Calabar ou o silêncio
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2237-1184.v0i40p372-390Palavras-chave:
“Calabar ou o Elogio da Traição”, Chico Buarque e Ruy Guerra, Ditadura Militar, Repressão, Silêncio impostoResumo
Calabar ou o silêncio. Depois de apontar a “funcionalidade” da poesia e da prosa num texto teatral, propôs-se demonstrar que a temática fundamental de “Calabar ou o Elogio à Traição”, de Chico Buarque e Ruy Guerra é antes a questão do silêncio imposto, do que a “traição” (que no entanto comparece explicitamente no título e estigmatiza a ação de quase todas as personagens.) Identificam-se as várias modulações do silêncio imposto pela repressão, desde a censura, o apagamento da memória, o medo silente dos que calam, até a situação limite do silêncio, que é a morte. Mas há também na peça a contrapartida perversa do silêncio, o seu avesso: o silêncio conspurcado pela delação voluntária, o rompimento do “sigilo da confissão” para informar os donos do poder; o silêncio violentado na tortura, que faz o preso falar, e o silêncio driblado pela força da palavra poética, que o rompe — é o silêncio enfrentado no nível formal, quando Bárbara, repetindo o refrão “CALA a boca BÁRbara” faz ressoar o nome proibido, fragmentado em sílabas, CALABAR. E aponta-se que esse silêncio (imposto pela censura, violado, radicalizado na morte, driblado) é o traço estrutural da sociedade que engendrou esse texto, início da década de 70, tempos da Ditadura implantada pelo Golpe de 64. Como ensina Antonio Candido, o “externo”, quer dizer, o social, tornou-se “interno”, elemento estruturante da obra. O “Cala a boca” pulsa em Calabar.
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Canções de Chico Buarque e Ruy Guerra (letras constantes do texto da peça de Chico Buarque e Ruy Guerra: Calabar: o elogio da traição. 39ª. ed., Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017): “Cala a boca, Bárbara” – p. 32-33 “Fado Tropical” – p.40-42 “Anna de Amsterdã” – p.51-52.
“Vence na vida quem diz sim” – p.58, 59-60, 63-64.
“Cobra de vidro” – p.69
“Tira as mãos de mim” – p.86-87
“Boi voador não pode” – p. 91
“Anna e Bárbara” – p.103
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