O crack, o corpo e a rua: analisando trajetos e andanças na cidade

Autores

  • Beatriz Brandão Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
  • Wellington da Silva Conceição Universidade Federal do Tocantins

DOI:

https://doi.org/10.11606/416tha83

Palavras-chave:

cidade, corpo, rua, usuários de droga

Resumo

Todos os dias somos colocados frente a frente com milhares de estímulos, visuais, linguísticos, gestuais, que por serem tantos, nosso olhar e atitude se tornam blasé a muitos deles, como bem analisou Simmel (1987). Mas, mesmo diante de tantos estímulos, é difícil olhar com neutralidade e ter um comportamento asséptico a certas cenas que se comunicam de forma gritante. Diante de uma situação de comunicação corporal intensa, nos defrontamos com Simmel, Bourdieu, Le Breton e tantos outros, nos confrontamos conosco e com o pensamento hegemônico da sociedade. O acontecimento foi na Avenida chamada Brasil, que só pelo nome já carrega o ethos da diversidade. A avenida que liga a cidade do Rio de Janeiro de ponta a ponta, que deu nome e fama à teledramartugia brasileira, que recebe milhares de carros que passam no asfalto cinza e concreto, que tem um espaço aberto às pessoas que se “abrigam” nessa via urbana que tudo parece abraçar. Já se tornou habitual ver nas manchetes de jornais, moradores de rua, usuários de crack (reconhecido pela população como cracudos) invadirem as estradas da avenida se colocando em frente aos carros em alta velocidade, numa cena que parece conter a total abnegação de seus corpos. O fato de colocarem o corpo em evidência no cotidiano da rua e exibi-los a cenas de perigo, para muitos põe em cheque suas concepções de vida, pois o resguardo do corpo atua como ação simbólica da blindagem e prevenção à vida. É o corpo como vetor de diálogo constante, como assinalado por Bourdieu: o corpo funciona como uma linguagem pela qual mais se é falado do que propriamente se fala, uma linguagem da natureza, onde se trai o mais escondido e o mais verdadeiro simultaneamente, porque o menos conscientemente controlado e controlável, e que contamina e sobredetermina com suas mensagens percebidas e não percebidas todas as expressões intencionais, a começar pela palavra (Bourdieu 1977: 01).

Biografia do Autor

  • Beatriz Brandão, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

    Doutoranda em Ciências Sociais – PUC-Rio

  • Wellington da Silva Conceição, Universidade Federal do Tocantins

    Doutor em Ciências Sociais (UERJ) e professor da Universidade Federal do Tocantins

Referências

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Publicado

2017-07-30

Edição

Seção

Etnográficas

Como Citar

Brandão, B. ., & Conceição, W. da S. . (2017). O crack, o corpo e a rua: analisando trajetos e andanças na cidade. Ponto Urbe, 20, 1-9. https://doi.org/10.11606/416tha83