Formas modernas em jardins pitorescos: correlações entre as casas de Bratke e a (sub)urbanização do bairro Paineiras do Morumbi
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2317-2762.v24i44p44-67Palavras-chave:
Arquitetura moderna. Oswaldo Bratke. Habitação unifamiliar. Subúrbios ajardinados.Resumo
O artigo examina o projeto de urbanização idealizado por Oswaldo Bratke para o bairro Paineiras do Morumbi, em São Paulo, ao final dos anos 1940, e os projetos das residências Morumbi (1951) e Oscar Americano (1952), construídas concomitantemente à formação do bairro em terrenos pertencentes à gleba delineada. Sabe-se que o modelo dos bairros-jardins implantados em algumas regiões da cidade a partir da década de 1910, que era inspirado na paisagem pitoresca da cidade-jardim teorizada por Howard, foi uma referência para o padrão urbano proposto por Bratke. Por outro lado, as residências Morumbi e Oscar Americano, exemplares da arquitetura idealizada para o local, são reconhecidas como obras importantes da arquitetura moderna brasileira: a primeira integrou os catálogos de Hitchcock (1955) e Mindlin (1956), enquanto a última foi destacada em periódicos relevantes do período, tais como as revistas Acrópole (1957) e Habitat (1957). Apesar dessas publicações destacarem a sintonia entre a arquitetura das residências e o contexto de inserção, nenhuma delas examina o projeto urbano, tampouco menciona a participação decisiva e ativa de Bratke – que atuava enquanto arquiteto-empresário – no empreendimento imobiliário. Ao analisar sequencialmente os projetos do bairro e das casas, este artigo demonstra, inicialmente, certos princípios de concepção comuns, que buscavam uma relação coerente entre arquitetura e paisagem. Na escala urbana, porém, verifica-se que Bratke não previu intervir sobre o bairro com estratégias sofisticadas de paisagismo, tendo acompanhado estratégias de desenho urbano já difundidas no contexto paulista, que buscavam, essencialmente, converter a paisagem em instrumento de capitalização. De forma similar, argumenta-se que tal atitude parece ter se refletido até mesmo no apelo visual evidente nas duas casas, que incorporavam a paisagem imediata evidenciando, desde a própria arquitetura, o modo de vida tradicional de famílias de elite a que ainda dariam suporte. Partindo dos estudos já realizados acerca da trajetória de Bratke, o trabalho pretende contribuir para uma melhor compreensão desses projetos, concepções relevantes enquanto produção do arquiteto e, até agora, tratadas separadamente pela historiografia.
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