Stela do Patrocínio e a margem da margem: transgressão da voz subalternizada da loucura

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2525-8133.opiniaes.2025.232996

Palavras-chave:

Literatura de minoria, Hospício, Loucura

Resumo

O presente artigo discute a poesia da loucura como forma de transgressão. A poesia/voz de Stela do Patrocínio produzida em espaço para o confinamento: hospício, representa a capacidade que a literatura tem em contribuir para a abertura do mundo da opressão e da violação de tais espaços. A voz do hospício representa uma linguagem errante de uma minoria: mulher, preta e louca, que se coloca sempre como uma fuga da própria condição de produção. A voz de Stela do Patrocínio representa essa radicalidade diante das imposições do poder, que condiciona a poética de confinamento a não existir. A obra em estudo tende a se projetar como quebra desta imposição sobre a literatura de minoria, uma produção singular contida na voz do confinamento. Assim, a literatura de hospício forja e força uma fuga como uma condição da própria literatura que, nas palavras de Barthes, “permite ouvir a língua fora do poder” (Barthes, 2010, p. 16). A literatura, quando produzida em espaços de controle, dá voz ao sujeito estranho à “normalidade” – o louco, este sujeito subalterno se torna potência diante da linguagem dominante da ciência médica.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Abdias Correia de Cantalice Neto, Universidade Estadual da Paraíba – UEPB

    Graduado em Letras pela Universidade Estadual da Paraíba (2004). Doutor em Literatura Interculturalidade pelo Programa de Pós Graduação em Literatura e Interculturalidade – UEPB. Professor efetivo da Educação Básica do Estado da Paraíba. Membro do Grupo de Pesquisa Observatório de Crítica Literária, Ensino e Criação.

Referências

AQUINO, R. Estrela. In: PATROCÍNIO, S. do. Reino dos bichos e dos animais é o meu nome. Organização e apresentação de Viviane Mosé. Rio de Janeiro: Azougue, 2001. p.

ARBEX, D. Holocausto brasileiro. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2019.

BATAILLE, G. A literatura e o mal. Tradução de Fernando Scheibe. Belo Horizonte: Autêntica, 2020.

BLANCHOT, M. A conversa infinita 1: a palavra plural. Tradução de Aurélio Guerra. São Paulo: Escuta, 2001.

BLANCHOT, M. O espaço literário. Tradução de Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Rocco, 2011a.

BLANCHOT, M. A parte do fogo. Tradução de Ana Maria Sherer. Rio de Janeiro: Rocco, 2011b.

BLANCHOT, M. O livro por vir. Tradução de Leila Perrone Moisés. São Paulo: Martins Fontes, 2018.

BODEI, R. As lógicas do delírio: razão, afeto, loucura. Tradução de Letizia Zini Antunes. Bauru: Edusc, 2003.

DELEUZE, G. Conversações. Rio de Janeiro: Editora 34, 2021.

DELEUZE, G. Foucault. Tradução de Claudia Sant’Anna Martins. São Paulo: Brasiliense, 2019.

DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Kafka: para uma literatura menor. Belo Horizonte: Autêntica, 2022.

ECO, U. Obra aberta. Tradução de Giovanni Cutolo. São Paulo: Perspectiva, 2007.

FOUCAULT, M. Linguagem e literatura. In: MACHADO, R. Foucault, a filosofia e a literatura. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

FOUCAULT, M. Os anormais: curso no Collège de France. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010b.

FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 41. ed. Petrópolis: Vozes, 2013.

FRAYZE-PEREIRA, J. O que é loucura. São Paulo: Abril Cultural; Brasiliense, 2007.

GOFFMAN, E. Manicômios, prisões e conventos. Tradução de Dante Moreira Leite. São Paulo: Perspectiva, 1974.

LUDMER, J. Literaturas pós-autônomas. Revista de Crítica Literaria y de Cultura, n. 17, jul. 2007. Disponível em: http://culturaebarbarie.org/sopro/n20.pdf. Acesso em 16 de outubro de 2024.

MOSÉ, V. Apresentação: Stela do Patrocínio – uma trajetória poética em uma instituição psiquiátrica. In: PATROCÍNIO, S. do. Reino dos bichos e dos animais é o meu nome. Organização e apresentação de Viviane Mosé. Rio de Janeiro: Azougue, 2001.

PATROCÍNIO, S. do. Reino dos bichos e dos animais é o meu nome. Organização e apresentação de Viviane Mosé. Rio de Janeiro: Azougue, 2001.

PELBART, P. P. Da clausura do fora ao fora da clausura: loucura e desrazão. São Paulo: Iluminuras, 2009.

Downloads

Publicado

2025-08-01

Como Citar

Cantalice Neto, A. C. de. (2025). Stela do Patrocínio e a margem da margem: transgressão da voz subalternizada da loucura. Opiniães, 26, 16-35. https://doi.org/10.11606/issn.2525-8133.opiniaes.2025.232996