Chamada de artigos - Dossiê Gênero e Interseccionalidade na História Antiga

2019-12-19

Os estudos de gênero sobre a Antiguidade vêm desenvolvendo um diálogo com discussões teóricas mais amplas das ciências humanas e dos movimentos sociais desde seu estabelecimento. Atualmente, o conceito de interseccionalidade aparece como uma nova possibilidade teórica de análise. Oriundo de discussões jurídicas norte-americanas e cunhado pela advogada e militante negra Kimberlé Crenshaw em 1989, o termo interseccionalidade veio dar força política e conceitual a um tipo de análise que integre marcadores sociais da diferença, tais como gênero, sexualidade, raça, etnicidade, faixa etária, entre outros. Nas ciências sociais produzidas no Brasil, por sua vez, este tipo de análise antecedeu a criação do termo, como se pode perceber a partir do trabalho de sociólogas negras, como Lélia Gonzalez.

No campo da História Antiga e Estudos Clássicos, a produção que utiliza a abordagem de gênero vem dialogando com o conceito de interseccionalidade como uma possibilidade teórica de revisitar velhos temas de análise, complexificando-os e expondo nuances. Citamos, como exemplo, o trabalho inicial de Birgitta Sjöberg (2012), que procura pensar o oikos ateniense a partir de um ponto de vista interseccional, demonstrando como esse espaço, bem como os corpos femininos que o habitam, são atravessados por uma multiplicidade de marcadores que os definem. No âmbito brasileiro, o recente artigo de Semíramis Corsi (2018), ao propor uma análise interseccional das representações do imperador Heliogábalo, aponta para um redimensionamento possível das performances de gênero desse personagem, quando consideradas suas identidades culturais específicas, seu status social e suas práticas religiosas.

O conceito tem demonstrado que é preciso ampliar as noções sobre gênero para além de uma identidade cultural que define homens e mulheres. O gênero só pode ser compreendido, como instrumento e como conceito, no contexto de relações de poder específicas que mobilizam e articulam diversos elementos. Tal articulação pode corroborar a contribuição que os estudos sobre a Antiguidade vêm dando no sentido de evidenciar uma multiplicidade de feminilidades e masculinidades.

Convidamos, pois, pesquisadores/as a submeterem seus trabalhos que contemplem esse debate, discutindo os diferentes arranjos e imbricações de marcadores sociais, em uma perspectiva interseccional. A Revista Mare Nostrum publica artigos inéditos, podendo ser textos que tratem de uma pesquisa específica, artigos de crítica historiográfica, ensaios bibliográficos e resenhas. Informações acerca das diretrizes para a submissão podem ser encontradas aqui.

 

Prazo para submissão: 20 de dezembro de 2019.

 

Organização:

Sarah Fernandes Lino de Azevedo (Universidade de São Paulo)

Thais Rocha da Silva (Universidade de Oxford)

Fabrício Sparvoli (Universidade de São Paulo)

 

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