Desconstruindo a desinformação: (re)criações dos referentes no universo (con)textual
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2236-4242.v38i2p179-202Palavras-chave:
Desinformação, Manipulação, Texto, Redes Referenciais, SaberesResumo
Nosso artigo objetiva examinar como as redes referenciais podem evidenciar, textualmente, a desinformação, identificando-se os referentes falseados e que relações deturpadas eles podem contrair em postagens de redes sociais, a partir de uma análise sociocognitiva. Partimos da Linguística Textual, tratando da referenciação como processo dinâmico de (re)construção de objetos discursivos (Cavalcante et al, 2022), formando redes referenciais (Matos, 2018a; 2018b). Propomos estudo em diálogo com a Comunicação, abordando o Ecossistema da Desinformação segundo Wardle (2020) e Wardle e Derakshan (2017; 2019). Assumimos também pressupostos de Charaudeau (2006; 2022) sobre a negação da verdade como forma de manipulação. Nossa metodologia é qualitativa e documental, com amostra de dez casos em redes sociais, com a discussão de dois, verificados por agências de checagem (Lupa e Aos Fatos). A partir do reconhecimento dos tipos de desordem informacional, mapeamos as redes referenciais dos textos e identificamos que referentes foram distorcidos. Com isso, examinamos os processos referenciais a revelarem relações entre os referentes pelas ancoragens (con)textuais. Os dados preliminares apontam para a existência de referentes deturpados tanto como elementos do texto quanto do contexto (tecno)discursivo, revelando a importância do agenciamento dos saberes (científicos, normativos, factuais) que movem as (re)criações referenciais, bem como do reconhecimento de autoria em prol das interpretações que devem ou não ser autorizadas, na desconstrução da desinformação.
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