A loucura como resistência em “Diário do hospício”, de Lima Barreto e “Hospício é Deus”, de Maura Lopes Cançado

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2525-8133.opiniaes.2025.233492

Palavras-chave:

Loucura, Resistência, Manicômios, Diário e literatura

Resumo

Diário do hospício, de Lima Barreto e Hospício é Deus, de Maura Lopes Cançado são narrativas autobiográficas que revelam as vivências de internação de seus autores em instituições psiquiátricas brasileiras. As obras denunciam as condições degradantes dos hospitais, a exclusão social dos internos e a repressão sistemática das subjetividades marginalizadas. Estas narrativas transcendem o relato diarístico, transformando a fragmentação e a introspecção narrativa em resistência, o íntimo em público, denunciando a situação degradante em que os doentes mentais são submetidos e condenados a viver à margem da sociedade, bem como questionando as normas sociais e redefinindo os limites entre sanidade e delírio. Este estudo se propõe a analisar os diários de Lima Barreto (2017) e Maura Cançado (2021), ambos escritos durante internações em manicômios, a partir das teorias de Michel Foucault (2000, 2014) e, Erving Goffman (2008) acerca da loucura e do estigma e David Arrigucci (1998) acerca do texto na perspectiva do narrador em primeira pessoa. Reconhecemos, assim, que os diários configuram-se não apenas como registros íntimos, mas como testemunhos de luta contra o silenciamento e a desumanização dos “loucos”, situando-se como críticas à sociedade brasileira e ao sistema manicomial de sua época.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Zeile Ferreira Franco Silva, Instituto Federal de Goiás – IFG

    Licenciada em Letras-Língua Portuguesa pelo Instituto Federal de Goiás, campus Goiânia. Participou do Núcleo de Estudos Literários (NEL) pesquisando a loucura nos diários de Lima Barreto e Maura Cançado.

  • Poliane Vieira Nogueira, Instituto Federal de Goiás – IFG

    LProfessora Doutora do Instituto Federal de Goiás, campus Goiânia, É líder do Núcleo de Estudos Literários (NEL) e membro do Performances Culturais – Núcleo Interinstitucional de Pesquisa Transdisciplinar. É coordenadora do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibid).

Referências

ARANTES, Marco Antônio. Loucura e racismo em Lima Barreto. Espaço Plural, v. 11, n. 22, p.45-56, 2010. Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.ao?id=445944364006. Acesso em: 05 de setembro de 2024.

ARRIGUCCI JR., Davi. Teoria da narrativa: posições do narrador. Jornal de Psicanálise, São Paulo, v. 31, n. 57, p.9-43, set. 1998.

BARRETO, Lima. Diário do hospício; O cemitério dos vivos. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

BOSI, Alfredo. Narrativa e resistência. Itinerários, n. 10, p.11-27, 1996. Disponível em https://periodicos.fclar.unesp.br/itinerarios/article/view/2577/2207. Acesso em: 20 jul. 2025.

BOSI, Alfredo. Literatura e resistência. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

CANÇADO, Maura Lopes. Hospício é Deus: Diário I. Belo Horizonte: Autêntica, 2021.

FOUCAULT, Michel. Ditos e Escritos I: Problemática do sujeito: psicologia, psiquiatria e psicanálise. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1999.

FOUCAULT, Michel História da loucura na Idade Clássica. Tradução de José Teixeira Coelho Neto. São Paulo: Perspectiva, 2000.

FOUCAULT, Michel. A linguagem ao infinito. In: Michel FOUCAULT, Ditos e escritos III: estética: literatura e pintura, música e cinema. Tradução de Inês Barbosa. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: história da violência nas prisões. Tradução de Raquel Ramalhete. Petrópolis: Vozes, 2014.

GOFFMAN, Erving. Manicômios, prisões e conventos. Tradução de Dante Moreira Leite. São Paulo: Perspectiva, 2008.

GUSDORF, Georges. Lignes de vie I. Les écritures du moi. Paris, FR: Odile Jacob, 1991.

IGNATIEFF, Michael. Instituições totais e classes trabalhadoras: um balanço crítico. Tradução de Eliana Leite Meireles. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 7, n. 14, mar./ago. 1987.

LEJEUNE, Philipe. Le pacte autobiographique. Paris: Editions du Seuil, 1975.

LIMA, Felippe Nildo Oliveira de; RODRIGUES, Rosângela de Melo. Uma leitura de Diário do hospício e Hospício é deus no contexto das literaturas pós-autônomas. A Cor Das Letras, v. 23, n. 1, p. 259-271, 2022.

PALADINO, Letícia.; AMARANTE, Paulo Duarte de Carvalho. A dimensão espacial e o lugar social da loucura: por uma cidade aberta. Ciência & Saúde Coletiva, v. 27, n. 1, p. 7-16, jan. 2022. Disponível em: https://doi.org/10.1590/10.1590/2316-40185517. Acesso em: 5 set. 2024.

PICARD, Hans Rudolf. El diario como género entre lo íntimo y lo público. Universidad de Konstanz, 2008.

SILVA, Gislene Maria. Loucura, mulher e representação: fronteiras da linguagem em Maura Lopes Cançado e Stela do Patrocínio. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, n. 22, p. 95-111, 2011. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/estudos/article/view/8946 . Acesso em: 5 set. 2024.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. Lima Barreto e a escrita de si. Estudos Avançados, v. 33 n. 96, p. 137-153, 2019.

VOLCEAN, Tamiris Tinti. A escrita autobiográfica de Maura Lopes Cançado como forma de resistência ao desaparecimento precoce da mulher na sociedade brasileira. Opiniães, Brasil, n. 18, p. 198-213, 2021. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/opiniaes/article/view/181332. Acesso em: 5 set. 2024.

Downloads

Publicado

2025-08-01

Como Citar

Silva, Z. F. F., & Nogueira, P. V. (2025). A loucura como resistência em “Diário do hospício”, de Lima Barreto e “Hospício é Deus”, de Maura Lopes Cançado. Opiniães, 26, 205-228. https://doi.org/10.11606/issn.2525-8133.opiniaes.2025.233492