Megaeventos, Estado e favelas sem UPPs no Rio de Janeiro: qual legado?

Autores

  • Jonathan Willian Bazoni da Motta Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

DOI:

https://doi.org/10.11606/raqs7365

Palavras-chave:

upp, megaeventos, estado, vila vintem, segregação

Resumo

O presente artigo reflete sobre o período de transformações urbanas oriunda dos megaeventos, centrando a análise sobre as concepções que estruturam esse projeto de cidade, as características territoriais desse tipo de gestão, a importância que o Estado e seus agentes tiveram para sua realização e os efeitos para os moradores de favela sem UPP. A partir de uma pesquisa qualitativa realizada em 2016 em uma favela sem UPP na Zona Oeste da cidade, argumento que os megaeventos esportivos são um complexo de relações, discursos, racionalidades e práticas que conformam um projeto de cidade que tem no Estado (e seus agentes) um parceiro fundamental para a sua materialização política. Mesmos que esse empreendimento seja voltado para lugares específicos de interesse do mercado, ele também afeta áreas “outras” que não fazem parte desse complexo, demostrando que o real “legado” dessa política foi a produção de uma cidade ainda mais segregada, estigmatiza e desigual.

Biografia do Autor

  • Jonathan Willian Bazoni da Motta, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

    Mestrando em Ciências Sociais (PPGCS/UFRRJ) Pesquisador do CIDADES – Núcleo de Pesquisa Urbana (PPCIS/UERJ)

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Publicado

2019-12-25

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Motta, J. W. B. da . (2019). Megaeventos, Estado e favelas sem UPPs no Rio de Janeiro: qual legado?. Ponto Urbe, 25, 1-21. https://doi.org/10.11606/raqs7365