Dentro d’A cabeça do santo não há seca ou canavial: representações contracoloniais e pertencimento no romance de Socorro Acioli
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2525-8133.opiniaes.2024.227922Palavras-chave:
Socorro Acioli, Sertões, Contracolonialidade, Estereótipos, PertencimentoResumo
Em A cabeça do santo, de Socorro Acioli, o percurso narrativo é traçado pela migração do personagem Samuel à Candeia, cidade natal de seu pai. Os percursos geográficos e afetivos do personagem caracterizam uma ambientação nordestina e sertaneja. Este trabalho objetiva verificar se a narrativa reforça ou não estereótipos habituais sobre os sertões, bem como identificar estratégias que compõem o estilo narrativo verificado e possibilidades de recepção literária. A pesquisa é embasada em crítica literária sociológica (Candido, 2006), pautada em referencial teórico acerca da categoria geopolítica Sertão, como Trindade Lima (1998) e Albuquerque Júnior (2012), sobre migrações, memórias (Pollak, 1992), e a constituição de subjetividades e de culturas contra-hegemônicas de pertencimento e resistência, como hooks (2022), Bispo dos Santos (2023) e Krenak (2020). Nordestinos e sertanejos, atingidos por desigualdades regionais em intersecção com opressões de outras ordens, enfrentam apagamentos e representações equivocadas de sua cultura no cenário nacional. O romance opõe-se aos estereótipos concebidos pela intelligentsia nacional (Trindade Lima, 1998) a partir de representações contracoloniais da ambientação e dos personagens sertanejos, inclusive de uma resistência coletiva. Por conseguinte, fortalece uma cultura de pertencimento dentro da narrativa, que pode reverberar nas experiências estéticas dos leitores, distanciando-se de um regionalismo literário reducionista.
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Referências
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