes Études en Sciences Sociales, 1992.

CAREL, M. L'entrelacement argumentatif. França: Honoré Champion, 2011.

CAREL, M. Parler. Campinas: Pontes, 2023.

CESARINO, L. Identidade e representação no bolsonarismo: corpo digital do rei, bivalência conservadorismo-neoliberalismo e pessoa fractal. Revista de Antropologia, S, v. 62, n. 3, p. 530-557, 2019a.

DUCROT, O. Analyse de textes et linguistique de l'énonciation. In: DUCROT, O., et al. Les mots du discours. França: Minuit, 1980. p. 7-56.

DUCROT, O. O Dizer e o Dito. Tradução de Eduardo Guimarães. Campinas: Pontes, 1987 [1984].

HALLIDAY, M. A. K.; MATTHIESSEN, C. An introduction to functional grammar. Grã-Bretanha: Hodder Arnold, 2004.

LESCANO, A. Prolégomènes à une sémantique des conflits sociaux. França: Hermann Éditeurs, 2023.

LESCANO, A. M. El signo de polémica. Elementos de la polémica argentina en torno a Alberto Nisman. Tópicos del Seminario, v. 24, n. e, p. 173-204, 2016.

NØLKE, H. Linguistic Polyphony: The Scandinavian Approach. Hollanda: Brill, 2017.

NØLKE, H.; FLØTTUM, K.; NORÉN, C. ScaPoLine: La théorie Scandinave de la Polyphonie Linguistique. França: Éditions Kimé, 2004.

PEREIRA DA SILVA, A. M. Contradizer as palavras: Proposta para uma descrição polifônica da noção enunciativa de tensão a partir da análise de incidências do termo “imprensa” nas lives de quinta-feira de Bolsonaro. Tese (Doutorado em Letras - Filologia e Língua Portuguesa): Universidade de São Paulo, 2023.

PRETI, D. Análise de textos orais. São Paulo: Humanitas, 1999 [1993].

PRZEWORSKI, A. Quem decide o que é democrático? Journal of Democracy em Português, v. 13, n. 2, p. 1-20, out. 2024.

SEARLE, J. R. Os actos de fala. Tradução de Carlos Vogt et al. Portugal: Livraria Almedina, 1981 [1969].

TRAVAGLIA, L. C. O aspecto verbal no português. Uberlândia: EDUFU, 2016 [1981].

Downloads

Publicado

31-08-2025

Edição

Seção

Artigos originais

Como Citar

SILVA, Alvaro Magalhães Pereira da; ANDRADE, Maria Lúcia da Cunha Victório de Oliveira. Tração de concepções e deslegitimação da imprensa: estratégias linguístico-enunciativas nas lives de Jair Bolsonaro. Linha D’Água, São Paulo, v. 38, n. 2, p. 262–282, 2025. DOI: 10.11606/issn.2236-4242.v38i2p262-282. Disponível em: https://revistas.usp.br/linhadagua/article/view/234444.. Acesso em: 24 dez. 2025.

Dados de financiamento