Faixas de isolamento

Autores

  • Akira Guimarães Universidade de São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.11606/5ye6m168

Palavras-chave:

Dossiê, Ponto Urbe, Judith Butler

Resumo

As chamas estalavam no meio da rua, o corpo da bruxa e da “escória política” lentamente iam virando cinzas, eram bonecos de pano com a multidão envolta corporificando o ritual. Um jovem negro, entre 15 a 20 anos, vestindo calça preta, um moletom da GAP e de boné com a aba para trás, esticava o braço empunhando um crucifixo de aproximadamente um palmo em direção a estes pedaços chamuscados de corpos. Olhar fixo, boca apertada, a multidão em volta, por mais barulhenta que fosse, parecia não atrapalhar sua concentração. As faces impressas se descolavam como máscaras dos bonecos na fogueira. “Queima essa corja!” Berros e urros de comemoração, sorrisos vitoriosos, megafone, o cheiro de queimado, as baforadas quentes que vinham da fogueira, Pai Nosso e Hino Nacional entoados com o máximo de respeito, inclusive condenando aqueles do outro lado da faixa de segurança, que não congregavam com o mesmo ritual.

Biografia do Autor

  • Akira Guimarães, Universidade de São Paulo

    Graduando em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo e em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. É pesquisador do Núcleo de Etnografia Urbana e Audiovisual na FESPSP.

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Publicado

2018-08-28

Edição

Seção

Dossiê Etnográficas: Judith Butler no Brasil

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