Loucura, memória e testemunho em “Depois de tudo tem uma vírgula”

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2525-8133.opiniaes.2025.233582

Palavras-chave:

Ditadura militar, Loucura, Memória, Testemunho

Resumo

Embora tenhamos a impressão de que a democracia esteja consolidada no país, os recentes acontecimentos demonstram que a ditadura militar ainda é um tema que precisa ser devidamente elaborado e discutido. O protagonismo político de um grupo abertamente defensor da ditadura e da tortura evidencia a urgência de retomar esse debate. Nos últimos anos, diversas obras abordando o período ditatorial foram publicadas, o que sugere uma demanda social pela elaboração dos traumas por ele causados. Diante disso, este artigo propõe-se a analisar o romance Depois de tudo tem uma vírgula (2021), de Elizabeth Cardoso, tomando como chave de leitura seu teor testemunhal, bem como as representações do trauma e da loucura na narrativa. Para tanto, a análise dialoga com teóricos do testemunho, como Felman (2000), Gagnebin (2009), Ginzburg (2012), Salgueiro (2013), Sarmento-Pantoja (2019; 2021) e Seligmann-Silva (2003; 2022); com autores que investigam as consequências do trauma na literatura, como Kehl (2010) e Padilha (2024); e, por fim, no que concerne à violência de gênero, Teles (2017). Buscou-se, assim, compreender de que modo esses elementos se articulam na obra de Cardoso.

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Biografia do Autor

  • Vitor Siqueira Macieira, Universidade Federal do Espírito Santo – UFES

    Professor da rede estadual de ensino do Espírito Santo (Sedu). Doutorando em Letras: Estudos Literários (PPGL/Ufes). Dedica-se a pesquisar a produção em prosa de Chico Buarque em sua interface com a história e a filosofia, especificamente no que concerne ao cinismo, à hipocrisia e às condições de produção da obra literária buarqueana. O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001.

  • Daniella Bertocchi Moreira, Universidade Federal do Espírito Santo – UFES

    Professora Adjunta no Departamento de Línguas e Letras da Universidade Federal do Espírito Santo. Doutora em Letras pela UFES (2019) com pesquisa a respeito da obra de Gonzaguinha, a partir da perspectiva do testemunho. Tem experiência em Letras e desenvolve pesquisas sobre best-seller, tradução, adaptação e literatura de testemunho.

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Publicado

2025-08-01

Como Citar

Macieira, V. S., & Moreira, D. B. (2025). Loucura, memória e testemunho em “Depois de tudo tem uma vírgula”. Opiniães, 26, 247-265. https://doi.org/10.11606/issn.2525-8133.opiniaes.2025.233582