Stela do Patrocínio e a margem da margem: transgressão da voz subalternizada da loucura
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2525-8133.opiniaes.2025.232996Palavras-chave:
Literatura de minoria, Hospício, LoucuraResumo
O presente artigo discute a poesia da loucura como forma de transgressão. A poesia/voz de Stela do Patrocínio produzida em espaço para o confinamento: hospício, representa a capacidade que a literatura tem em contribuir para a abertura do mundo da opressão e da violação de tais espaços. A voz do hospício representa uma linguagem errante de uma minoria: mulher, preta e louca, que se coloca sempre como uma fuga da própria condição de produção. A voz de Stela do Patrocínio representa essa radicalidade diante das imposições do poder, que condiciona a poética de confinamento a não existir. A obra em estudo tende a se projetar como quebra desta imposição sobre a literatura de minoria, uma produção singular contida na voz do confinamento. Assim, a literatura de hospício forja e força uma fuga como uma condição da própria literatura que, nas palavras de Barthes, “permite ouvir a língua fora do poder” (Barthes, 2010, p. 16). A literatura, quando produzida em espaços de controle, dá voz ao sujeito estranho à “normalidade” – o louco, este sujeito subalterno se torna potência diante da linguagem dominante da ciência médica.
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