Escrita, oralidade e práxis-poética em Torto arado
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2525-8133.opiniaes.2024.227029Palavras-chave:
Escrita, Oralidade, Quilombo, Torto arado, Literatura brasileira contemporâneaResumo
Este artigo se propõe a explorar uma das primeiras e mais decisivas cenas do romance Torto arado (2019), de Itamar Vieira Junior: o corte e a mutilação das línguas de Bibiana e Belonísia, respectivamente. O objetivo é deslindar, por meio do poder simbólico da cena e seus desdobramentos, bem como da posição dessas personagens no enredo, a importância da oralidade, que ao longo da história da literatura nacional foi subjugada como elemento folclórico e inferior de nossa formação enquanto país. No entanto, a maleabilidade narrativa e seu potencial simbólico e prático, para além dos poderes mnemônicos da oralidade, confrontam o papel da escrita como um dispositivo historicamente considerado superior, mostrando que ele é passível de ser apropriado e subvertido. Pretende-se mostrar como a memória oral quilombola infiltra-se na forma literária do romance para transpirar vozes e cosmogonias ancestrais, contemplando conceitos de justiça que servem também como “cola” social diante de momentos de acentuado perigo, como o que continuamos vivendo nos últimos dez anos no Brasil. Embora Torto arado apresente robustos artifícios e forma da literatura escrita, as ações que tramam a prática do jarê, bem como os desenlaces finais conclamam conceitos que passam ao largo de expectativas meramente maniqueístas.
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