Por uma fala: o negro corpo do discurso
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2525-8133.opiniaes.2017.125154Palavras-chave:
Corpo negro e discurso, Um defeito de cor, Intelectuais negrasResumo
A necessidade de conceder centralidade ao debate sobre negritude e racismo no Brasil é uma reivindicação de longa data, realizada, sobretudo, pela população negra articulada em uma variedade de agrupamentos político-culturais. Ela remete a um dado concreto e complexo da sociedade brasileira contemporânea: a exclusão e/ou subalternização do negro e da negra do processo que em diversos âmbitos constituiu o que se entende como este estado-nação. Neste artigo, tendo como pressuposto desdobramentos analíticos sobre a dicção de Kehinde, narradora do romance Um defeito de cor, pretendo refletir sobre o gesto de escrita da autora negra Ana Maria Gonçalves e num encadeamento autorreflexivo sobre meu próprio gesto de escrita enquanto intelectual não-branca. Na medida em que essas vozes buscam visibilizar uma herança violenta, monstruosa, de um sistema em que a perversão escravista foi administrada sob o respaldo da racionalidade, proponho a investigação dos fundamentose limites de um discurso sobre negritude, os quais se inscrevem no corpo do sujeito enunciador. Desse modo, retomo o debate sobre experiência e teoria, atribuindo ao corpo negro o poder de interpelar a ideologia nacionalista e exigir que se repense o vínculo dos lugares de enunciação com o sistema historicamente engendrado e atualmente operante no Brasil.
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