Estética e sociabilidade entre os b-boys da Maré: driblando as fronteiras do tráfico

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/9g9za382

Palavras-chave:

juventude, sociabilidade, segregação, violência, hip hop

Resumo

A Maré é um bairro de dezesseis favelas no Rio de Janeiro, onde atua um dos mais fortes núcleos de dançarinos de break dance da cidade. A partilha de interesse pela dança foi a responsável pela reformulação das suas redes de amizade, tornando possível que jovens de extremidades opostas do bairro ficassem amigos. Esta questão é relevante devido aos impedimentos no direito de ir vir dos habitantes provocados pelos confrontos armados entre diferentes facções do tráfico de drogas e agravados pela ação truculenta da polícia. Era numa antiga fábrica do bairro que os dançarinos da Maré se reuniam para treinar break dance, onde punham em ação performances e sociabilidades capazes de os aglutinar num mesmo coletivo. Nesse cenário de intensa convivialidade, a prática e estética do break dance reavivava a individualidade desses jovens, desafiando os dispositivos de confinamento que os querem relegar ao anonimato.

Maré is a neighborhood composed of sixteen favelas (shanty towns), where there is one of the strongest cores of breakdancers in the city. Their interest in dance reformulated their friendship networks and made possible friendship between young people from opposite sites of the neighborhood. The relevance of this issue concerns the constraints on the customary life of the residents imposed by armed conflicts between drug trafficking gangs and increased by the truculent police action. Maré breakdancers gathered to rehearse in a former factory of the neighborhood where they created sociabilities and performances that were able to unite them in a crew. In this environment of intense sociability, breakdancing practice and aesthetics renews their individuality challenging confinement devices that want to keep them anonymous.

Biografia do Autor

  • Otávio Raposo

    Doutor em antropologia no Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), em Portugal, e pós-doutorando em antropologia no CIES (Centro de Investigação e Estudos de Sociologia) no ISCTE-IUL.

Referências

AGIER, Michel. 2011. Antropologia da Cidade: lugares, situações, movimentos. São Paulo: Editora Terceiro Nome.

BISPO, Raphael. 2010. “Heterotopias emo: notas etnográficas sobre desvios e inversões da juventude emocore no Rio de Janeiro”. In: Gilberto Velho & Luiz Fernando Duarte (orgs.), Juventude Contemporânea: culturas, gostos e carreiras. Rio de Janeiro: 7 Letras. pp. 27-43.

BOURDIEU, Pierre. 2008. Cuestiones de Sociología. Madrid: Ediciones Istmo.

BOURGOIS, Philippe. 2010. En busca de respeto: vendiendo crack en Harlen. Buenos Aires: Siglo Veintiuno Editores.

CEASM. Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré. 2003. A Maré em dados: censo 2000. Rio de Janeiro: CEASM.

DAMATTA, Roberto. 1997. A casa & a rua: espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Rocco.

FRADIQUE, Teresa. 2003. Fixar o Movimento: representações da música Rap em Portugal. Lisboa: Publicações Dom Quixote.

DOI : 10.4000/books.etnograficapress.2723

FRIDMAN, Luis Carlos. 2008. “Morte e vida favelada”. In: Luiz Antonio Machado da Silva (org.), Vida sob Cerco: violência e rotina nas favelas do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira. pp. 77-98.

GIROUX, Henry. 1996. Fufitive Cultures: race, violence & youth. London: Routledge.

LEFEBVRE, Henri. 2012. O Direito à Cidade. Lisboa: Estúdio e Livraria Letra Livre.

LEITE, Márcia Pereira. 2008. “Violência, risco e sociabilidade nas margens da cidade: percepções e formas de ação de moradores de favelas cariocas”. In: Luiz Antonio Machado da Silva (org.), Vida sob Cerco: violência e rotina nas favelas do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira. pp. 115-141.

MAFFESOLI, Michel. 2004. El tiempo de las tribos: el ocaso del individualismo en las sociedades posmodernas. México D. F.: Siglo Veintiuno Editores.

MAGNANI, José Guilherme. 2002. De perto e de dentro: notas para uma Etnografia Urbana. Revista Brasileira de Ciências Sociais. Vol. 17, nº49: 11-29.

DOI : 10.1590/S0102-69092002000200002

MAGNANI, José Guilherme. 2005. Os circuitos dos jovens urbanos. Tempo Social. Revista de Sociologia da USP. São Paulo. Vol. 17, nº2: 173-205.

DOI : 10.1590/S0103-20702005000200008

PAIS, José Machado. 1994. “A geração yô-yô”. In: Atas do III Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais. Dinâmicas multiculturais: novas faces, outros lugares. Lisboa. Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, 4 a 7 de Julho de 1994. pp. 111-125.

PAIS, José Machado. 2003. Culturas Juvenis. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda.

POUTIGNAT, Philippe & STREIFF-FENART, Jocelyne. 1997. Teorias da Etnicidade: seguido de grupos étnicos e suas fronteiras de Fredrik Barth. São Paulo: Editora UNESP.

SCHECHNER, Richard. 2002. Performance Studies: an introduction. London: Routledge.

DOI : 10.4324/9781315269399

VIEIRA, António Carlos Pinto. 2002. A história da Maré em capítulos. Rio de Janeiro: Rede Memória da Maré – CEASM.

WACQUANT, Loic. 2002. Corpo e Alma: notas etnográficas de um aprendiz de boxe. Rio de Janeiro: Relume Dumará Editora.

Downloads

Publicado

2014-07-30

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Raposo, O. . (2014). Estética e sociabilidade entre os b-boys da Maré: driblando as fronteiras do tráfico. Ponto Urbe, 14, 1-21. https://doi.org/10.11606/9g9za382