Águas de vida e de morte no Recife velho: alegoria e história em “No Riacho da Prata”, de Gilberto Freyre

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2525-8133.opiniaes.2024.228003

Palavras-chave:

Gilberto Freyre, Funções Mágicas., Banhos, Águas, Alegoria

Resumo

Este artigo visa analisar o conto “No riacho da Prata”, de Gilberto Freyre. Norteado por reflexões de Benjamin (1987), Grawunder (1996), Quintiliano (1836), Hansen (2006), Auerbach (1997), Goethe (2005), Todorov (2014) e Cascudo (2012; 2015), buscou-se identificar o sobrenatural no relato ressaltando como crendices da cultura oral nordestina são transfiguradas literariamente. Condicionado pela abordagem dialética, adotamos a água como categoria analítica, enfocada sob as óticas da purificação, propiciada pelos banhos, e das suas funções mágicas. Com a leitura alegórica revisitamos essas práticas na história e entendemos como se estruturaram as relações sociais, religiosas e místicas nas festas de São João em Recife. Com a interseção entre mitos antigos, relatos cristãos e a conotação profana na origem dos banhos, percebemos a influência das culturas africana e indígena nesses ritos entre os habitantes da capital pernambucana. Ademais, o caráter mágico das águas ressalta faces do sincretismo religioso recifense, por prenunciar a vida e a morte através de simpatias e adivinhações, conforme vivenciado pela protagonista da narrativa freyriana. Concluímos que a representação desses cultos se mostrou como uma expressão social em declínio, cujo valor pôde ser restituído neste trabalho, ao recuperar os significados dos banhos e das funções mágicas das águas no Nordeste.

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Biografia do Autor

  • João Batista Pereira, Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE

    Doutor em Teoria da Literatura, pela UFPE, atua como professor no Departamento de Letras e no Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem, na UFRPE, onde lidera o Grupo de Pesquisa “Teorias em Diálogo”. Desenvolve estudos relacionados à alegoria como recurso analítico da crítica literária e sobre a figuração do insólito e do fantástico em narrativas brasileiras.

  • João Lucas Souza da Silva, Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE

    Cursa Licenciatura em Letras – Português e Espanhol, é bolsista de iniciação científica Pibic (CNPq), e integra o Grupo de Pesquisa “Teorias em Diálogo”, atuando em investigações relacionadas à alegoria, à história e ao fantástico pernambucano.

  • Gabriel Rodrigues de Morais, Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE

    Cursa Licenciatura em Letras – Português e Espanhol, é bolsista da iniciação científica Pibic (CNPq), e integra o Grupo de Pesquisa "Teorias em Diálogo”, desenvolvendo estudos sobre memória e suas relações com o estranho, o fantástico e o maravilhoso.

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Publicado

2024-10-23

Como Citar

Pereira, J. B., Silva, J. L. S. da, & Morais, G. R. de. (2024). Águas de vida e de morte no Recife velho: alegoria e história em “No Riacho da Prata”, de Gilberto Freyre. Opiniães, 25, 105-123. https://doi.org/10.11606/issn.2525-8133.opiniaes.2024.228003