“Decifra-me, disse eu à esfinge. E esta ficou muda”:Pose e artifício na correspondência de Clarice Lispector
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2596-2477.i56p%25pPalabras clave:
correspondência, pose, artifícioResumen
Este artigo propõe investigar como a correspondência de Clarice Lispector contribui como um espaço de construção e complexificação das imagens públicas da escritora, frequentemente, marcadas por leituras biografistas e mitificadas. Nesta complexa elaboração de imagens realizadas por diversas vozes – críticos, amigos, leitores –, as cartas de Clarice Lispector acrescentam um conjunto de diálogos que visam, não apenas um registro transparente do cotidiano e da intimidade, mas como um espaço aberto à performance e a elaboração estética. O objetivo deste artigo, portanto, é estudar o processo de construção das imagens de Clarice Lispector, buscando compreender o lugar que sua correspondência ocupa nele. Para esta análise destacaremos os conceitos de “persona” e “pose” (política da pose) (LIMA, 1986 e 1991; MOLLOY, 2022), bem como a ideia de “sensibilidade Camp” (SONTAG, 2020). A partir dessas referências, foi possível observar como as cartas participam desse diálogo, constituindo-se não como uma escrita transparente e referencial, mas como um espaço de elaboração de autoimagens complexas da autora, nas quais a ficção e o tratamento poético da linguagem também estão presentes.
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