Os cactos e os titãs: a produção do conceito de “sertão”
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2525-8133.opiniaes.2024.227697Palavras-chave:
Sertão, Euclides da Cunha, Os Sertões, Nordeste, Literatura brasileiraResumo
O conceito “sertão”, geralmente empregado para se referir a determinados espaços do Brasil caracterizados pela distância das grandes cidades, por uma paisagem de seca, por condições políticas de violência e miséria e por um contexto de cultura folclórica e religiosa, trata-se de uma construção cultural. Sendo assim, a literatura desempenhou um importante papel no seu desenvolvimento, com destaque para o nome de Euclides da Cunha. No momento de escrita de Os sertões, no entanto, o escritor contava com poucas referências teóricas e artísticas que lhe oferecessem uma tradição de como estetizar a paisagem das caatingas e a cultura sertaneja. Então, ao estar em Belo Monte e escrever sua principal obra, Euclides desenvolveu procedimentos para simbolizar, de maneira inédita, aquele espaço, buscando inspirações no cientificismo do século XIX, na estética classicista dos primeiros cronistas do “Novo Mundo”, bem como carregando Os sertões de um “adjetivismo” tipicamente barroco. É objetivo deste artigo investigar como o escritor desenvolveu maneiras de se abstrair o sertão e, também, como seu livro instituiu certas convenções literárias a partir das quais o espaço e a cultura sertaneja passaram a ser tradicionalmente simbolizados.
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