Muitas palavras: a discussão recente sobre juventude nas Ciências Sociais

Autores

  • Alexandre Barbosa Pereira Universidade Federal de São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.11606/s6th4h04

Palavras-chave:

juventude, ciências sociais

Resumo

“A ‘juventude’ é apenas uma palavra”, afirmou Bourdieu (1983), em título provocador de um artigo entrevista sobre a noção de juventude, cujo objetivo era demonstrar como as divisões entre as idades seriam arbitrárias: “somos sempre o jovem ou o velho de alguém” (1983:113). Pois, para este autor, os cortes, em classes de idade ou em gerações, teriam uma variação interna e seriam objetos de manipulação. Portanto, juventude e velhice não seriam dados, mas construções sociais oriundas da luta entre os jovens e os velhos. Desta maneira, prossegue Bourdieu, as relações entre idade biológica e social seriam muito complexas. Pode-se apreender, portanto, de suas conclusões sobre a idéia de juventude, que, para ele, esta noção configuraria um elemento que somente faz sentindo no contraste entre os mais novos e os mais velhos. Ou seja, Bourdieu compreende a categoria juventude sempre dentro de um critério etário e que, segundo ele, não faz sentido isoladamente, pois seria sempre na contraposição que esta se definiria. Entretanto, para alguns autores que têm se dedicado ao estudo da juventude e suas práticas, tal conceito seria mais do que uma palavra e não apenas uma definição que surge da confrontação entre o novo e o velho. Em texto, cujo título – “A juventude é mais que uma palavra” – já apresenta claramente uma resposta à provocação feita por Bourdieu, Mario Margulis e Marcelo Urresti (1996) propõem a superação de considerações sobre a juventude como mera categorização por idade e como portadora de características uniformes. Para eles, “a condição histórico-cultural de juventude não se oferece de igual forma para todos os integrantes da categoria estatística jovem” (MARGULIS, 1994:25; trad. minha). Segundo Margulis e Urresti (1996), a discussão feita por Bourdieu leva a percepção da juventude como “mero signo”, como “uma construção cultural desgarrada de outras condições”. Assim, conforme estes autores, a noção, do modo como ela é definida por Bourdieu, é desvinculada de seus condicionantes históricos e materiais.

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Publicado

2007-07-30

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Pereira, A. B. (2007). Muitas palavras: a discussão recente sobre juventude nas Ciências Sociais. Ponto Urbe, 1, 1-19. https://doi.org/10.11606/s6th4h04