O mijo, o picho e o lixo: as festas de rua e as modulações do público e do privado
DOI:
https://doi.org/10.11606/fb3y9a24Palavras-chave:
cidades, festas de rua, processos de subjetivação, produção do comum, lixoResumo
As festas de rua são tomadas, neste artigo, como intervenções clínico-políticas sobre nossos modos de viver e fazer cidades. São, portanto, entendidas como ações que tensionam ou deslocam nossos processos de subjetivação e formas de vivermos juntes1. Como tal, problematizam, especialmente, nossas práticas de modulação das fronteiras entre o público e o privado, provocando uma série de invenções, estranhamentos e conflitos. O método cartográfico orientou o estudo, guiando-o entre experimentações urbanísticas, operadas por eventos festivos e suas provocações aos nossos modos de existir. Acompanhando processos que iam da concepção aos encontros/embates entre corpos em festa, tomamos alguns dos seus elementos para fazer ver práticas que evidenciam tanto nossas formas instituídas de separar o público do privado quanto as que colocam esta separação em xeque. São sons, excrementos e lixo que aqui falam de uma disputa pela constituição-ocupação de territórios e apontam diferentes ético-estéticas de políticas da cidade.
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