Faixas de isolamento
DOI:
https://doi.org/10.11606/5ye6m168Palavras-chave:
Dossiê, Ponto Urbe, Judith ButlerResumo
As chamas estalavam no meio da rua, o corpo da bruxa e da “escória política” lentamente iam virando cinzas, eram bonecos de pano com a multidão envolta corporificando o ritual. Um jovem negro, entre 15 a 20 anos, vestindo calça preta, um moletom da GAP e de boné com a aba para trás, esticava o braço empunhando um crucifixo de aproximadamente um palmo em direção a estes pedaços chamuscados de corpos. Olhar fixo, boca apertada, a multidão em volta, por mais barulhenta que fosse, parecia não atrapalhar sua concentração. As faces impressas se descolavam como máscaras dos bonecos na fogueira. “Queima essa corja!” Berros e urros de comemoração, sorrisos vitoriosos, megafone, o cheiro de queimado, as baforadas quentes que vinham da fogueira, Pai Nosso e Hino Nacional entoados com o máximo de respeito, inclusive condenando aqueles do outro lado da faixa de segurança, que não congregavam com o mesmo ritual.
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